CARTA AOS FORMANDOS
João Evangelista Rodrigues (*)
Mensagem aos jornalistas da primeira turma de Jornalismo da PUC Minas Arcos, unidade da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em Arcos (MG), em 18/12/03
Era minha intenção fazer um encontro com todos os seus colegas de turma para conversarmos, de maneira franca e amiga, sobre o processo de formação e o futuro profissional de vocês.
Como este encontro não se efetivou e o protocolo do cerimonial de formatura não prevê a palavra do coordenador de curso, e considero necessário respeitar as regras protocolares estabelecidas pela universidade, optei por lhes escrever esta carta. Aliás, escrever cartas é prática salutar, antiga e autêntica de comunicação que está voltando à moda nos dias atuais, conforme revela de maneira muito bonita o filme Central do Brasil, de Walter Salles.
Meu desejo é simples. Dirigir-lhes algumas palavras que, caso aceitas de coração aberto, sirvam-lhes de sol na longa, difícil e promissora jornada que certamente os espera.
Gostaria de lhes dizer que, a partir de agora, vocês estão inaugurando uma nova fase em sua existência, seja como ser humano seja como cidadão e profissional comprometido com a justiça, a verdade dos fatos e a defesa intransigente dos interesses da sociedade brasileira. Esta nova forma de inserção no mundo lhes oferece possibilidades igualmente novas e motivadoras, mas, em contrapartida, exige de sua parte disposição de se integrar a um movimento mais livre e responsável diante de si mesmos, diante do mundo, diante de outros seres humanos.
Este é um processo inesgotável de reinvenção da vida, por meio de um movimento essencial de humanização e conquista da liberdade responsável. É como muito bem ensina o consagrado educador e pedagogo Paulo Freire, com sua sempre concreta e comprometida lucidez quando diz:
"…esse movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de escrevê-lo, ou de reescrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente".
E não deveria ser esta a prática cotidiana do profissional de comunicação social, mais especificamente do jornalista? Profissão em cujo exercício deve prevalecer o coleguismo, o espírito de equipe e a disponibilidade permanente do corpo e da alma frente ao real, próprio de quem deve viver o risco da vida no olho do furacão?
A mais bela notícia
O professor Francisco Karam, também alerta sobre a necessidade constante de os jornalistas manterem um distanciamento e uma reflexão crítica sobre o mundo e de se atualizarem diante das exigências do mercado de trabalho e das novas tecnologias.
Na opinião do professor Karam, o exercício da comunicação é atividade complexa e essencial e, por isso, exige uma formação igualmente complexa e continuada. Uma formação que, além do conhecimento técnico-científico, crítico e reflexivo, permita ao profissional, ao longo de sua vida, cultivar valores essenciais fundados nos princípios humanistas, éticos, estéticos e político-culturais.
Jornalistas que, antes de tudo, sejam cidadãos, críticos e socialmente comprometidos com a transformação do mundo. Jornalistas conscientes, humildes e solidários com seus companheiros, na defesa de conquistas e direitos da categoria.
Jornalistas empenhados na busca cotidiana da qualidade das notícias e na luta pela democratização das informações.
Foram idéias e princípios desta natureza que nortearam a criação e o desenvolvimento do curso que vocês escolheram e ajudaram a construir, incluindo as possibilidades e as dificuldades reais de projetos pioneiros como este.
Agradeço-lhes, de coração, pela estreita e rica convivência e pela participação durante os anos de sua formação, que muito contribuíram para o desenvolvimento do curso e o crescimento pessoal e profissional de toda a comunidade acadêmica. Sigam em frente, de cabeça erguida, e escrevam/reescrevam a mais bela notícia de sua vida, sobre a vida dos homens e do mundo.
(*) Coordenador do Curso de Jornalismo da PUC Minas Arcos