Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Os primeiros anos de uma história sem fim

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ESPECIAL 3+5

OI, CINCO ANOS
Os primeiros anos de
uma história sem fim

Mauro Malin (*)

O considerável sucesso do Observatório tem algumas explicações.

Ele se apóia na eliminação de uma camada de opacidade que até então ocultava ? não de caso pensado ? pressupostos, métodos e avaliação de resultados da produção profissional de notícias. O Observatório não promoveu o desvendamento, claro, mas apoiou-se nele.

Essa revelação se faz no Observatório com as próprias técnicas do jornalismo, ou seja, a linguagem na qual foram treinados não só os produtores como também os receptores.

Quando a crítica é feita com essa ferramenta, o leitor cedo ou tarde se dá conta de que, no "Jornal dos Jornais" (copyright Alberto Dines), ele também pode ser o repórter da reportagem. E nunca mais seu olhar será o mesmo.

A internet, outra ruptura, é a segunda explicação do sucesso: põe em xeque, para sempre, o modelo unilateral ("um para muitos") de mídia de massas. Mas esta é uma constatação teoricizante. Na prática, a internet permite a intervenção de qualquer um. A base tecnológica é a mesma, na grande rede, para ler e escrever.

Não por acaso, a seção das cartas de leitores no Observatório é dez vezes maior, na média, do que em jornais ou revistas. E, fenômeno singular, é grande o número de leitores cujos textos migram para outras seções, antes reservadas aos jornalistas e assemelhados.

Sucesso quer dizer o seguinte: que, assim como os leitores, os jornalistas não têm mais o mesmo olhar. A nova consciência do processo de produção e circulação de notícias vai sendo compartilhada e difundida quase imperceptivelmente.

Fechada a equação? De modo nenhum. Porque o jornalismo, fórmula espetacular de sucesso, invadiu áreas próximas, sobretudo no rádio e na televisão: publicidade, programas de auditório, programas de variedade, humorísticos.

A sensação dos jornalistas é inversa: a de que o jornalismo foi invadido. Mas não é fácil chegar a uma conclusão.

Entender os meios

Quando Orson Welles fez a teatralização radiofônica da Guerra dos Mundos, em 1938, provocando histeria e pânico de costa a costa dos Estados Unidos, toda a verossimilhança veio do emprego de técnicas jornalísticas copiadas da narrativa feita pelo repórter que cobrira, um ano antes, o pavoroso incêndio do dirigível Hindenburg, em Nova Jersey. Aqui, o jornalismo é invadido, deturpado. Ou invade, com sua força descritiva, searas alheias?

Seja qual for a resposta, as perguntas são sempre renovadas. O jornalista enfrenta novos desafios a cada dia. E a "tarefa" do leitor crítico (em contraposição ao leitor acrítico) igualmente não pode cessar.

Não só as esferas se desdobram, como os problemas se modificam. Em 1997, narra Steven Johnson em Cultura da Interface, o Wall Street Journal fez parceria com a Microsoft para difundir o browser Explorer. E continuou cobrindo o duelo entre os titãs Explorer e Netscape. Como fazer cobertura "isenta" de uma disputa da qual o veículo participa?

O mesmo se verifica agora, quando alguns veículos não apenas cobrem o episódio da violação do sigilo de uma votação no Senado brasileiro, mas participam ativamente, em atividades jornalísticas, da campanha pela punição dos acusados.

E o que dizer da tomada de posição da revista The Economist contra a eleição de Silvio Berlusconi para primeiro-ministro da Itália? Que é algo compreensível num mundo em que o general Pinochet é detido na Inglaterra a pedido de um juiz espanhol? Ou que o meio (revista) invade diretamente, sem os filtros "normais", a arena política?

Entender os meios de comunicação, apontar falhas, defender um código de conduta: uma história sem fim.

(*) Jornalista, fundador do Observat?rio da Imprensa, diretor de comunica??o da C?mara Americana de Com?rcio de S?o Paulo

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