CESTA SEÇÃO
Sidney Borges (*)
Ao vasculhar um sebo, encontrei um livro sobre o jornalista Paulo Francis. Comprei-o, estava quase de graça, sempre tive interesse nessa figura única de nossa imprensa, desde os tempos da Revista do Diners. Essa revista durou pouco, foi a precursora do Pasquim. Era moderna, diferente de tudo o que havia. Eu a comprava numa banca da Praça Clóvis [São Paulo], lá pelos idos dos anos 67, 68, e foi nela que tive o primeiro contato com o texto de Paulo Francis. Continuei lendo Francis no Pasquim, depois na Folha e finalmente no Estadão, até sua morte.
Ao ler o nome de Paulo Francis na capa, comprei o livro, sem saber do que se tratava. Em casa, ao folheá-lo, tomei conhecimento, do autor e do conteúdo. A obra foi escrita por Fernando Jorge, escritor e jornalista, e sua finalidade era desmascarar Paulo Francis, acusado de ser o maior plagiador de todos os tempos. Ao iniciar a leitura percebi ter sido o livro escrito em tom raivoso, ameaçador, acusatório. Basicamente aponta plágios, incorreções históricas, erros gramaticais, racismo e outras falhas nos textos de Paulo Francis.
O texto agressivo e as acusações repetitivas me causaram antipatia, há um marcante exagero, desagradável, incomodativo. Em certos momentos o autor se aventurou a compor versos e a fazer literatura, e, embora tenha um português impecável, como poeta é sofrível, além de abusar das expressões chulas, sem propósito, inadequadas, irritantes. Em outros momentos, de rara infelicidade, pede com insistência aos donos dos jornais que demitam Paulo Francis, privando-o do salário, tornando-o um morto civil.
No lixo
Não tenho procuração para defender ninguém. Muito menos Paulo Francis. Gostava de ler sua coluna, admirava seu estilo como tantos outros, num universo amplo de leitores. Talvez, em seu tempo, ele tenha sido o colunista mais lido do Brasil. Acredito que a maioria lia não dando à coluna a importância que o autor-acusador pretende, e aí reside o equívoco da obra. Paulo Francis era um ficcionista, um bom ficcionista quando escrevia a coluna, nem tanto como romancista.
Esta é minha opinião. Há quem discorde, o que é bom. Emitia juízos sobre fatos do dia-a-dia, expressando às vezes o inconsciente coletivo, em outras oportunidades causava estranheza e mal-estar. Levantava polêmicas sem se preocupar com as conseqüências, era politicamente incorreto. Quando falava de arquitetura ou de ciências cometia enormes disparates, sobre arte em geral nem é bom falar, quanta bobagem li sobre a Bauhaus, por exemplo. Muitas vezes eu discordava, embora soubesse ser a coluna peça autoral, sem maiores compromissos. Quando queria correção, procurava nos lugares certos, mas não por isso deixava de ler a coluna. O texto era instigante, convidava à reflexão.
O único senão que faço ao estilo de Paulo Francis eram os ataques pessoais, desmedidos e violentos para o meu gosto, injustificados. Apesar dos defeitos, as virtudes eram compensatórias. Ao morrer Paulo Francis deixou uma lacuna até hoje não preenchida. Seu talento era inegável. Por isso me arrependi de ter comprado o livro, o mais caro da minha vida. Custou um real! Muito dinheiro para pouco conteúdo. Vai para o lixo.
(*) Jornalista