DIPLOMA EM XEQUE
Luiz Martins (*)
Se é para desregulamentar profissões que supostamente não põem em risco a vida humana, por que somente o jornalismo foi objeto de decisão judicial? Que se adote, então, a mesma abertura para todas, a começar, na ordem alfabética, pela advocacia. É o que argumenta o professor Victor Gentilli, editor-acadêmico do Observatório da Imprensa, presidente da Comissão de Especialistas do Ensino de Comunicação do MEC e coordenador do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, ao comentar a queda da exigência de diploma de curso superior reconhecido pelo MEC para obtenção do registro profissional de jornalista.
Da mesma forma como um bom açougueiro não pode ser admitido nas salas de cirurgia apenas pelo notório saber em corte, não se pode oferecer o exercício do jornalismo a qualquer pessoa tendo-se como mérito apenas a autoconfiança que é própria dos autodidatas que ao seu próprio arbítrio se julgam prontos e aptos para exercer um ofício. Esta é a posição do advogado Carlos Chagas, no jornalismo há 47 anos, 23 dos quais lecionando no Departamento de Jornalismo da UnB e francamente a favor da exigência de diploma de nível superior em jornalismo para o respectivo registro profissional.
O jornalismo só tem a ganhar com a participação de pessoas com formações e competências as mais diversas, sobretudo, quando a sua contribuição decorre de especializações, seja de profissionais bem qualificados em outras áreas, seja dos próprios jornalistas que se aprimoram em outros campos do saber. Esta medida da temperança é fornecida por Dad Squarisi, formada em Lingüística e editora de Opinião do Correio Braziliense, onde também assina uma coluna que proporciona aos leitores dicas de português, combinando simplicidade, bom humor e estilo refinado. Até há pouco tempo, o jornal pagava multas por tê-la entre os seus quadros [clique em PRÓXIMO TEXTO, no pé desta página, para encontrar a íntegra de sua apresentação].
O jornalismo é uma profissão complexa, extremamente competitiva e que está sempre se renovando em matéria de domínios técnicos. Dificilmente uma pessoa conseguirá preparar-se bem para um campo de trabalho cada vez mais exigente sem freqüentar um bom curso específico. Esta é a convicção do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Edgard Tavares, graduado em Sociologia e há mais de 30 anos no jornalismo.
Estas foram, em resumo, as posições adotadas pelos quatro convidados para um debate realizado no dia 25 de fevereiro último, no auditório da Faculdade de Comunicação (FAC), como parte das comemorações dos 40 anos de existência tanto da UnB, quanto do referido Sindicato. Não houve réplicas, ficando a polêmica aberta às contribuições do público, de professores e alunos ? graduação e mestrado ?, em geral, insatisfeitos com o rumo das discussões, por não terem chegado a um ponto conclusivo. E, de fato, este é o estado atual da questão. Há bons argumentos para todos os lados e gostos. O debate era sobre o diploma de jornalismo, mas este acabou por ser considerado uma questão de menor importância, como assim manifestou-se o diretor da FAC, professor Murilo Ramos, para quem o essencial é a qualidade do ensino e o papel que nele deve desempenhar uma instituição pública como a UnB, que neste momento começa a implantar um novo currículo de jornalismo, com ênfase nas disciplinas de ciências sociais e não no "tecnicismo" típico do ensino privado. Murilo aproveitou para anunciar a ampliação das vagas oferecidas pela FAC a cada vestibular, que passarão de 92 para 130, ou seja, 40%.
(*) Jornalista desde 1974 e professor da UnB desde 1988, foi o moderador do debate "Jornalismo: o diploma em questão". Sua opinião sobre o assunto é que a profissão deveria ser regulada e regulamentada por conselhos regionais e federais dos jornalistas, a exemplo de como procedem outras categorias profissionais.