RUPERT MURDOCH
Leneide Duarte-Plon (*), de Paris
"Não se pode voltar atrás. Bush age de acordo com a moral, corretamente, e vai continuar até o fim." (R.M.)
O autor dessa frase não é, como pode parecer à primeira vista, um membro do governo americano. É um barão da imprensa ? dono de jornais e redes de televisão na Austrália, na Inglaterra e nos Estados Unidos ? que garante ao presidente americano um suporte indispensável em três países de língua inglesa.
Ele se chama Rupert Murdoch e através da rede de TV de informação
24 horas Fox News, do diário New York Post, entre
outros veículos, condiciona a opinião pública
americana a favor da guerra contra Saddam Hussein, apresentado como
uma espécie de mal absoluto. A informação nos
jornais e emissoras de Murdoch é tratada de acordo com o
raciocínio maniqueísta e redutor do ocupante da Casa
Branca, para o qual quem está a seu lado está com
o Bem e quem não está, com o Mal.
Do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, Murdoch é dono, entre outros, do jornal Times e do tablóide The Sun, além da rede de TV Sky News, de informação contínua. Todo o império desse "cidadão Kane" moderno está a serviço da lógica da guerra contra o Iraque. Por isso, os franceses não têm sido poupados dos ataques da imprensa Murdoch.
No sábado (15/2), o New York Post estampou em sua capa uma foto da reunião do Conselho de Segurança da ONU, ocorrida na sexta-feira, 14, na qual o ministro das Relações Exteriores da França Dominique de Villepin e seu colega alemão tiveram suas cabeças substituídas por cabeças de doninhas [segundo o Aurélio, animal mamífero carnívoro da família dos mustelídeos (Putorius vulgaris), da Europa; tem o aspecto do furão brasileiro] . Na semana anterior, o mesmo jornal estampara na primeira página uma foto de um cemitério na Normandia cheio de cruzes de sepulturas de soldados americanos mortos no desembarque aliado [junho de 1944] para libertar a França. A manchete berrava: "Eles morreram pela França e a França se esqueceu".
Outra manchete desse mesmo jornal dizia que a França agradecia a seus aliados da Segunda Guerra por um ato de traição. No The Sun, que tem a extraordinária tiragem de 3,5 milhões de exemplares/dia, não foi poupado o presidente francês Jacques Chirac ? que ousou assumir uma posição discordante dos Estados Unidos e liderar uma política de defesa do papel da ONU e dos seus inspetores no Iraque. O jornal criticou sua ação como "lamentável tentativa de desempenhar um papel de líder mundial".
O fato inegável é que os jornais e as redes de TV de Murdoch agem como verdadeiras máquinas de propaganda da administração Bush e de seu aliado incondicional, Tony Blair. Mas apesar de apoiar atualmente a política do primeiro-ministro britânico, Murdoch não é um trabalhista histórico. Longe disso. Ele apoiou Margareth Thatcher antes e, por isso, é acusado de ter uma atração indisfarçável por quem está no poder.
(*) Jornalista