THE WASHINGTON POST
The Washington Post publicou recentemente matéria sobre Ajul, vilarejo de 1.200 pessoas próximo a Ramallah, na Palestina, onde muita gente está desesperada porque os bloqueios impostos pelos israelenses criam constrangimentos à circulação e não permitem chegar ao trabalho, por exemplo. Além da perda de emprego, a restrição de mobilidade afeta sobremaneira a vidas dos habitantes. "As pessoas estão frustradas. Agora metade da população quer fazer atentados suicidas. As pessoas querem morrer", diz um dos moradores de Ajul.
Michael Getler, ombudsman do Post, em coluna de 11/8/02, admite a força dos relatos e do drama vivido por essa gente. Mas, segundo ele, falta perguntar a cada um o que acha de jovens suicidas serem usados em atentados. O que eles acham dos líderes que os conduzem a essa guerra interminável? Nestes dias, é claro, é perigoso ser voz discordante na Palestina, mas deve haver gente que é contra o que está acontecendo e é importante dar voz a elas. Do lado israelense acontece o mesmo. O que eles pensam das 400 mil pessoas que ocupam territórios na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental? Não sabem que ocupação gera resistência? Os israelenses pararam subitamente de ter pensamento próprio?
Durante a Guerra Fria, recorda o Getler, correspondentes americanos no bloco socialista sempre entrevistaram intelectuais, presos políticos e todo tipo de dissidentes. Eram vozes corajosas e solitárias. "Mas o que diziam sobre suas sociedades mostrou-se verdadeiro e teve grande ressonância. Num piscar de olhos histórico, o que parecia imutável por décadas desmoronou e algo de proporções enormes mudou".