MÍDIA ESPORTIVA
Antonio Carlos Teixeira (*)
Quando eu, ingenuamente, achava que o futebol brasileiro começava a encontrar seu caminho, eis que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, põe tudo a perder. Ao escolher Carlos Alberto Parreira para treinar e Zagallo para coordenar a Seleção Brasileira, o dirigente optou, indiretamente, por um esquema de jogo que nada tem a ver com o nosso futebol. Poucos se lembram, mas Parreira e Zagallo foram duramente criticados na Copa dos Estados Unidos, em 1994. Trouxemos o caneco, mas o futebol apresentado pela equipe de Parreira não nos agradou. À época, o treinador não conseguiu digerir as duras críticas. E declarou que “nunca mais” comandaria a Seleção.
Mas não foi apenas o treinador que mudou de opinião. Seus críticos também. Os que hoje elogiam a escolha da atual comissão técnica foram os que mais atiraram contra o esquema de Parreira em 94. O ex-meia atacante Tostão, por exemplo, escreveu na Folha de S. Paulo que “Parreira é o único que pode dar certo no comando da Seleção”, justo ele que foi um dos críticos mais ácidos do esquema defensivo usado na conquista do quarto título mundial. Na Copa dos Estados Unidos, Tostão “malhou” legal a dupla Parreira-Zagallo. E com razão.
O jornalista Juca Kfouri, que apresenta mesa-redonda aos domingos na Rede TV!, só se convenceu de que Parreira era bom para o Brasil depois que o treinador ganhou dois títulos pelo “seu” Corinthians. Como todos sabem, Juca é torcedor declarado do time paulista, o que pode explicar a mudança repentina de opinião do excelente jornalista. Outros críticos mudaram de posição porque, pasmem, “viram algo de inédito nessas conquistas”. Pudera! Parreira nunca ganhara nada como treinador de times brasileiros, pós-título de 94. Zagallo idem. O ex-jogador e comentarista da Rede Globo Wálter Casagrande, no entanto, foi um dos poucos que divergiram da escolha. “Casão” acha que a era Parreira como técnico do escrete brasileiro já terminou. O cargo de coordenador seria suficiente.
Pesadelos a caminho
É bom lembrar a parte da “crônica esportiva” que, antes de treinar o Corinthians, Parreira colecionou fracassos no Internacional e no Santos, entre outras equipes, de onde saiu escorraçado pelos torcedores. Zagallo foi igualmente mandado embora de Flamengo e Portuguesa. Pelo Corinthians, Parreira ganhou dois títulos em 2002, mas nenhum deles repercutiu tanto como a conquista do Brasileiro pelo Santos de Leão. Como explicar isso, então? Ora, a diferença está na forma de jogar das duas equipes. O time de Parreira é tão pragmático, tão enrolador com a bola nos pés que faz qualquer torcedor dormir, nas arquibancadas ou em casa. A equipe de Leão encantou o Brasil e o mundo justamente por fazer o contrário. Destoou dos demais times por jogar pra frente, bonito, sempre em busca do gol. Parreira nunca conseguiu dar brilho às suas equipes.
De qual equipe o brasileiro irá se lembrar daqui a 20, 30, 40 anos? Da que perdeu a Copa de 82 ou da que conquistou o quarto título do futebol brasileiro em 94? Qual dupla será mais lembrada: Deivid e Gil, do Corinthians, ou Diego e Robinho, do Santos? Eu, pelo menos, sei de memória a escalação da Seleção de 82, ao passo que não consigo me lembrar dos 11 que entraram em campo contra a Itália, na final de 94. É, portanto, lamentável que num futebol até certo ponto rico de bons talentos em volta dos gramados, tenhamos que suportar a repetição da dupla Parreira-Zagallo, oito anos depois.
Melhor do que Parreira há pelo menos outros cinco treinadores no Brasil. Sem muito esforço, cito Luxemburgo, Leão, Osvaldo Oliveira, Tite e Ricardo Gomes. Anotem aí, caríssimos observadores: nas listas dos futuros convocados de Parreira teremos de agüentar Rogério, Fábio Luciano, Kléber e Vampeta, todos do Corinthians, além do goleiro Dida. Pior: o treinador da Seleção já deu a entender que não gosta do futebol do meia Diego, do Santos. A mim, pelo menos, não é surpresa. Reviver com Parreira a dupla Diego e Robinho, com a camisa verde-amarela, nem pensar!
O ex-técnico do Corinthians adora brucutus no meio-de-campo. Para finalizar, tentarei escalar o futuro time brasileiro, depois que Marcos, Cafu, Roberto Carlos, Edmilson, Rivaldo e cia. deixarem a Seleção. Vamos a ele: Dida, Rogério, Fábio Luciano, Juan e Kléber; Vampeta, Zé Elias, Ricardinho e Kaká; Ronaldo Fenômeno e Gil. Quem não sonha com uma equipe formada por Marcos, Cafu, Lúcio, Edmilson e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Renato, Ronaldinho Gaúcho (Diego) e Rivaldo (Kaká); Ronaldinho e Robinho. Com Parreira, tudo isso não passará de sonho. Não se surpreendam, caros observadores: apesar da riqueza de craques que o país produz, muitos pesadelos nos esperam a caminho do hexa.
(*) Jornalista em Brasília