Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Parcialidade em questão

ISRAEL-PALESTINA

HonestReporting.com, sítio que cobra da mídia uma "cobertura justa" de Israel, critica a CNN em matéria de 12/4 por "insistir em dar tempo igual aos dois lados do conflito israelense-palestino, mesmo quando um apresenta fatos documentados e outro fabrica mentiras". Ao dar espaço a porta-vozes da Autoridade Palestina, a rede transmite falsidades, como a de que não haveria homens armados se refugiando na Igreja da Natividade ? apenas cristãos locais temendo massacre israelense ? e que documentos encontrados no QG de Yasser Arafat ligando-o a ataques de homens-bomba teriam sido forjados. A página rebate tais versões remetendo a depoimentos, reportagens da MSNBC.com e relatórios das Forças Armadas Israelenses.

Washington Post

O sítio também comenta a maneira como Michael Getler, ombudsman do Washington Post, lidou com críticas de leitores de que o jornal seria anti-Israel. Em coluna de 7/4, Getler escreve que a reportagem do jornal sobre homens-bomba não foi imparcial.

"O Post fez um bom trabalho cobrindo estes ataques, mas fez menos ao capturar o impacto destes sobre a sociedade israelense (…). Leitores que dizem ver uma inclinação pró-palestina na reportagem alegam que o jornal não deu a devida ênfase à acusação militar israelense de que palestinos usaram uma ambulância para transportar explosivos, motivo pelo qual as forças armadas as estão parando. Outra matéria de Williams [correspondente Daniel Williams], de Ramallah, cita o funcionário da Cruz Vermelha Ola Skuterud levantando dúvidas sobre esta afirmação… é difícil saber a validade destas declarações…"

HonestReporting afirma que enviou artigos do Jerusalem Post ao ombudsman como prova de que a acusação procede (a matéria, aliás, cita como fonte a Cruz Vermelha). "Se Getler e os editores do Post realmente querem providenciar reportagem imparcial e equilibrada, devem começar por analisar relatórios vindos da região."

New York Times

Quantas vidas palestinas equivalem a uma vida israelense, de acordo com os editores do New York Times? A pergunta é da FAIR, que realizou estudo sobre a primeira página do jornal (12/4) e descobriu que mortes israelenses, embora em menor número, ganham manchetes, enquanto baixas palestinas (mais de 100 até agora, segundo o próprio diário) não recebem o mesmo tratamento ? ganham, no máximo, títulos "anti-sépticos" ("Israelenses aumentam invasão enquanto árabes protestam"), nada comparado ao título de 5 de abril, que usa a palavra "carnificina" referindo-se à explosão do homem-bomba que matou duas pessoas.

O jornal fez uma cobertura valiosa do conflito nas páginas internas, reconhece a FAIR, mas "manchetes são indicadores claros do que os editores consideram ser os eventos mais importantes do dia. No caso do poderoso e prestigiado New York Times, estes títulos podem influenciar notícias em todo o mundo. O Times não deveria usar sua primeira página para enviar a mensagem de que algumas vidas valem mais do que outras".

Quando alguém usa explosivos na roupa e os detona em local público matando a si mesmo e a outros, é suicida ou homicida?

No Brasil, a imprensa os chama de homens-bomba. Para a Casa Branca e a Fox News Channel, trata-se de um "homicida-bomba". O presidente Bush começou a usar o termo nestes últimos dias, e a Fox concordou com a mudança. "Se você explode uma bomba e se mata, você é um suicida. Mas se mata outros é um assassino", defende o produtor Dennis Murray. Até então, o canal usava a descrição "suicida-bomba", mas havia um certo desconforto com a imprecisão do termo, e os executivos sentiam que "suicídio" de alguma forma glorificava a pessoa que cometeu o ato.

Mas CNN, MSNBC, ABC, CBS, NBC e Associated Press preferem manter o termo. Para a porta-voz da CNN, Christa Robinson, "homicida-bomba" faz parecer que ele apenas matou outros, e não também a si mesmo. "Achamos que suicida é muito mais descritivo e preciso." Informações de Peter Johnson [USA Today, 15/4/02].

Oriana Fallaci, uma das mais conhecidas jornalistas italianas, gerou polêmica com artigo sobre o conflito entre israelenses e palestinos publicado no Corriere Della Sera [12/04/02]. No texto, ela condena de maneira enfática e por vezes agressiva a postura de boa parte da comunidade internacional de apoiar o lado de Yasser Arafat. Usando repetidamente a frase "eu acho vergonhoso", sobraram acusações para diversos personagens e grupos políticos: a Igreja Católica, o papa, a esquerda italiana, os europeus, a União Européia, entre outros.

"Acho vergonhoso que a Igreja permita que um bispo do Vaticano participe de protesto em Roma e use um megafone para agradecer em nome de Deus aos kamikazes que massacram judeus", diz Oriana, em trecho do artigo. Em outra parte, chama Arafat de "desgraçado", afirmando que ele não consegue sequer articular uma frase.

Por diversas vezes o Holocausto é lembrado. A jornalista opina que os judeus têm direito de se defender de nova ameaça de extermínio. Segundo a AFP [12/4/02], as opiniões se dividiram. Para Alfonso Pecoraro Scanio, líder do Partido Verde italiano, o texto "não ajuda o diálogo e não diminui o risco do anti-semitismo". Franco Giordano, líder do Partido Comunista, também não tem visão favorável: "Suas palavras são vergonhosas porque alimentam ódio entre religiões." Manifestações positivas vieram do líder da comunidade judaica, Amos Luzzato, e do ministro da Defesa, Antonio Martino: "Acredito que ela tenha seus motivos."