MÍDIA & EDUCAÇÃO
Sidney Borges (*)
Volta e meia vem à tona a questão da universidade pública. Pouco se discute seu papel no panorama do desenvolvimento nacional. Querem privatizá-la. O primeiro passo é a cobrança de mensalidades. Depois, num processo natural, viria a incorporação a uma universidade particular, dessas que pouco ensinam e a muitos diplomam, desde que as mensalidades estejam em dia. Não são escolas no sentido mais amplo do termo, são empresas mercantilistas de olho nos lucros. Nada contra lucros. Apenas penso que, na prática irresponsável dessas redes de falcatruas, eles são imorais.
Li muito sobre educação nos primeiros dias de junho. O ministro Cristovam Buarque apareceu tecendo considerações sobre acrescentar um ano letivo ao ensino fundamental, que passaria a durar nove anos. Ele propõe também aumentar a duração do colegial para quatro anos, em vez dos três atuais. Nada a ver, o tempo no ensino atual não tem importância, mais um ano só vai acrescentar tempo perdido aos alunos enganados por um sistema corporativista e ineficiente que permite saírem do colegial semi-analfabetos.
Antes de aumentar o tempo do curso é preciso melhorar a qualidade. O Brasil nunca deu importância à educação. Acredita-se, nesta terra de bacharéis, que é possível desenvolver o país mantendo-se o povo cativo nas novelas e nos campos de futebol. A elite educa seus filhos em escolas básicas de excelência, caríssimas, e depois completa essa educação no exterior. A eles fica reservado o ouro do mercado de trabalho e o papel de perpetuar essa situação.
Isso pode ter funcionado até agora. No entanto, o modelo está esgotado. É só olhar para São Paulo e Rio de Janeiro para que isso fique bem claro. Não existe caminho ou projeto que diminua a distância que nos separa do mundo desenvolvido, que não passe pela educação e não tenha como prioridade o homem. Em alguns setores onde houve investimento e trabalho sério os resultados apareceram.
A Embraer nasceu de um projeto iniciado com a criação do ITA, nos anos quarenta. Esse projeto formou os técnicos que desenvolveram a tecnologia incorporada aos aviões que tanto sucesso fazem no mundo. A Embrapa vem repetindo a dose no campo da pesquisa agrícola: hoje, em alguns setores, a produtividade brasileira é expressiva.
Essas experiências deveriam nortear um projeto maior que permitisse ao Brasil ser competitivo em outras áreas, e assim dar início à saída do atoleiro em que se encontra. É importante salientar que ao se falar em transferência de tecnologia está sendo praticada uma falácia. Transfere-se o que é obsoleto. Não existe transferência de tecnologia de ponta, que é o que interessa: esta representa hoje, para as nações, o que representou a posse da terra no mundo feudal. Os proprietários de terra eram ricos, hoje os países que desenvolvem tecnologia são ricos.
Para sermos competitivos no mundo contemporâneo precisamos de educação em larga escala, tirar qualidade da quantidade. Não há outra saída, embora os adeptos do "sistema ptolomáico" digam o contrário. Antes de cobrar pelo ensino superior é preciso multiplicá-lo por 10, e ainda assim será pouco. Os impostos cobrados pelo governo já incluem o preço da educação, se falta dinheiro é porque este é desviado para os bolsos dos banqueiros, na forma de juros da dívida pública.
Isso é outra história…
(*) Jornalista em Ubatuba, SP