PROFISSÃO JORNALISTA
Marcos Linhares (*)
Nos textos publicados pelo diretor de Redação do Jornal de Brasília, Paulo Pestana, nota-se uma preocupação recorrente num olhar atrás, no necessário revisitar de pegadas, importante para o ser humano e, por causa da falta de tempo e da arrogância que abarrotam as redações, cada vez mais distante dos jornalistas.
À luz do questionamento e dos presumíveis erros, Pestana faz mais que um mea culpa, reza um Pai Nosso, no qual, com matizes de indignação, de medo, de fé, de esperança, de ironia, enfim, com suas críticas acaba, querendo ou não, mostrando o que é ser um jornalista. Um ser em constante certeza e eterna dúvida. Alguém à procura de respostas e que, às vezes, acomodado, acredita que já as possui.
O jornalista é falível. É humano. Persegue a informação e esquece limites. Justifica seus atos em nome do direito de saber de seu público. Custe o que custar, todos devem saber, mesmo que só ele queira saber.
O que é pauta? O que indigna, provoca repulsa, "mexe com as pessoas", as incomoda, as faz reagir, provoca polêmica, as faz criticar, as faz tecer comentários, as mantém ansiosas sobre o desdobramento da descoberta do inusitado. E o que é bom, é notícia? Depende. Depende do status quo dos envolvidos. Num país de desempregados e analfabetos que votam, na falta de ação e tempero em suas vidas a vida de outrem lhes traz pseudo luz-esperança. A novela lhes traz um turbilhão de emoções.
Pauta e apuração
Como competir comercialmente com isso? Sem anúncios, vagas são fechadas, jornais se extinguem, com exceção daqueles veículos que sobrevivem com finalidades políticas e religiosas.
Os jornais acabam se enveredando pelo folhetim. O popular são as manchetes sensacionais e rotineiras de que "fulano matou cicrano e dormiu com a cabeça". Até que ponto se é isento, se vivemos num mercado extremamente consumidor e exigente? Com isso, a vida dos famosos assume a ponta de rentabilidade do mercado de notícias baseadas em fotos de gente abastada, bonita, famosa e ditas "emergentes". Tudo para sair na capa e/ou na coluna social.
Multiplicam-se nas bancas as publicações de ? com o perdão ao deputado que luta contra os estrangeirismos, Aldo Rebello ? infotainement, ou seja, a informação do entretenimento. A televisão entra num maremoto de programas de fofocas, e os talk shows vão se esvaziando de verdadeiras atrações.
Esse é o momento. E os mais sérios ficam à espera de um fato de proporções colossais, para poderem centrar o foco naquela pauta e o discutirem a não mais poder. Salve o bendito terrorismo. Todo mundo é especialista em alguma coisa, nessas horas. O bin Laden sentado em minha poltrona, brincando com pó "Granado", ou seria granada?
Os textos de Pestana vão e devem continuar. Humanos jornalistas precisam mostrar que a "filha da fruta" da pauta tem deadline, mas sem apuração vai azedar, mais cedo do que se espera. Com ou sem lei da mordaça. Durma com uma gastrite dessa e acorde sem dor.
(*) Jornalista, professor e âncora do programa Educa, Brasil, em Brasília