Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Os motivos da festa

MÍDIA PARAENSE

Lúcio Flávio Pinto (*)

Os dois grupos de comunicação do Pará tiveram motivos para comemorações no início de setembro. A TV Liberal renovou, por mais nove anos, o contrato de retransmissão das imagens da TV Globo. Ressaltou que enquanto o prazo normal dos contratos da emissora de Roberto Marinho é de dois anos, o seu vai durar quatro vezes e meio mais. Seria o reconhecimento da geradora carioca aos méritos da afiliada paraense.

Sem desmentir a afirmativa, cabe, porém, um certo ceticismo. Afinal, qual seria a alternativa da Globo à Liberal, em Belém? De sua parte, e na esfera da própria crise, a emissora central tem motivos para não reclamar da parceira. As normas contratuais relativas a faturamento são observadas e a grade estabelecida no Rio de Janeiro é cumprida ciosamente em Belém. Quanto ao jornalismo, a reportagem de rede tem sido a única a ser preservada pela TV Liberal, mesmo que quase simplesmente para cumprir pautas, geralmente definidas a partir dos miasmas e preconceitos do "sul maravilha" em relação à primitiva jungle amazônica. Se o padrão local está muitos níveis abaixo do que a Vênus Platinada estabeleceu na sede, o problema não é da corporação do doutor Marinho. Nenhuma razão, portanto, para rompimento contratual. Tim-tim.

O Diário do Pará, por sua vez, comemorou apaticamente seus 20 anos de vida. Havia razão para festa, sem dúvida: uma rotativa de um milhão de dólares que permitirá ao jornal imprimir todas as suas páginas em cores, à razão de 36 mil exemplares rodados por hora. Do ponto de vista gráfico, o jornal do ex-senador Jader Barbalho pulou à frente do concorrente mais poderoso, embora ainda claudicando nas instalações industriais para acomodar a máquina. Mas estará amadurecido depois de duas décadas de vida? Estará em condições de dar o salto à frente quanto ao conteúdo editorial?

A pergunta é ainda mais pertinente por ser 0feita em época eleitoral. Invariavelmente o jornal tem perdido, por ocasião dessas temporadas, o capital de credibilidade que, a custo, consegue acumular nos outros períodos. Como agora o patrão está voando mais baixo, o jornal pôde se permitir o luxo de cobrir melhor as eleições do que O Liberal, a folha do grupo Romulo Maiorana, apesar de sua vinculação partidária. Podia continuar assim? Como em época de comemoração é preciso ter espírito festivo, espera-se que sim.

(*) Jornalista em Belém, PA