ACM & GRAMPOLÂNDIA
Chico Bruno (*)
Aos poucos o país vai tomando conhecimento da dimensão do grampo dos telefones baianos. São grampos de mil e uma utilidades. A mais nova foi denunciada na edição de domingo, dia 16/3, de A Tarde, de Salvador (BA).
O jornal baiano abre a edição dominical com a seguinte manchete: "Grampo municiava jornal contra adversários de ACM", e comprova que seu concorrente, Correio da Bahia, de propriedade do senador Antonio Carlos Magalhães (que mantém seu escritório político na sede do jornal), serviu-se dos grampos telefônicos para fazer reportagens contra os adversários políticos do senador.
Além de municiar reportagens, o grampo também era utilizado para abastecer de informações a coluna de notas políticas Em Foco. Em alguns casos, as transcrições são ao pé da letra do que foi grampeado, como demonstra a matéria de A Tarde, assinada pelo repórter Marconi de Souza, um dos poucos, na Bahia, que ousam contrariar ACM.
Cumpre informar que vale tudo no reino da grampolândia baiana, principalmente no jornal porta-voz do carlismo. Para se ter uma idéia do que ocorre no jornalismo baiano, vale a pena reportar-se ao Correio da Bahia de quinta-feira (15/3), que estampou em seis colunas, no alto da primeira página, a seguinte manchete: "Ministério Público Federal desmente A Tarde". Um título turbinado, que usou como gancho nota à imprensa distribuída pelo Ministério Público Federal, por meio da qual dois procuradores federais, encarregados de apurar o delito dos grampos baianos, alertam que "(…) todas as declarações e opiniões externadas e veiculadas na imprensa escrita, falada e televisionada acerca dos fatos em apuração no inquérito policial instaurado por conta de interceptações telefônicas clandestinas não refletem, necessariamente, o pensamento de todos os membros da equipe investigativa".
Sola de sapato
Ao usar a nota, o Correio da Bahia destilou todo o veneno possível contra o concorrente A Tarde, que vem dando destaque à cobertura do caso dos grampos baianos. No corpo da matéria, há trechos que revelam a ira do redator contra o rival. Por exemplo:
"(…) foram usadas para dar suporte às ilações do jornal, que desenvolve uma campanha sórdida para invalidar os quase três milhões de votos dos baianos na eleição de ACM";
"(…) em resposta à falsidade praticada pela A Tarde"; "(…) os procuradores não querem ser utilizados pelo jornal A Tarde em sua campanha infamante contra o líder baiano";
"(…) os procuradores bem conhecem o jornalista que assina a falsa entrevista, que é useiro e vezeiro em inventar declarações e atribuir responsabilidade a terceiro, e que não se furtou a praticar crime de falsidade ideológica para atacar órgãos do estado".
Pelo tratamento dispensado à Tarde e ao jornalista responsável pela cobertura do caso dos grampos, os leitores têm uma pequena idéia do que seja discordar do senador do PFL da Bahia. A julgar pelas matérias publicadas na quinta-feira pelo Correio da Bahia, e no domingo pela A Tarde, está aberta a temporada de troca de chumbo grosso entre os dois jornais, pois farpas já trocam amiúde. A hora de engrossar o caldo é agora, pois o caso passa a ser investigado pelo Conselho de Ética do Senado Federal e os depoimentos poderão ser acompanhados ao vivo pela TV Senado.
A revista IstoÉ recentemente comparou a transcrição dos grampos distribuída por ACM à correspondência do mesmo senador para autoridades federais e, mais, aos requerimentos do ex-senador ACM Junior, em geral solicitando informações a vários ministérios. A Tarde apenas se deu ao trabalho de cotejar o dossiê com as matérias e notas publicadas pelo Correio da Bahia, seguindo a pista deixada pelo advogado Plácido Faria em seu depoimento à Polícia Federal. Trabalho de repórter.
Se a mídia nacional se dedicasse a investigar o comportamento da imprensa baiana em relação à grampolândia descobriria que na Boa Terra contam-se nos dedos os jornalistas que ousam discordar do senador Antonio Carlos Magalhães.
(*) Jornalista