OI, SEIS ANOS
Graça Lago (*)
Do alto da responsabilidade de observar e registrar os fatos, e mitificada como os olhos da sociedade, a imprensa completa 194 anos de atividade no Brasil passando bem longe do olhar dessa mesma sociedade. Falar da ou sobre a imprensa é tabu na mídia e sempre foi uma cumbuca certa para as mãos dos poucos que nisso se aventuraram. Quer dizer, "sempre" até 1975, quando, pela primeira vez, um jornalista quebrou a redoma e abriu um espaço permanente para a discussão do trabalho da imprensa. Naquele ano, na Folha de S.Paulo, Alberto Dines lançava a coluna semanal Jornal dos Jornais.
Ao abrir essa primeira janela sobre a atividade da mídia, Dines louvou o que havia para ser louvado, mas também evidenciou servilismos, expôs omissões e mostrou ao leitor que toda notícia merece uma dose generosa de reflexão. Dines tirou o leitor da passividade e acrescentou um novo ponto de vista ao debate sobre o Brasil daqueles anos de ditadura, regime político que sempre rima com censura.
Nem é preciso dizer que naquele ambiente infértil o Jornal dos Jornais não teve direito a vida muito longa. Mas ficou a semente, e dela nasceria o Observatório da Imprensa.
Vinte e sete anos separam a primeira coluna Jornal dos Jornais desta edição que comemora o sexto aniversário do Observatório online ? e o quarto do Observatório na TV ?, tempo suficiente para o país passar por profundas transformações. Mas nem tantas assim, já que o programa de TV mantém o seu pioneirismo e continua sendo o único espaço permanente que os meios de comunicação do país reservam para observar, investigar, analisar e debater o trabalho da Imprensa.
Ainda hoje a mídia é assunto tabu para toda a mídia, exceto para o Observatório da Imprensa, janela através da qual a sociedade pode acompanhar e compreender melhor o trabalho daqueles que têm a responsabilidade de atuar como os olhos da cidadania.
(*) Assessora de Comunicação da Rede Brasil