Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para pensar o jornalismo do século 21

DIGITAL & MULTIMÍDIA

Maria Carolina Nomura, de Huesca, Espanha (*)

A inexistência de barreiras geográficas da internet, a liberdade de expressão que o meio propicia e a qualidade do jornalismo moderno foram alguns dos principais temas debatidos no V Congreso Nacional de Periodismo Digital, ocorrido nos dias 15 e 16 de janeiro na cidade de Huesca, província de Aragón, no nordeste da Espanha.

Jesus Ceberio, diretor do diário El País, um dos principais jornais europeus, disse que com a internet qualquer sujeito de uma sociedade democrática pode se converter em emissor de informação que muitas vezes pode ser anônima. Essa possibilidade de omissão da autoria abre as portas para a mais profunda liberdade de expressão. No entanto, com a proliferação de sites dos últimos oito anos, será cada vez mais selvagem o processo de seleção, no qual sobrevierão aqueles que sejam capazes de conseguir interessar o público e ganhar sua confiança.

Para Ceberio, independência econômica, rigor informativo, informação própria e audácia são os requisitos universais do bom jornalismo. Independência econômica que está cada vez mais distante, segundo a exposição de Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas, em Austin, e único jornalista brasileiro palestrante do congresso.

Rosental afirma que há uma ameaça à qualidade do jornalismo por causa da crescente competência das empresas não jornalísticas que também trabalham com a informação. Para ele, o profissional deve ter a visão de que o jornalismo é uma empresa e que alguém no fim terá que pagar a conta pela informação.

El País cobra oitenta euros anuais (algo como 270 reais) para que seus leitores tenham acesso ao conteúdo produzido pela Redação. Para os leitores do New York Times, o acesso às notícias é gratuito mas o internauta deve deixar todos os seus dados pessoais ? informações que podem ser vendidas a poderosos banco de dados. De acordo com Rosental, vivemos hoje uma era de incertezas: ainda estamos em busca de uma linguagem apropriada e de leis que regulem delitos na internet.

Sem jornalistas?

Um tema que despertou muita reflexão do congresso foi se o jornalismo na web pode existir sem jornalistas. Para Victor Ruiz, criador do site de blogs Blogalia <www.blogalia.com>, o jornalismo digital já existe sem jornalistas. Os blogs, ou bitácoras como são chamados na Espanha, são meios de expressão cujas finalidades podem ser opinar, informar, divertir ou socializar. Qualquer pessoa pode ter um blog, produzir e emitir conteúdo com informações específicas sobre determinado assunto e assim cumprir a função principal do jornalista, que é a de informar.

Para a jornalista Patricia Fernandes de Lis, da editoria de Negócios do El País, não existe, não existiu e nem nunca vai existir jornalismo sem jornalista em nenhum meio de comunicação porque o profissional não é aquele que somente conta um fato. O verdadeiro jornalista é aquele que, para transmitir uma informação, verifica antes sua veracidade, vai até o local do acontecimento e analisa sua relevância. Ou seja, o processo de informar é muito mais do que simplesmente contar uma história que pode não passar de boato ou fofoca.

Outros temas abordados no congresso foram a tecnologia no trabalho dos correspondentes internacionais e enviados especiais, a qualidade do jornalismo atual, os modelos de pagamento no jornalismo digital, o jornalismo digital em universidades espanholas, a cobertura de futebol na rede, o jornalismo para telefones celulares e as leis de internet que têm que mudar.

Mais sobre as conclusões do V Congresso de Jornalismo Digital em <http://www.congresoperiodismo.com/index.asp>