ELEIÇÃO 2002
“A imprensa e a lição de 1989”, copyright Época , 26/7/02
“Na página 44 da presente edição encontra-se um levantamento dos processos abertos por candidatos contra os meios de comunicação. São incontáveis ações judiciais, pedidos de indenização, cobrança por danos morais, sem falar em casos absurdos de censura prévia.
Isso acontece, em parte, porque a imprensa comete erros – às vezes, em quantidade maior que o desejável. Mas isso ocorre basicamente porque a imprensa está cumprindo seu dever de publicar informações confiáveis sobre os políticos que concorrem aos cargos em disputa em 2002.
A maioria dos candidatos não gosta que a imprensa cumpra esse papel. Acusados, respondem às denúncias ressuscitando as forças ocultas de que falava Jânio Quadros. Também falam de conspirações e dossiês invisíveis destinados a iludir incautos e pobres de espírito.
ÉPOCA considera que não há muito o que se possa fazer a respeito. Nosso leitor não investe R$ 5,50 na compra de um exemplar da revista para ser iludido com noticiários de enfeite, que embelezam candidatos e produzem votos que ignoram os reais compromissos em jogo numa campanha.
Parte da imprensa tem direito de se orgulhar do trabalho de denúncia de irregularidades no governo de Fernando Collor, forçado a renunciar em 1992. Na verdade foi uma proeza relativa, semelhante a certos diagnósticos médicos muito brilhantes – mas feitos quando é tarde demais.
ÉPOCA nem sequer havia sido lançada em 1989, quando a imprensa acompanhou de forma omissa – para dizer o mínimo – a vitória de Collor. Mas essa lição anima nossa cobertura em 2002.
A revista já foi capaz de apresentar, na mesma semana da tragédia, no início deste ano, um levantamento das irregularidades envolvendo assessores graduados do prefeito do PT Celso Daniel, seqüestrado e assassinado. Nossos repórteres foram pioneiros ao demonstrar as ligações entre a Sudam e as empresas de Roseana Sarney e Jorge Murad. Numa reportagem de capa a revista revelou detalhes inéditos sobre o tesoureiro tucano Ricardo Sérgio. ÉPOCA ainda trouxe a público o passado araponga de Paulo Costa Leite, graduado funcionário do SNI do regime dos generais, que integrava a chapa de Anthony Garotinho.
Na página 32 apresentamos uma investigação sobre o sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, candidato a vice na chapa de Ciro Gomes. A maioria dos eleitores não costuma dedicar atenção aos vices, atitude menos lógica do que parece. Sem esquecer que se trata de um posto sempre relevante de nosso sistema político, de 1985 para cá tivemos um vice – José Sarney – que cumpriu o mandato integral do titular. Itamar Franco passou no Planalto quase a metade do mandato original de Collor.
A investigação sobre Paulinho, que dá seqüência a uma reportagem publicada em outubro do ano passado, quando nem sequer se imaginava que o sindicalista seria o vice de Ciro Gomes, nem de longe representa um julgamento definitivo. Os indícios merecem atenção, porém. Testemunhas dizem que Paulinho se utilizava de intermediários que ocultavam a compra e venda de imóveis. Empresários sustentam que cobrava comissão em dinheiro – em nome da entidade – para abrir mão de benefícios aos assalariados.
O leitor tem o direito de saber. A democracia só ganha com isso. E é por cumprir corretamente sua missão que ÉPOCA se tornou em 2002 a única revista semanal de informação que ganha leitores no país.”
“Pesquisa Sub Judice”, editorial, copyright Folha de S. Paulo, 30/7/02
“O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu liminar que impede a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e o instituto Sensus de divulgar pesquisa eleitoral realizada na semana passada. O pedido partiu da Coligação Grande Aliança (PSDB-PMDB).
As sondagens CNT/Sensus não gozam da melhor das reputações. Algumas de suas condutas são questionáveis. Resta saber se esse histórico basta para recomendar a proibição ?in limine? da difusão da pesquisa.
Pesquisas de intenção de voto constituem informação relevante sobre o quadro eleitoral à qual os cidadãos devem ter acesso. Para privá-los dessa informação é preciso estar calcado em razões muito sólidas, o que dificilmente ocorre ?a priori?, antes mesmo da divulgação dos números.
É claro que existem institutos pouco sérios que, mais do que medir a disposição do eleitorado, procuram influir sobre seu comportamento e, consequentemente, sobre o resultado do pleito. Mas a melhora forma de combater essa excrescência é permitindo que os dados viciados sejam confrontados com os de institutos sérios e finalmente comparados com os resultados finais.
Embora as guerras de liminares tenham se incorporado ao jogo eleitoral, candidatos só costumam pedir a proibição de pesquisas quando nelas não figuram em boa posição. Fica a sensação de que, em vez de combater as causas da febre, se obstinam em atacar o termômetro.
É claro que um candidato, como qualquer cidadão, tem o direito de recorrer à Justiça sempre que se sinta prejudicado. Mas, no caso específico de pesquisas, parece mais indicado deixar que a verdade das urnas se encarregue de indicar quais são os maus institutos. É uma atitude que, no mínimo, soa menos autoritária.”