Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Painel do Leitor, Folha de S. Paulo

TV CULTURA EM CRISE

"TV Cultura", copyright Folha de S. Paulo, 2/08/03

"?Mais uma vez, notícia publicada pela Folha sobre a Fundação Padre Anchieta não corresponde à verdade. Agora, a Folha dá, na coluna ?Painel? de 31/7, versão fantasiosa sobre a indicação da economista Julieda Puig Pereira Paes para a superintendência da Fundação Padre Anchieta. No contexto das dificuldades vividas pela Fundação (pequenas diante das exibidas por outras mantenedoras de rádio e TV), conversei por mais de duas horas com o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, sobre o pagamento das verbas já aprovadas para custeio e investimento, bem como sobre pendências e antecipações de verbas trabalhistas. Em nenhum momento foi sequer enunciada a questão da indicação do novo superintendente. Nem poderia ser diferente, seja em razão dos compromissos democráticos do governador, seja porque a superintendência é um cargo técnico de absoluta atribuição do presidente da FPA, que, dentro das suas prerrogativas, conduziu a substituição, fazendo, antes de tudo, convite a dois renomados professores de economia, Jacques Marcovitch e Yoshiaki Nakano, que não puderam aceitá-lo. Diante disso, realizou este presidente consultas sobre nomes com o presidente do conselho, professor Antonio Carlos Caruso Ronca, e com outros de seus membros, como Edson Vaz Musa, presidente da Comissão de Finanças do Conselho, Eduardo Guardia, secretário da Fazenda do Estado, os próprios professores Nakano e Marcovitch e o doutor Manoel Luiz Luciano Vieira, que pedira a sua substituição por razões pessoais. Vários nomes foram sugeridos e, após longo contato com a economista Julieda Puig Pereira Paes, decidi indicá-la para a decisão final do conselho. Não há nenhuma retenção de verba condicionando essa nomeação. Os contingenciamentos havidos atingiram todos os órgãos da administração direta e indireta. As liberações de caixa estão sendo promovidas progressivamente e a verba necessária às obras de recuperação da caixa-d?água já foi paga. Outras virão. Essa é a verdade dos fatos.?

Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta (São Paulo, SP)

?O governo do Estado de São Paulo contesta as afirmações contidas na nota ?Goela abaixo?, publicada no ?Painel?. Segundo a nota, o governador Geraldo Alckmin teria iniciado um ?processo de intervenção branca na TV Cultura? com a indicação da economista Julieda Puig Pereira Paes para a superintendência da Fundação Padre Anchieta. Essa suposição não tem nenhum fundamento, pois a referida indicação partiu do próprio presidente da fundação, Jorge da Cunha Lima, após consultas feitas por ele a respeitados especialistas na área de administração, entre os quais secretários e ex-secretários de Estado. Assim, também não tem um mínimo de fundamento a suposta ameaça de corte de recursos para a fundação caso seu presidente não aceitasse encaminhar essa indicação ao conselho curador da entidade.?

Luiz Salgado Ribeiro, secretário de Comunicação do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Rogério Gentile, editor do ?Painel? – Quatro deputados e três secretários relataram à Folha que Alckmin dissera estar insatisfeito com a gestão financeira da Cultura. A cinco deles deixou claro que imporia mudanças na administração, indicando para a superintendência alguém ligado à sua equipe econômica, sob pena de não liberar repasses (Julieda Paes trabalhou com o secretário da Fazenda de Alckmin no governo FHC). O próprio secretário de Comunicação disse à Folha que o governador considera que ?o problema da TV não é a falta de recursos, mas o gerenciamento?."

 

INTERNET vs. TV

"O exterminador da TV", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 1/8/03

"O poder de convergência de meios pela Internet pode estar se tornando um verdadeiro ?exterminador da TV?. Após alcançar o apogeu nos últimos anos, a TV, da forma que conhecemos, enfrenta sérios problemas. No entanto, é evidente que o futuro ou fracasso do meio vai ser decidido pelo público jovem de hoje. Segundo pesquisas encomendadas por empresas americanas com grande interesse nas tendências dos meios de comunicação (entre elas, a Yahoo) e divulgadas na última semana, os jovens dos EUA entre 13 e 24 anos já passam mais tempo utilizando o computador do que assistindo à TV.

Os números impressionam. Os jovens americanos já passam, em média, cerca de 16,7 horas semanais conectados à Internet. A TV, por outro lado, caiu para um perigoso segundo lugar, com uma média semanal de 13,6 horas. Os dados obtidos pelas pesquisas e as razões para essas mudanças estão sendo analisados e investigados com grande cuidado pelos programadores de conteúdo tanto da TV como da Internet. Aqui no Brasil, infelizmente, ainda não dispomos de pesquisas semelhantes. No máximo, consultamos os duvidosos índices de audiência, fechamos os olhos, copiamos os programas americanos e torcemos muito para que tudo continue do mesmo jeito. Afinal, pode sempre ficar ainda pior. Mas também podemos aprender muito com as tendências da nossa Matrix.

Essas mesmas pesquisas revelam questões importantes sobre os hábitos e o comportamento social dos jovens da primeira geração a utilizar a Internet de forma sistemática e intensiva. Algumas constatações são bem evidentes. Os jovens tendem a passar mais tempo na frente da ?telinha? do computador porque o novo meio oferece variedade e quantidade muito maiores de opções e informações.

Mas também existe uma diferença de comportamento dessa mesma geração. Em meio à inércia criativa e comunicacional do meio televisivo, a combinação do computador e Internet oferece um novo ambiente de total convergência e interatividade. Essa nova geração não tem nenhum problema em conviver com uma multiplicidade de tarefas com a utilização simultânea dos meios de comunicação. Ao contrário do telespectador médio, aquele sujeito preguiçoso que não está disposto a pensar em frente à TV, que somente utiliza o controle remoto para mudar de canais, os jovens pesquisados não demonstram qualquer problema de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Eles falam ao telefone, ouvem música ou assistem vídeos ?pirateados? na rede, participam de um chat, trocam informações ao vivo via ICQ, respondem e-mails e até mesmo sintonizam a MTV pelo computador. Tudo ao mesmo tempo, sem a menor dificuldade e sempre em alta velocidade.

Isso não quer dizer, necessariamente, que os jovens fazem tudo mal feito e que vivem alienados em suas vidas virtuais. Segundo a mesma pesquisa, a nova geração Internet também demonstra sinais positivos em relação ao seu comportamento social. Além de terem acesso a um grande volume e variedade de informações de fontes alternativas sobre quase tudo, eles tendem a ser mais solidários, estão interessados em uma mobilização pela ecologia ou pelas liberdades individuais. Também aceitam muito melhor a diversidade étnica se comparados às gerações anteriores e demonstram que sabem trabalhar muito bem em grupo ao utilizar o poder da rede para desafiar a ordem estabelecida. As grandes passeatas contra a guerra e contra a globalização em diversas capitais mundiais foram resultado de um trabalho eficiente com a utilização maciça dos recursos do computador e da Internet.

Pelo jeito, essa nova geração utiliza o computador para tudo, inclusive para tentar mudar o mundo. Aquele mesmo mundo, com seus erros e acertos, que nós, os mais velhos, deixamos como herança para os jovens de hoje. Muitos da nossa geração continuam insistindo em viver no passado. Eles mistificam um passado maravilhoso que nunca existiu e culpam os jovens por tudo de errado do presente, além de fazerem previsões sempre pessimistas sobre o futuro que não verão. Na verdade, eles não perdoam os mais jovens exatamente por serem… jovens!

Pessoalmente, prefiro pensar como um velho muito talentoso, ousado e criativo que soube como ninguém aproveitar todos os momentos da vida. Já no ocaso de uma longa trajetória, Pablo Picasso constatou com grande sabedoria que ?era preciso muito tempo para se tornar jovem?. A TV precisa fazer o mesmo. Acreditar nas soluções mágicas e puramente comerciais de uma TV digital, ignorando a produção de novos conteúdos e o potencial interativo dos recursos da Internet, pode condenar a TV a se tornar um meio superado com acesso restrito a velhos saudosistas e preguiçosos."