ELEIÇÃO 2000
Chico Bruno (*)
A antecipação da discussão eleitoral pela grande imprensa começa a arranhar a credibilidade dos institutos de pesquisa. Com a divulgação de dois resultados diversos, tem início o processo de justificativas para tal tipo de ocorrência. O instituto "A" afirma que sua metodologia é a correta, já o "B" diz que é a sua. Especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil e a Folha de S.Paulo afirmam que os questionários podem estar servindo de indutores para uma situação específica.
Quem trabalha com pesquisas quantitativas sabe que isso é viável. Basta manipular o questionário. E nessa fase de antecipação do processo eleitoral isso pode ocorrer, pois não existe a necessidade de se registrar a pesquisa eleitoral, coisa que não mais será possível a partir de 1? de janeiro, como lembrou domingo Tereza Cruvinel em seu Panorama Político, em O Globo.
Outro fator que reforça a tese de que essas pesquisas não valem muita coisa é que, ainda, não existe campanha eleitoral com candidatos definidos, portanto não existe o debate. As propostas não estão sendo julgadas pelos eleitores. A jornalista Dora Kramer, em artigo publicado na sua conceituada coluna do JB, alerta para o fenômeno ocorrido em 1982, quando, um ano antes das eleições, Sandra Cavalcanti tinha 52% de intenções de voto para o governo do Rio. Quem ganhou a eleição foi Leonel Brizola, o lanterna das pesquisas. Sandra foi atropelada pelo seu passado lacerdista justamente quando se travou a campanha eleitoral. Guardadas as devidas proporções, isso pode vir a acontecer, durante a campanha eleitoral, com Roseana sendo enrolada pelos 35 anos de poder da família Sarney no Maranhão.
E, tem mais: a considerável maioria da população está se lixando para as eleições presidenciais no momento. O que interessa agora é a decisão do Campeonato Brasileiro, o Natal e as festas de Ano Novo. Depois disso, como se está careca de saber, vem pela ordem o Carnaval, a Semana Santa, a Copa do Mundo e as festas juninas. Findo tudo isto é que começa a campanha eleitoral pelo rádio e a TV. E é aqui que o placar das pesquisas começa a ganhar importância para governos estaduais, Senado e Presidência da República. Antes disso serve para irrigar e oxigenar financeiramente as candidaturas e aumentar o poder de barganha em futuras alianças.
Neste ano de entressafra, uma novidade: o lançamento de livros escritos por marqueteiros. Temos dois na praça, um do xará Santa Rita e outro de Duda Mendonça. Livros que não devem trazer nada que não se conheça, caso contrário estariam os dois autores cometendo um haraquiri.
Essa antecipação da discussão eleitoral só interessa aos políticos, aos marqueteiros e aos jornalistas políticos, que com a fadiga da reeleição, raciocínio de Dora Kramer, e pouca novidade no dia-a-dia político, investem no assunto, cada um por uma razão própria. Os políticos para se cacifarem, alguns marqueteiros para se autopromoverem (não são todos, a maioria é discreta, como requer a função) e os jornalistas, para preencher seus espaços. De resto é aguardar agosto de 2002, quando começa verdadeiramente a campanha eleitoral.
Mas é preciso que os veículos de comunicação ponham as barbas de molho, para que não lhes aconteça o que está acontecendo com os institutos de pesquisa: o início da perda de credibilidade.
(*) Jornalista