POLÊMICA
Victor Gentilli
A acusação de plágio e de cópia de trabalho acadêmico ainda não alcançara o campo da comunicação no Brasil. No ano passado, o assunto surgiu. Surpreendentemente, até agora a questãatilde;o foi tratada de forma discreta e poucos tiveram conhecimento do assunto. Com a divulgação do caso no sítio do professor Mauro Porto, o jornal O Dia, do Rio de Janeiro, publicou pequena nota. Foi só.
Os fatos: o professor Mauro Pereira Porto, doutor, professor da UnB, acusa a professora Marialva Barbosa, doutora, coordenadora do Programa de Mestrado da Universidade Federal Fluminense, de plágio.
A acusação, os trechos copiados ou assemelhados estão apresentados na remissão, ao final deste texto, assim como a íntegra do texto alvo da acusação. O texto original, publicado na revista Comunicação e Política, em 1996, não conta com versão online.
O professor Mauro Porto relata que ele mesmo descobriu o episódio por acaso. Observou que a UFF mantinha a revista Ciberlegenda, navegou pelo índice e interessou-se pelo texto de Marialva Barbosa. Afinal, o artigo tratava de temática de seu interesse.
Porto ficou perplexo com a descoberta. Diversos trechos de seu artigo eram reproduzidos, vários deles com algumas alterações no texto, mas sempre preservando a idéia original.
Discreto por temperamento, o professor procurou a professora e tentou um diálogo.
O Observatório da Imprensa ouviu o professor Porto, a professora Marialva Barbosa e outros professores que pudessem oferecer maior referência ao caso. Até aqui, os relatos coincidem, até mesmo na data. O diálogo teria ocorrido há cerca de 9 ou 10 meses.
Segundo a versão da professora, além de admitir o erro ela entende que a citação do trabalho do professor Mauro Porto nas referências bibliográficas seria suficiente. No entender da professora, referências bibliográficas seriam o espaço de apresentação das obras consultadas e utilizadas na pesquisa, dispensando maiores esclarecimentos.
O erro, no seu entender, se deu na transcrição da versão original para a versão que seria colocada na revista eletrônica. Neste processo de transcrição, segundo a professora, o digitador teria esquecido algumas aspas e notas de rodapé. De todo modo, a citação da obra de Porto nas referências bibliográficas ? desde que o artigo foi divulgado no sítio da revista eletrônica ? bastaria para corrigir o erro.
A partir de quinta-feira (7/2), o artigo de Marialva Barbosa passou a conter ao final uma "nota especial", reproduzida abaixo.
Nota especial: Infelizmente, houve erro na transposição das notas de rodapé para as notas finais do artigo. Por efeito deste, não estão expressas no corpo do texto as referências ao artigo de Porto, 1996. Entretanto, a menção a este artigo, desde a edição de 1998, sempre fez parte das referências bibliográficas existentes.
Marialva Barbosa, Ponta Negra, 7 de fevereiro de 2001.
A versão do professor Mauro Pereira Porto, autor do primeiro artigo, é diferente. Porto teria procurado a professora com uma proposta sensata. Ele até toparia silenciar sobre o caso, para evitar maiores constrangimentos a todos e à área.
Veja a entrevista do professor Mauro Pereira Porto ao Observatório.
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Como descobriu o texto com as semelhanças?
Mauro Pereira Porto ? Descobri o texto plagiador por acaso. Estava navegando pelo site do Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação da Universidade Federal Fluminense e descobri que eles editam uma revista eletrônica chamada Ciberlegenda. Ao olhar o índice dos artigos publicados, verifiquei que havia um artigo assinado por Marialva Barbosa sobre recepção. Como me interesso pelo tema, comecei a ler o artigo e descobri, com grande surpresa, a copia, com ligeiras alterações, de inúmeras passagens de um artigo que eu havia publicado em 1996.
Qual sua atitude a partir desta descoberta?
M.P.P ? Pensei em varias alternativas, mas acabei enviando um e-mail à autora do plágio com algumas condições para eu dar o caso como encerrado. Entre as exigências estavam: retirada do artigo do site da revista Ciberlegenda; retirada do artigo do currículo da plagiadora, incluindo a versão registrada no CNPq; envio de carta endereçada a minha pessoa desculpando-se pelo ocorrido e comprometendo-se a cumprir no prazo estipulado (1? de maio de 2001) todas as condições. Até hoje, mais de nove meses depois, nenhuma das condições foi cumprida. Resolvi então divulgar o caso para inibir futuros casos de plagio no mundo acadêmico.
Quais as explicações dela para o fato?
M.P.P ? Em sua resposta, Marialva Barbosa argumentou o seguinte: "Infelizmente, por um erro de digitação, não saiu a referência ao seu trabalho no artigo da revista Ciberlegenda, que cito na bibliografia do mesmo artigo. Assim, assumo a mea culpa e prometo nos dias que se seguem tomar as providências que o senhor me solicita" (21/4/2001). Trata-se de um argumento ridículo, já que não houve apenas a omissão acidental de algumas citações ou aspas. Como os leitores poderão verificar em um quadro comparativo que disponibilizei na internet [ver link abaixo], Marialva Barbosa copiou grande parte do meu texto, fazendo pequenas alterações para camuflar o delito. Em seu artigo, a autora não usa aspas quando copia o conteúdo do meu texto, que não é citado em nenhum momento. Vale ressaltar ainda que em sua resposta a autora assume o mea culpa e promete tomar providências. Só que até hoje, mais de 9 meses depois da promessa, nenhuma das condições por mim estabelecidas foi cumprida.
Você tem documento com a aceitação dela?
M.P.P ? Tenho cópia dos e-mails enviados pela plagiadora no ano passado.
E de lá para cá, como as coisas se desenvolveram?
M.P.P ? Estive muito ocupado com a conclusão do meu doutorado, e só agora estou tomando algumas providências. A principal delas foi a iniciativa de divulgar o plágio na minha homepage. A repercussão foi impressionante. Recebi várias mensagens de pessoas indignadas com o caso.
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