Os leitores em segundo lugar

O Caderno 2/Cultura de O Estado de S.Paulo de domingo (20/1/02) lista os livros mais vendidos. Foram consultadas livrarias das redes Laselva (17 lojas), Saraiva (17 lojas também) e Nobel (16 lojas).

Entre os suplementos dos grandes jornais, o Caderno 2 do Estado é o que mais vem dando atenção a autores e livros, espelhando a complexa contribuição de nossos arquipélagos literários. Faz ainda um acompanhamento de lançamentos brasileiros, destacando em suas edições dominicais algumas novidades do exterior. Esta semana, por exemplo, dá de graça uma boa dica para nossos editores: The Economics of Football, de Stephen Dobson e John Goddard, cujos destaques de conteúdo são o papel do dirigente, dos patrocinadores e o salário dos jogadores.

Vamos à lista dos ficcionistas mais vendidos. J. R. R. Tolkien aparece três vezes. Em primeiro lugar com a edição completa de O Senhor dos Anéis, em oitavo e nono com dois volumes da mesma obra ? As Duas Torres e o Retorno do Rei. J. K. Rowling, com Harry Potter, ocupa o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto lugares. Luis Fernando Verissimo, cronista da casa, é o solitário autor nacional da classificação, ocupando o último lugar.

Na lista da Época, J. K. Rowling aparece com as variações de Harry Potter em primeiro, quarto, sexto e sétimo lugares. A edição completa de O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, está em terceiro lugar. As Duas Torres, A Sociedade do Anel e O Retorno do Rei estão em segundo, quinto e oitavo lugares. Nenhum autor brasileiro na lista. Entre as fontes da revista estão as redes Saraiva, Sodiler e Laselva.

J. R. R. Tolkien lidera também a lista da Veja com A Sociedade do Anel. A edição completa de O Senhor dos Anéis está em quarto lugar. A série Harry Potter ocupa o segundo, o terceiro, o quinto e o sétimo lugares. Luis Fernando Verissimo está em último e é outra vez o único brasileiro presente. Baudolino, de Umberto Eco, só aparece na lista de em Veja (sexto lugar); nas outras, não. As fontes de Veja são mais amplas. Além das redes citadas pelas outras, aparece também a Siciliano, que tem livrarias em São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador e Florianópolis. Como há diversas livrarias Siciliano nas cidades elencadas, não sabemos quais delas foram consultadas.

Por que tantas discrepâncias nas classificações? Em resumo, nenhuma das listas é confiável. E há muitos anos o leitor continua sem saber quais são os livros mais vendidos semanalmente no Brasil. Não há nessas pesquisas o rigor empregado na aferição da preferência dos eleitores. Os leitores continuam em segundo lugar. Aliás, se os leitores e autores tivessem atenção semelhante àquela que revistas e jornais dedicam a eleitores e candidatos, nosso país seria certamente outro.

O mercado editorial não tem a oportunidade que as urnas dão aos candidatos que, fora dos primeiros lugares, acabam se elegendo, desmitificando a lista política. Foi o caso das eleições para prefeito na cidade onde moro, no Rio de Janeiro e em várias outras. Em São Carlos, o candidato derrotado aparecia em primeiro lugar, com cerca de vinte pontos à frente do segundo colocado, que venceu as eleições e é o atual prefeito.

Esta crítica propõe que se dê aos leitores, editores e autores um pouco mais de atenção. Não precisa ser tanta como a que é dada a políticos, músicos e esportistas. Ganharão todos, a começar pelos próprios veículos, que verão aumentar seu número de leitores em quantidade e qualidade. Quem lê livros, lê melhor revistas e jornais. E provavelmente escolhe melhor os candidatos. Mas esta é outra história.

Resta uma derradeira ponderação. Será que o leitor dá a importância que livreiros e elaboradores das listas dão aos mais vendidos? Segundo a Unesco, a França é o país que mais cuidados dedica a autores, livros e leitores. Não seria conveniente examinar as razões de os leitores franceses não darem importância a tais classificações de livros mais vendidos?