Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Painel do Leitor – FSP


MÍDIA & CREDIBILIDADE

"Leitura", copyright Folha de São Paulo, 3/09/01

"Causou-me perplexidade o artigo ?A leitura dos jornais nos torna estúpidos?? do professor Rubem Alves (?Tendências/Debates?, pág. A3, 2/9). Sua opinião sobre a seleção do que se lê pareceu-me irreal, pedante e controversa. Há várias maneiras de ler, dependendo do que e para que se lê. Como comparar a leitura de um jornal ou revista de informações com a de uma obra literária, científica ou filosófica? (Maria Helena Coutinho de Oliveira Brasília, DF)

Eu só posso ficar feliz quando vejo um artigo do Rubem Alves. Concordo plenamente com ele. Acrescento o fato de que, infelizmente, o número de brasileiros que lêem verdadeiramente um jornal é muito pequeno. Não temos a cultura da leitura. Basta ver que a mídia vive de sensacionalismos para provocar a atenção de meia dúzia de pessoas. Quando há um acontecimento trágico, espetacular, as bancas de jornais vivem cercadas de curiosos aproveitando o exemplar pendurado no varal. Sou professor universitário e constato que a leitura de jornais e revistas é quase nula entre os meus alunos. (Djalma Cano, Ribeirão Preto, SP)"

 

"As Cartas Ácidas", copyright Carta Maior (www.cartamaior.com.br), 3/09/01

"Rubens Alves argumenta na página de debates da Folha deste domingo que ler jornais está tornando as pessoas estúpidas. Confessa que não entende a maioria das notícias e pergunta: ?se eu não entendo a notícia que leio o que acontecerá com o ‘povão?? Faz tempo que ler jornais se tornou um exercício tedioso tal a falta de espírito crítico e a carga de estupidez. Essa carga é em parte intencional e no seu conjunto tem uma lógica. As Cartas Ácidas se propõem a decifrar os mistérios do noticiário e ajudar as oposições a formularem um discurso alternativo capaz de influir na agenda nacional de debates.

O mistério da redução da dívida externa

Apenas o Estadão, numa nota econômica discreta no sábado ousou estranhar, mesmo assim timidamente, a súbita redução em US$ 30,3 bilhões, da dívida externa brasileira, anunciada numa simples entrevista de final da tarde da quinta-feira, pelo Diretor do Banco Central, Daniel Glezer. O Banco Central alegou que quase metade ( US$ 14,1 bilhões) deve-se à mudança no registro contábil, de empréstimos de empresas multinacionais às suas subsidiárias em investimentos. O resto ( US$ 16,1 bilhões) já tinha sido pago por meio das contas C5, sem que o BC soubesse. ?Intrigante que só agora o BC tenha notado, quando se sabe que a legislação de remessas ao exterior é exigente?, comenta o Estadão. Antoninho Trevisan em entrevista à CBN esta manhã, expressou o seu espanto: O Banco Central não pode admitir uma falha contábil desse tamanho assim casualmente, sem maiores explicações.

Perguntas que os jornalistas não fizeram

Nenhum jornalista presente à entrevista conseguiu formular uma pergunta inteligente sobre essa espantosa redução da dívida externa. E cada jornal escolheu um outro fragmento da entrevista de Glazer. VALOR endossou o raciocínio de Glezer de que não havendo meio de registar pagamentos antecipados da dívida, as empresas recorreram às contas C5, sem atentar que Glezer também havia feito o raciocínio inverso: como as empresas pagaram via contas C5, os pagamentos não foram registrados. Ou uma coisa ou outra. O JB transmitiu a explicação de Glazer de que as empresas preferiam mandar capital como empréstimos porque nessa modalidade pagavam menos impostos, mas de fato eram investimentos, daí a mudança agora do registro. Mas o JB esqueceu de tirar a conclusão óbvia: como ficam os impostos que graças a esse truque não foram pagos durante todo esse tempo?

Outras perguntas que nenhum jornal fez: 1) Se a dívida passou a ser registrada como investimento, isso significa que os investimentos ficaram US$ 14,1 bilhões maiores? Ou pareciam tão grandes nos últimos anos , mas vieram na verdade como empréstimos? Se saem de uma conta tem que entrar em outra. E por que as empresas teriam remetido dólares pelas contas C5 , criada para ?não residentes?, comprando a moeda no mercado flutuante a taxas bem maiores do que as do mercado comercial? E como é possível usar uma conta ?para não residentes?, para fazer pagamentos típicos de ?residentes’, como são os da dívida externa? A história da súbita redução da dívida está muito mal contada. As oposições deveriam montar em cima do Glazer e do Malan .

A construção de Roseana Sarney

A tentativa dos empresariais de construir um anti- Lula é a uma das lógicas subjacentes ao noticiário atual. JB dedica a primeira página de domingo à pesquisa Vox Populi que coloca Roseana Sarney perto de Ciro Gomes. A notícia é fraca, uma confirmação da pesquisa CNT/Sensus com resultados parecidos, que o mesmo JB deu em páginas inteiras na quarta e quinta-feira anteriores. ISTOÉ dá duas páginas à bela governadora do Maranhão. Se com apenas alguns dias de super- exposição de Roseana no programa político do PFL foi possível conseguir resultados tão significativos , comprova-se o poder dos meios de comunicação de ?construir? candidatos. O exercício ?Roseana? deve estimular as entidades empresariais na busca do anti- Lula.

Como enganar de novo o eleitorado

A busca está sendo feita de modo científico. Seus lances aparecem fragmentados na cobertura. A pesquisa CNT/Sensus mostra que 66,1% do eleitorado gostaria de ver nomes novos na disputa eleitoral. A Vox Populi mostra que a maioria esmagadora do eleitorado quer mudanças completas nos programas de governo, mesmo mantendo algumas das atuais prioridades. Na coluna de Sonia Racy, Ney Figueiredo diz que o candidato da esquerda está definido e é Lula. O laboratório de dominação do empresariado quer produzir um clone eleitoral: o rosto novo, com um discurso de mudança, para que tudo mude o menos possível .Mas não vai ser fácil enganar o eleitorado pela quarta vez. Como lembrou ISTOÉ, Roseana pegou bem porque na propaganda do PFL não aparece ninguém lembrando que o Maranhão, é o campeão nacional da pobreza.

Retrato do Brasil

Reportagem de Carta Capital mostra que o país está em guerra civil: 40 mil pessoas foram assassinadas no Brasil em um ano apenas. Reportagem do JB de hoje revela que quase metade das mulheres muito pobres foram esterilizadas.

Não deixe de ler

A demolidora crítica de Márcio Moreira Alves à equipe econômica chefiada por Malan, na sua coluna no O GLOBO deste Domingo. Marcito argumenta que política econômica se mede pelos resultados. E os resultados foram catastróficos para o país, em especial o crescimento exponencial da dívida pública. Tudo em nome de uma estabilidade monetária que também não durou."

    
    
                     

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