Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Paulo Sotero

MÍDIA EM CRISE

“EUA revêem regulamentação na mídia”, copyright O Estado de S. Paulo, 10/09/02

“O processo de concentração da propriedade dos meios de comunicação nos Estados Unidos, iniciado em 1996 com a aprovação de desregulamentação do setor de telecomunicações, receberá um novo impulso nas próximas semanas com a esperada aprovação de uma série de mudanças nos regulamentos federais que estabelecem limites sobre o número de emissoras de rádio e televisão ou a proporção do mercado que mesma companhia pode controlar e proíbem uma empresa de possuir um jornal e uma estação de TV no mesmo mercado.

Adotadas depois da Segunda Guerra Mundial para assegurar a diversidade de vozes e a competição na imprensa e evitar o risco potencial que a concentração dos meios de comunicação em poucas mãos representa para a democracia, várias dessas regras já foram significativamente flexibilizadas nos últimos anos. As que persistem deverão ser revogadas ou diluídas por decisão da Federal Communications Commission (FCC), a agência governamental que faz as vezes do Ministério das Comunicações nos EUA.

As normas que os cinco comissários da FCC deverão considerar incluem as que vedam uma empresa de ter uma estação de TV e um jornal na mesma cidade, impedem um conglomerado de comunicação (como a AOL Time Warner, por exemplo) de possuir mais do que uma rede de televisão, e vedam uma rede de controlar um número de emissoras que atinja mais do que 35% das residências no país.

Também em discussão estão as regras que impedem uma mesma companhia de controlar mais de 8 estações de rádio num único mercado ou 2 estações de TV num mercado em que não haja pelo menos 8 concorrentes.

A indústria está dividida sobre aspectos dessas mudanças. A National Association of Broadcasters, que representa os interesses das emissoras independentes, está em campanha pela manutenção do limite de 35% do mercado nacional, que é defendido pelas redes. Não há oposição organizada no setor contra a revogação da norma que impede uma empresa de possuir uma estação de televisão e um jornal na mesma cidade. Mas essa limitação tem adeptos no Congresso.

O presidente da FCC, Michael K. Powell, que é filho do secretário de Estado e ex-diretor da AOL Colin Powell, é um dos três comissários da agência federal que defendem a remoção e/ou a flexibilização dos limites de propriedade em vigor. Seu argumento é de que essas regras foram atropeladas e tornadas obsoletas pelos avanços da tecnologia, que asseguram a diversidade de opinião nos meios de comunicação pela multiplicidade de canais de difusão de informação disponíveis na internet e nos sistemas de TV a cabo. O Judiciário americano usou o mesmo argumento. Em várias decisões recentes, os tribunais têm insistido com a FCC para que sejam mantidas as regras de propriedade em vigor, pelas quais qualquer americano pode ter acesso irrestrito a centenas de canais de televisão a cabo e a um número ilimitado de sites na internet. A primeira decisão da FCC é esperada para esta quinta-feira.

“Muitas empresas de mídia estão à venda”, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 10/09/02

“Há uma liquidação no mercado da mídia, mas quase ninguém está comprando.

Uma onda de aquisições de 20 anos que transformou as grandes empresas de comunicações em companhias gigantescas está revertendo a direção, pois muitas delas estão sem dinheiro e procuram vender, deixando poucos para dar seus lances.

A Vivendi Universal, enfrentando a mais grave falta de dinheiro em caixa, pôs à venda a editora Houghton Mifflin. A empresa também estuda opções para os estúdios de cinema e música e os parques temáticos da Universal. Mas, de acordo com pessoas envolvidas na operação da Houghton Mifflin, a editora atraiu apenas fundos de investimentos oportunistas à procura de barganhas. E Barry Diller, considerado um parceiro potencial para fazer uma oferta pela Universal, desistiu da idéia recentemente.

A AOL Time Warner, sob pressão para pagar dívidas e assim proteger sua classificação de crédito, começou negociações preliminares para vender sua fatia no canal a cabo Comedy Central à sua parceira Viacom, revelaram pessoas envolvidas no plano. As fontes acrescentaram que negociações para vender sua parte na Court TV à sua parceira no empreendimento, Liberty Media, começarão em breve. A Walt Disney, a Bertelsmann, a Cablevision Systems e várias outras estão tentando vender unidades. Embora a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos esteja estudando afrouxar os limites do número de redes, estações e outros negócios que as companhias de mídia podem possuir, não está claro quais empresas podem arcar com uma onda de compras para tirar vantagem desta mudança.

Enquanto isso, um número extraordinariamente alto de fundos multibilionários está à disposição, esperando lucrar com os tempos difíceis da indústria da mídia. Vender para esses fundos, no entanto, inclui o potencial inconveniente de aceitar um preço baixo para levantar dinheiro depois de comprar pelo preço máximo.

Embora muitos setores experimentem regularmente ciclos de super-expansão e contração, corretores e analistas disseram que a atual crise na indústria da mídia é excepcional, em parte por causa da magnitude do ?boom? anterior.

?Mais do que em qualquer outro momento da memória recente, há uma maior oferta do que demanda de – em alguns casos – ativos de mídia que são verdeiros troféus?, disse Jonathan A. Knee, diretor-gerente e co-presidente do grupo de mídia do Morgan Stanley.

Algumas das várias propriedades que, afirma-se, estão agora no mercado incluem os times esportivos da Disney – o California Angels, da Liga Americana de Beisebol, e o Mighty Ducks, da Liga Nacional de Hóquei; a rede de cinemas da Cablevision, Clearview Cinemas; os muitos sistemas da falida companhia de cabo Adelphia; a companhia cinematográfica MGM; e o site de comércio Bol.com, da Bertelsmann.

O recuo coletivo da indústria da mídia é uma oportunidade para as poucas companhias que têm os recursos e a inclinação para gastar, principalmente a Viacom e a News Corp. de Robert Murdoch. Mas estas duas companhias não podem comprar tanto.

Esperado – No entanto, diferentemente de outros declínios, desta vez alguns investidores esperavam por isso. Como alternativa à ?bolha? do mercado acionário do fim dos anos 90, investidores espertos aplicaram em fundos privados que esperaram para buscar barganhas depois que a ?bolha? explodiu. Tais fundos quase nunca excederam os US$ 3 bilhões em décadas anteriores, mas agora o Blackstone Group, o Kohlberg Kravis Roberts, o Carlyle Group e o investidor Thomas H. Lee acumularam fundos de mais de US$ 6 bilhões cada.

?Eles estavam segurando o poder de fogo até a última hora, e agora essa hora está chegando?, afirmou Steven Rattner, um corretor de investimentos na indústria da mídia cuja firma, Quadrangle Group, estava entre estes fundos.

Ao longo das últimas duas décadas, os executivos da mídia argumentaram que negócios com os direitos de filmes, televisão e música só fariam aumentar de valor à medida que novas tecnologias como o cabo, os gravadores de videocassete e a internet acrescentavam novas maneiras de lucrar com o mesmo material. E para evitar que fossem excluídos, os conglomerados de comunicações correram para abocanhar canais de distribuição, como sistemas a cabo, locadoras de vídeo e serviços de internet.

Durante o ?boom? da internet, quando novos empreendimentos aplicaram capitais de risco e recursos de oferta pública em publicidade, muitas companhias de mídia contraíram pesados empréstimos para fazer suas aquisições. Neil Begley, analista do Moody’s Investors Service, afirmou que, de fato, mesmo quando seus lucros e rendas brutas aumentaram, as empresas de comunicação, otimistas, tomaram tanto dinheiro emprestado que suas dívidas cresceram até mais rápido que seu fluxo de caixa. Segundo Begley, credores e compradores de títulos tinham uma tolerância ao risco relativamente alta.

Então, quando companhias como a Disney ou a Tribune Co. deixaram suas classificações de crédito caírem, isto não tornou os empréstimos muito mais caros…”

“A crise da propaganda bate na mídia e reflete a recessão”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 3/09/02

“Apesar dos indicadores do Ibope Monitor, que acompanha a evolução dos investimentos publicitários pelas empresas anunciantes, indicar que o mercado de comunicações está mais aquecido que no ano passado, as notícias reais que vêm do setor são as mais negras possíveis.

No mês passado, por exemplo, o sindicato dos publicitários de São Paulo, que concentra o maior contingente de profissionais da propaganda no país, registrou 1.200 homologações – um recorde de demissões no setor. Nesta semana, uma das mais prestigiadas e bem sucedidas agências nacionais, a Talent, anunciou 40 demissões.

?Nosso negócio está em xeque?, alertou Paulo Stephan, presidente do Grupo de Mídia, ao antever em seminário realizada esta terça, em São Paulo, promovido pela Associação de Mídia Interativa, que o negócio da propaganda vai passar por uma releitura. Opinião compartilhada, aliás, por ninguém menos que Washington Olivetto.

Entre os veículos, a situação não é menos confortável. Nos últimos dias também só teve notícia ruim. A Editora Globo, cujos resultados definham a cada trimestre, ceifou mais 70 funcionários. A TV Gazeta mandou embora 80 e tirou do ar vários programas, arrendando os horários vagos para firmas de televendas.

A Editora Abril preferiu valer-se de uma cláusula de escape prevista no acordo que lhe deu 49% da Editora Símbolo, em novembro de 1999, e saltou fora do negócio. A Símbolo edita revistas como Chiques e Famosos e Corpo a Corpo.

Na TV Globo, a maior e mais endividada empresa de comunicações, dispensas discretas e aperto de cintos em gastos correntes têm sido a regra desde que Henri-Phillipe Reichstul assumiu o cargo de presidente da holding da família Marinho, criado especialmente para ele, com a missão de sanear os negócios do grupo e até jogar ao mar o que se revelar inviável.

Aos poucos se desfaz a ilusão de que a lei que abriu o setor de mídia aos investimentos empresariais, inclusive do exterior, seria a solução em tempo real para os problemas de endividamento das empresas no país. O investimento externo está racionado na área de comunicações em todo mundo.

Lá fora, entre Europa e Estados Unidos, o que mais se tem são programas de contenção de custos, desativação de operações deficitárias e venda de atividades desconectadas do negócio principal. Aqui, constata-se, a mídia carrega passivos onerosos, muitos deles em dólar, como no caso da Globo, mas o que penaliza o setor, para valer, é mais a redução de receitas que somente os juros altos e a desvalorização cambial ensandecida.

Neste cenário, segundo as sondagens avançadas das agências, os jornais líderes nas grandes cidades são os que exibem melhor desempenho. A mídia eletrônica, puxada pelas distribuidoras de TV pagas, é a que mais sofre. Portais de web pararam de sangrar e alguns até já conseguem empatar; e rádio, enquanto setor, continua crescendo a sua fatia no bolo total.

O resumo da ópera é que a publicidade escorregou alguns degraus, como demonstra o encolhimento das agências, e arrastou o negócio como um todo. Está aí uma das evidências mais firmes de que o desempenho da economia é pífio, sem sinal de recuperação à vista.

O volume dos investimentos publicitários, sabe-se h&aaacute; muito tempo, é um dos mais fidedignos indicadores antecedentes sobre o que virá à frente na economia. Pelos resultados entre o que vai pelas empresas de mídia e o que está em produção nas grandes agências, campanhas para serem veiculadas nos próximos 60 dias, pode-se antecipar desde já que o Natal, mais uma vez, vai deixar muito a desejar.”

“Mídia tem dia negro com cortes na Talent, TV Gazeta e Editora Globo”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 2/09/02

“A mídia teve uma segunda-feira sangrenta. Cabeças rolaram na TV Gazeta, na Editora Globo e na agência Talent. A Editora Globo demitiu 70, a TV Gazeta, 80, e na Talent, que não divulga o número, estima-se que 40 pessoas tenham sido dispensadas. Os cortes são atribuídos à crise que estrangulou o mercado publicitário – intensificada com o fim da Copa do Mundo e a proximidade das eleições.

A Fundação Cásper Líbero, mantenedora da TV Gazeta, vai direto ao câncer que dilacera o estômago da mídia. ?A Fundação Cásper Líbero, dado o atual cenário macroeconômico, cujos efeitos têm atingido duramente o setor de comunicações, com uma retração sem precedentes no mercado publicitário, deu início a um processo de reestruturação na TV Gazeta?, afirma, em nota.

O canal suspendeu oito de seus programas, como o Mundo Clipper, Ione, Bastidores da Fama, Mesa Redonda e Nova Geração, de segunda a quinta-feira, o Clodovil, de segunda a sexta, e, aos sábados, Festa do Mallandro e Giro do Guerreiro. O horário nobre foi arrendado para atrações de televendas.

Ainda segundo a nota, os principais pontos do plano de reestruturação são a redução de custos fixos, reorganização operacional, reestruturação no quadro funcional e renegociação de contratos com terceiros.

Os cortes na Editora Globo atingiram a redação (um terço deles), o comercial, o Cedoc, departamento de arquivo, e a Globo Press. Como na Talent, o processo de reestruturação na Editora Globo não é novo. Incluiu até, no início do ano, a demissão em massa da diretoria da empresa.

?Diante do atual quadro recessivo do país, a Editora Globo realizou uma reestruturação que inclui, entre outras ações, a reorganização do seu quadro de profissionais?, fala, em nota. ?O objetivo é rentabilizar a operação e aumentar a produtividade em todos os departamentos.? O comunicado completa dizendo que nenhuma revista será fechada.

Em comunicado à imprensa, a Talent detalha sua reestruturação, explicando que nesta segunda finalizou o processo de unificação das unidades Talent e Talent Biz, ambas do Grupo Talent, iniciado já em setembro de 2001.

?A partir de agora, a agência inicia um outro processo, desta vez visando o aprimoramento de sua estrutura, com o objetivo de ser ainda mais moderna, ágil e eficiente?, diz a nota. ?Esta nova fase inclui o redimensionamento de seu quadro de funcionários e a implantação de novas técnicas de gestão.?”

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“Abril desiste de participação de 49% na Editora Símbolo”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 3/09/02

“?A Editora Abril está saindo da Símbolo.? A declaração é da vice-presidente da Editora Símbolo, Regina Bucco. Segundo ela, trata-se de ?um novo acordo societário?: a Abril desiste de sua participação de 49%, mas cuidará da distribuição e assinatura das revistas da Símbolo.

Segundo o novo contrato, que terá validade para os próximos dez anos, a Abril fornecerá serviços de impressão, distribuição em banca via Dinap e venda de assinatura. O primeiro contrato entre as companhias foi assinado em 1999 e durou exatos dois anos e oito meses.

Entre os títulos da Símbolo, estão as revistas Uma, Chiques e Famosos, Tititi, Raça Brasil, Atrevida, Dieta Já , Meu Nenê e Corpo a Corpo, nascida junto com a editora, em 1987.

Com o rearranjo, a composição societária da Símbolo passa a contar com Joana Woo, presidente da editora, Roberto Melo, vice-presidente responsável pelas áreas editorial e de planejamento, e Regina Bucco, vice-presidente responsável pelas áreas comercial, administrativa e financeira.

O conselho de administração da companhia é formado por seus sócios-diretores. Joana Woo, garante Regina, segue no comando da empresa, que já foi a terceira editora do país e hoje é a quinta maior em negócios.

Em comunicado, a Símbolo diz que seu número de títulos no varejo foi ampliado, e celebra o novo contrato com a Abril, que lhe garante vínculo comercial e operacional com a editora da família Civita. ?O acordo estabelece uma nova fase nas relações entre as duas empresas?, diz a nota.

A assessoria da Editora Abril não comenta o caso.”