ELEIÇÕES 2002
“Direito de resposta e outros”, copyright Folha de S. Paulo
31/08/02
Meias verdades
?Clóvis Rossi, em sua coluna ?A última virgem? (Opinião, pág. A2, 29/8), diz que a maioria do público está anestesiada diante das aberrações a que estamos assistindo no jogo eleitoral. De fato, as mudanças de atitudes e credos fazem com que os eleitores se sintam, no mínimo, idiotas ou simplesmente desprezados. A mesma repugnância que transpirou aos eleitores de Ciro o seu beija-mão a ACM também acometeu os devotos de Lula com a escolha de seu vice e, agora, com o apoio que recebeu de José Sarney. Enganam-se os partidos e os candidatos que pensam que seus eleitores aceitam ser fiéis a qualquer preço, como meros cachorrinhos. Não é possível acreditar em meias verdades, mesmo que seja para uma possível vitória. Todos merecem respeito.? Leila E. Leitão (São Paulo, SP)
Votos
?Nasci em Teresina (PI) e gostaria de dar um testemunho sobre a reportagem ?Carro-pipa leva água e anúncio de candidato? (Eleições 2002, página Especial 6, 30/8). Meu pai foi político no interior do Estado (um mandato de vice-prefeito e três de vereador), e deixou a vida pública por pressão da minha mãe. Como nas férias e fins de semana acompanhava meu pai em suas viagens a Teresina, pude ter uma idéia de como a política no Piauí é mal praticada. O mau uso do dinheiro público, por incrível que pareça, é visto com vanglória, pois o ?bom político piauiense? é aquele que passa por um cargo público e sai do mandato com uma fazenda cheia de gado, com camionetes, com apartamentos e casas e deixa esse ?legado político? para os filhos. Quando tive noção disso, percebi que meu pai sofria sérios riscos de morte por não concordar com o ?sistema político?. Foi quando minha mãe interveio e forçou a saída do meu pai da vida pública, evitando assim fazer parte da ?Associação das Viúvas de Prefeitos do Piauí?. Parabenizo a Folha pela vigilância ao bem público e solicito que investigue as mazelas da política do Piauí.? Osias Martins Prestes (São Paulo, SP)
Eleições
?Os debates eleitorais se multiplicam, e sinto que, sobre as eleições, devo me manifestar. Dizer, sem pretensões descabidas, o que penso sobre elas. Declarar como gostaríamos de ter entre os candidatos um comunista. Alguém que, aproveitando a oportunidade, lembrasse o que pensamos desse regime de classes responsável pela pobreza e pela discriminação social em que vivemos há tantos anos. E falasse alto contra o FMI e contra a CIA, contra tudo o que ofende o nosso povo e a nossa soberania. É evidente que os debates entre os candidatos vão se concentrar nos problemas internos, sem dúvida importantes para nós -cada um deles a exibir o que fez ou o que pretende fazer como presidente da República. Confesso não ter grande entusiasmo pelo que possa suceder depois das eleições. O passado nos mostra como os governos anteriores se desinteressaram dos assuntos políticos, para nós fundamentais, preocupados em garantir e em louvar esse regime capitalista agora tão degradado. Mas o que nos preocupa mais no momento é saber como o candidato vencedor vai se conduzir neste mundo hostil que o espera, onde o dinheiro a tudo domina, apoiado pelo poder político e militar dos Estados Unidos. Situação que é preciso reconhecer propícia ao inesperado, qualquer coisa fatal que dela surge, mudando a história e a vida dos homens. Tudo isso e os problemas graves que o país enfrenta devem justificar a minha decisão de apoiar Ciro Gomes. Patriota e altivo o bastante para defender o povo brasileiro, tão esquecido, e para reagir contra as ameaças que se repetem de maneira ostensiva. Indiferente à campanha contra ele organizada diariamente em toda parte. Nenhum compromisso político me constrange diante da atitude adotada. Nosso programa de luta política é mais radical e demorado. Não se insere nas propostas que estão sendo discutidas, mas um dia -estamos certos- se tornará realidade. Sou coerente. Não é uma posição nova que assumi. Lembro que, meses atrás, declarei sorrindo, mas como coisa séria, a um jornalista da minha amizade: ?Nosso candidato à Presidência da República seria Brizola ou Stedile. São corajosos e determinados?. Isso explica também a minha escolha nestas eleições.? Oscar Niemeyer (Rio de Janeiro, RJ)
Lula
?A luta de Luiz Inácio Lula da Silva pela democracia é um fato que nem seus adversários colocam em dúvida. A exceção parece ser a Folha. Em título publicado no caderno Eleições 2002 (?Lula elogia governo Médici?, pág. Especial 1, 30/8), o jornal interpreta trecho descontextualizado da entrevista do candidato ao ?Bom Dia Brasil?, o que poderia induzir o leitor a duvidar de uma biografia limpa e comprometida com as liberdades. Lula, com milhares de outros democratas, sempre foi um crítico do regime de exceção implantado pelos militares, mas isso não o impede de conhecer a história econômica do país. Registrar um dado socioeconômico não é o mesmo que elogiar. O que Lula fez foi destacar que até mesmo os militares, que ele tanto combateu, adotaram o planejamento, coisa que nos últimos anos não vem sendo feita. Os leitores e os eleitores merecem títulos mais adequados.? Fábio Kerche, Comitê Nacional Lula Presidente (São Paulo, SP)
30/08/02
?Por que a Folha não oferece uma coluna ou participação periódica na seção ?Tendências/Debates? ao sr. Adilson Laranjeira (assessor de imprensa de Paulo Maluf)? É irritante a frequência com que esse defensor de causas perdidas comparece ao ?Painel do Leitor?, ocupando indevidamente o já reduzido espaço do leitor.? Eduardo de S. Amaral (São Paulo, SP)
29/08/02
Apoio
?Dirijo-me à Folha para solicitar que, em respeito aos princípios éticos que regem o jornal, seja corrigida a nota ?Adaptação veloz?, publicada ontem na coluna ?Painel?. A nota coloca em dúvida o meu apoio ao candidato Ciro Gomes sem que nenhum jornalista dessa empresa tenha procurado a mim -ou à minha assessoria- para conferir a veracidade da informação, princípio fundamental do jornalismo preconizado no próprio ?Manual da Redação?. Meu apoio ao candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, é fruto de uma profunda reflexão e é definitivo. Como bem frisei durante o pronunciamento que fiz ontem no Plenário da Câmara dos Deputados para refutar essa nota, defendo o nome de Ciro Gomes em todos os comícios que faço, mesmo ao lado do governador Jarbas Vasconcelos, do vice-presidente Marco Maciel ou de outros políticos que tenham optado por outros candidatos. É o nome do candidato da Frente Trabalhista que está impresso junto ao meu no material de campanha. Não é a primeira vez que essa coluna publica informações sobre a minha pessoa ou sobre a minha atuação de forma distorcida, o que só posso atribuir a algum preconceito contra mim existente entre aqueles que a editam. Há cerca de seis meses, minha assessoria foi procurada para explicar os motivos que levaram minha filha Shirley Oliveira a desistir de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. O jornalista da Folha foi informado de que se tratava de uma decisão pessoal, uma vez que o marido de minha filha colocava impedimentos àquele projeto. Qual não foi minha surpresa ao ser informado pelo ?Painel? de que ?eu? teria forçado a decisão de minha filha por temer não conseguir votos suficientes para eleger-me. Isso depois de ter chegado pela sétima vez consecutiva à Câmara -em 1998, com 163 mil votos- e de nem sequer necessitar de votos de legenda. Minha expectativa é obter, neste ano, até 200 mil votos.? Inocêncio Oliveira, líder do PFL na Câmara dos Deputados (Brasília, DF)
Critérios
?Lamentamos profundamente o critério jornalístico adotado pela Folha na cobertura das eleições estaduais em São Paulo. Após sabatina realizada com os três principais concorrentes, foram divulgadas pelo jornal duas páginas com o candidato Geraldo Alckmin e duas páginas com o candidato Maluf. E não sabemos por quais motivos foi dada apenas uma página com o nosso candidato Genoino, que, diga-se de passagem, teve uma participação destacada. Segundo enquete realizada pelo UOL, 82% dos internautas mudariam o seu voto após acompanhar a sabatina -creio estar aí um dos motivos. Na verdade, a nossa indignação se deve ao fato de os espaços para a eleição presidencial serem os mesmos independentemente da colocação na pesquisa. Ou seja, Serra tem o ?mesmo? espaço que Lula e Ciro. Pergunto: qual a diferença do terceiro lugar na eleição presidencial para o terceiro colocado na eleição para governador de São Paulo? Espero que não seja uma questão apenas de preferência.? Marco Antonio Silva, coordenador de comunicação da campanha da Coligação São Paulo Quer Mudança (São Paulo, SP)
“Pesquisa mostra equilíbrio dos jornais na eleição”, copyright O Globo, 28/08/02
“As acusações do candidato Anthony Garotinho à cobertura das eleições nos jornais O GLOBO, ?Folha de S. Paulo? e ?Estado de S. Paulo? não têm fundamento. A opinião é do coordenador do projeto ?Eleições Gerais 2002?, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o cientista político Marcus Figueiredo.
A pesquisa indica que os três jornais citados mostram tendência semelhantes. Nos dados mais recentes, referentes ao intervalo entre os dias 7 e 20 de agosto, as três publicações deram mais reportagens sobre Ciro Gomes, que foi seguido por José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva. Garotinho foi o menos citado nos três jornais.
– Não houve uma decisão coletiva dos diretores de redação. A regra básica que está sendo seguida é o padrão clássico de enquadramento dos jornais – afirmou Figueiredo. – Nos Estados Unidos este tipo de padrão é chamado de horse racing, ou corrida de cavalo.
Ou seja, quem está na frente nas pesquisas tende a ter uma atenção maior da mídia. Porém, outros fatores acabam influenciando a cobertura dos jornais. Fatos políticos, como o crescimento repentino de um candidato nas sondagens ou uma troca de acusações entre políticos, provocam um aumento no número de reportagens.
Problemas regionais afetam cobertura jornalística
Situações regionais também afetam o número de reportagens. Garotinho chegou a ser o segundo candidato mais citado em reportagens do GLOBO no período compreendido entre 3 e 16 de abril, quando a governadora Benedita da Silva assumiu o poder e passou a fazer acusações contra o candidato. No mesmo período, ele estava empatado em último lugar em número de reportagens com outros dois adversários na ?Folha de S. Paulo? e era o último isolado no ?Estado de S. Paulo?, dois jornais paulistas cuja cobertura do dia-a-dia do Rio é menos extensa.
O Iuperj, além de medir a quantidade de reportagens publicadas sobre cada um dos candidatos, também analisa o teor do material, qualificando-o como positivo à candidatura, neutro ou negativo.
– Tanto o número de matérias publicadas quanto a distinção entre positivas e negativas, que é a grande preocupação dos candidatos, está seguindo os acontecimentos da campanha. Não estão acontecendo favorecimentos explícitos, nem o contrário – explicou Figueiredo.
O cientista político analisou a cobertura do GLOBO. O momento em que Garotinho teve o maior número de reportagens desfavoráveis foi na pesquisa fechada dia 2 de abril, período que coincidiu com a posse de Benedita:
– Todo o noticiário negativo em relação ao Rio, todo o debate em torno de números, de dívida ou não dívida, produz matérias negativas. É o produto do debate político.
Maior parte das reportagens tem caráter neutro
Os último dados mostram que quase 60% das reportagens que citaram Garotinho no GLOBO são neutras. Esta tendência se repete com os outros três candidatos, cuja maior parte das reportagens tem caráter neutro.
Figueiredo analisa que Ciro teve preponderância de reportagens neutras até julho:
– Com o crescimento de seu nome nas pesquisas, há um decréscimo das reportagens neutras e aumentam as positivas. No período em que começou o confronto, aumentou o número de matérias negativas. Um comportamento nada estranho.
Serra, apesar de estar em terceiro lugar nas pesquisas, merece o destaque que está tendo, segundo Figueiredo:
– Ele é o candidato do presidente. Isso garante seu peso político.
De acordo com o cientista político, se alguém teria motivo para reclamar dos jornais seriam os candidatos do PSTU, José Maria, e do PCO, Rui Costa.
– Se há algum viés (tendência), ela existe em relação ao mínimo de cobertura que deveria se esperar sobre os dois candidatos nanicos.”
“JB é o mais imparcial do Rio”, copyright Jornal do Brasil, 29/08/02
“O Jornal do Brasil se mantém como o diário mais imparcial do Estado do Rio na cobertura das eleições presidenciais deste ano, de acordo com o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Levantamento da entidade mostra, no JB, a grande predominância de reportagens neutras sobre positivas ou negativas a respeito dos principais candidatos na disputa – Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS), José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (PSB).
O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Estado de Minas e O Globo também foram examinados no período entre 20 de fevereiro e 20 de agosto. O critério adotado é dividir as matérias entre positivas, negativas ou neutras, tendo como base títulos, subtítulos e o fato principal da notícia. O trabalho também levou em consideração o número de aparições dos políticos em cada veículo de comunicação.
Na análise, o JB teve índices de matérias neutras muito superior ao de reportagens positivas ou negativas a qualquer candidato. Em alguns momentos, a neutralidade chega a 100%. Nos gráficos das 13 semanas avaliadas, em apenas cinco ocasiões – contando todos os candidatos – o percentual de notícias imparciais é igual ou inferior ao de matérias com conotação positiva ou negativa. Para o cientista político Marcus Figueiredo, professor do Iuperj e coordenador do projeto, a objetividade das notícias – evitando adjetivações – demonstram profissionalismo no exercício do jornalismo.
?A média de reportagens neutras do JB é de cerca de 70%, um número alto?. E ele explica: ?A neutralidade consiste em expor as candidaturas nos seus acontecimentos normais, sem abordagens tendenciosas?.
Neutralidade não significa superficialidade. Uma notícia pode ser densa sem gerar clima positivo ou negativo, diz. Para ele, o público é o maior favorecido por esse tipo de comportamento de um meio de comunicação. ?O eleitor olha e decide, sem ser influenciado por uma visão?.
Outro fator determinante para a alternância de momentos em que a cobertura jornalística favorece ou desfavorece um concorrente ao Palácio do Planalto é o próprio desenrolar da campanha e a realização das pesquisas de intenção de voto. ?As aparições estão atreladas aos resultados das pesquisas?.
Uma rápida subida de um candidato provoca imediata reação na mídia, que centra os holofotes nele, ao menos temporariamente. Foi o caso de Ciro Gomes, por exemplo. Ele começou a ter maior visibilidade nos meios de comunicação justamente a partir do momento em que sua candidatura pela Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) começou a crescer nas pesquisas eleitorais. Entre o dia 26 de junho e 24 de julho, ele experimentou um veloz e estável crescimento, assumiu a segunda colocação nas pesquisas e deixou José Serra em terceiro.
As trocas de acusações entre o tucano e o trabalhista conseguiram manter o governista com destaque, mesmo em queda livre. ?Além disso, Serra é o candidato oficial, do presidente da República, o que o favorece naturalmente por estar mais em evidência?, afirma Figueiredo.”