Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Pimenta na seção internacional

THOMAS FRIEDMAN

Com seu par de Pulitzers, dois best-sellers saindo das livrarias como água das cachoeiras e posição e tratamento de príncipe no New York Times, o jornalista Thomas Friedman não pode reclamar de falta de exposição. Há quem diga que sua presença no programa de David Letterman foi mais um agrado ao entrevistador que ao entrevistado.

Para um colunista especializado em assuntos internacionais, que passou anos escrevendo sobre violência no Oriente Médio, Osama bin Laden e fracassos dos regimes autocráticos árabes na sociedade moderna, os últimos dois meses alavancaram de forma surpreendente seu valor de mercado. Além de sua última aparição na telinha, para o programa de Letterman, esteve em programas de grande audiência como Meet the Press, Face the Nation, Good Morning America, Charlie Rose, além de participar de shows em emissoras árabes, segundo Howard Kurtz [The Washington Post, 6/12/01].

As pessoas param Friedman na rua e agradecem. Sua sala de bate-papo online ficou tão cheia que o New York Times teve de fechá-la. Um leitor da Califórnia chegou a enviar-lhe um e-mail dizendo: "Não consigo imaginar o que faria sem a riqueza quinzenal de seus artigos para me guiar nestes tempos terríveis". Tudo isso é suficiente para fazer de um jornalista alguém cheio de si ? como, de fato, Friedman ocasionalmente é. Mas já é lugar comum na mídia americana que Friedman e o jornalista do Washington Post Jim Hoagland ? também vencedor de dois Pulitzers ? são os únicos colunistas exclusivamente dedicados a assuntos internacionais, entre os grandes jornais.

Se antigamente o senso comum era de que os americanos não se importavam muito com o resto do mundo, agora, após os ataques terroristas de 11 de setembro, nem os talk shows conseguem ter Friedman tanto quanto gostariam. Afinal, os novos tempos fizeram Friedman mais astro do que nunca.

Legião de fãs e inimigos

Com o aumento da influência global de Friedman, cresce também seu acervo de detratores, especialmente no mundo árabe. "Sua mídia é irresponsável", afirmou o presidente do Egito Hosni Mubarak à Newsweek no começo do ano. "E quanto aos péssimos artigos de Tom Friedman?"

Friedman, que tem 48 anos, justifica: "No Oriente Médio, todos querem ser seu dono. Se não podem, querem destruí-lo. Não há meio termo." O colunista chama atenção não apenas pelo profundo conhecimento do Oriente Médio, mas também por sua prosa agressiva, acusando os aliados dos EUA no mundo árabe de estimular o terrorismo mesmo que seus líderes sorriam em direção à América.

Em junho, Friedman escreveu carta imaginária de bin Laden, após notícias de que ameaças por telefone celular levaram as forças armadas americanas a se retirar do Iêmen, do Bahrain e da Jordânia. "Allahu Akbar! Deus é grande! Isso é um superpoder? Os americanos saíram com o rabo entre as pernas assim que receberam algumas ameaças nossas. A imprensa dos EUA mal noticiou isso; a imprensa da Casa Branca nem mesmo perguntou ao presidente o que fazer. Eles não têm uma resposta militar à nossa ameaça."

A resposta mais apimentada aos insultos corriqueiros de Friedman veio do Cairo, onde um jornal publicou uma caricatura do colunista com uma língua de serpente se arrastando por toda a página. Em mais de duas décadas de jornalismo internacional, Friedman se concentrou em duas questões em especial, que despertaram paixões quase tribais. Uma é a psicologia da batalha sem fim entre Israel e Palestina, pormenorizada em seu livro "From Beirut to Jerusalém", de 1989. A outra é o debate às vezes violento sobre globalização e a crença de Friedman em que a "McDonaldização" do mundo pode ajudar a elevar os padrões de vida e até triunfar sobre os ódios que nutrem os conflitos no Oriente Médio. Seus argumentos são detalhados em "The Lexus and the Olive Tree", livro escrito em 1999. Após 11 de setembro, ambos voltaram à lista dos mais vendidos do NY Times.

Apesar de ser judeu, Friedman denunciou "a insensatez de 7 mil colonos israelenses que vivem em meio a 1 milhão de palestinos na Faixa de Gaza". Não é de se estranhar, portanto, que um colunista do Jerusalem Post certa vez o chamou de "propagandista da causa palestina". Mas para a imprensa saudita, diz Friedman, "sou um sionista roxo."