Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Paul Krugman

E-NOTÍCIAS

AOL / TIME WARNER

"Fusões Ignóbeis?", copyright O Globo, 15/01/01

"Foi uma grande semana em termos de consolidações de empresas. Depois de impor algumas restrições adicionais, a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC) acendeu luz verde para a fusão da AOL com a Time Warner. Enquanto isso, a American Airlines anunciou um acordo para assumir o controle da enferma TWA, negócio que deixaria a American e a United com a metade do mercado interno americano e provavelmente induziria a novas fusões entre as empresas de aviação remanescentes.

Será que essas transações aumentarão o lucro consolidado das empresas? Talvez sim. Será que favorecerão os consumidores? Talvez não. E há uma razão para esse contraste. A fusão AOL-Time Warner se realizará com a observância de normas destinadas a assegurar que o negócio não será prejudicial aos consumidores. Mas não está claro se a tomada de controle da TWA pela American estará sujeita a limitações semelhantes. E, em termos mais genéricos, tampouco é certo que o governo federal dos Estados Unidos continuará a policiar as fusões e aquisições a fim de garantir que tais operações sejam positivas, e não negativas, para a economia como um todo.

De um modo geral, sob a perspectiva de gestão de negócios, há duas justificativas para as fusões. A primeira, muito alardeada pelos líderes empresariais, é a sinergia, a idéia de que o novo todo é maior do que a soma das partes, permitindo que os lucros aumentem sem, contudo, lesar os consumidores. A outra justificativa, pouco comentada em empresas bem-educadas, é o poder de mercado – a capacidade de reduzir as opções dos consumidores e de cobrar preços mais altos.

O principal fato sobre sinergia é que se trata de algo enganoso. É muito difícil saber de antemão se a sinergia é bastante forte para justificar a fusão.

Caso típico é o casamento problemático entre a Daimler e a Chrysler, onde o poder de mercado mal entrou em consideração, uma vez que os produtos das empresas pouco concorrem entre si. Quantos compradores hesitariam entre um Mercedes e uma minivan? As economias resultantes do compartilhamento de recursos de projeto e produção, que deveriam fazer com que o acordo valesse a pena, ainda não vieram à tona, ao passo que os custos – o costumeiro choque entre culturas organizacionais, ampliado pelas disparidades entre culturas nacionais – já afloraram com muita nitidez.

Ao contrário, as fusões baseadas em poder de mercado não dependem de números nebulosos. Nada havia de ilusório nos benefícios auferidos por John D. Rockefeller depois que a sua Standard Oil Trust passou a dominar o setor petrolífero americano.

Assim, como classificar as fusões da semana passada? Toda a retórica do acordo AOL-Time Warner tem sido sobre sinergia; mas os grupos de consumidores receiam que se trate na verdade de forçar os clientes de cabos a usar a AOL para acesso à Internet e constranger os assinantes da AOL a fazer o download do conteúdo da Time Warner.

Felizmente, as agências reguladoras adotaram muitas medidas para limitar o poder de mercado do novo gigante dos meios de comunicação. A nova empresa consolidada não poderá discriminar em favor de seu próprio conteúdo; ela será obrigada a permitir que outros provedores de serviços de Internet ofereçam acesso de alta velocidade por meio dos cabos da Time Warner; e as futuras gerações do popular sistema de mensagem instantânea da AOL deverão tornar-se compatíveis com os sistemas dos rivais. Essas limitações significam que os lucros futuros da AOL-Time Warner dependerão da capacidade da empresa de ser capaz de assegurar as sinergias prometidas. Ser grande não será sua própria recompensa.

Em contraste, na forma hoje proposta, o acordo American-TWA parece ter pouco a ver com sinergia e muito a ver com poder de mercado. A transação realmente seria parte de um processo de consolidação de todo o setor, que também possibilitaria que a United absorvesse a US Airways, conferindo tanto à United como à American mais poder para aumentar preços sem o receio de que os consumidores optem por outro concorrente. Nessas condições, o acordo deve ser impedido? Infelizmente, não é assim tão simples: a TWA está à beira do colapso; portanto, algum tipo de tomada de controle é inevitável. Mas espera-se que as agências reguladoras analisem a transação com muito cuidado e tentem orientar a reestruturação em curso no setor de transporte aéreo de modo a preservar, pelo menos, um certo grau de efetiva concorrência.

A questão é que o que é bom para os negócios às vezes é bom para os Estados Unidos, mas nem sempre. Se determinada fusão se baseia em sinergia, é importante que a sinergia de fato se concretize – e essa é uma avaliação que deve ficar por conta dos próprios empresários. No entanto, se o propósito de uma fusão é ampliar o poder de mercado, é necessário vetá-la ou submetê-la a limitações que a convertam em algo mais benigno. O preço das boas fusões é a eterna vigilância.

Indaga-se, contudo, se tal vigilância será preservada. Ambos os republicanos na FCC se opuseram a que se impusessem quaisquer restrições à AOL-Time Warner. Sinal de coisas futuras?"

"AOL Time Warner vence obstáculo à fusão", copyright O Estado de S. Paulo, 13/01/01

"Um ano e um dia após o anúncio de sua fusão com a Time Warner, a America Online (AOL) conseguiu finalmente concretizar o negócio, avaliado em US$ 124 bilhões. Na quinta-feira, caiu o último obstáculo para o casamento dos dois grupos: a Federal Communications Comission (FCC) autorizou a criação da AOL Time Warner.

Nesse intervalo de um ano, a união da maior empresa de Internet do mundo com o poderoso império de mídia, que detém o mais antigo estúdio de Hollywood e a segunda maior rede de TV a cabo dos Estados Unidos, ficou suspensa, enquanto era analisada pelos órgãos reguladores daquele país.

A fusão foi aprovada pela FCC depois que a AOL atendeu as exigências da agência reguladoras, entre as quais a de permitir que o popular AOL Mensagem Instantânea, um serviços de transmissão instantânea de mensagens, trocasse mensagens com serviços mantidos por seus concorrentes. A abertura das fronteiras, no entanto, só ocorrerá quando a AOL passar a oferecer serviços avançados de troca de mensagens.

Esse acordo é uma vitória parcial das sua rivais, incluindo a Microsoft e a Excite AtHome, que queriam o fim imediato da impenetrabilidade dos serviços da AOL. ‘Essas condições foram criadas para proteger a naturaza da competição aberta na Internet. Elas protegem os consumidores e evitam o excesso de regulamentação por meio da abertura controlada do mercado’, disse o presidente da FCC, William Kennard.

Os investidores dizem que o início das operações conjuntas das companhias ocorre em um momento difícil , por causa do esfriamento da economia dos EUA.

Desde que a fusão foi anunciada, há um ano, a transação perdeu mais de um terço de seu valor. A AOL Time Warner quer registrar vendas de US$ 40 bilhões e fluxo de caixa de US$ 11 bilhões no primeiro ano de operações. Os números de fluxo de caixa prevêem US$ 1 bilhão em redução de custos e aumento de faturamento. No mês passado, os resultados da Time Warner no quarto trimestre ficaram abaixo do esperado."

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