ASPAS
DOSSIÊ PERFÍDIA
"Autocensura na TVE", copyright Época, edição 143, 12/02/01
"O convidado da primeira edição de 2001 do programa Observatório da imprensa, transmitido pela TVE Brasil, seria o jornalista baiano João Carlos Teixeira Gomes. O autor do livro Memórias das trevas – uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães seria entrevistado na terça-feira 6. Três horas antes de o programa começar, Gomes foi avisado de que não iria ao ar e que, no horário, a TVE exibiria uma reprise. O Observatório iria debater os motivos que levaram a mídia a dar pouca importância ao livro com denúncias contra ACM. Alberto Dines, diretor do programa, diz que evitou, dessa forma, criar problemas para o diretor da emissora, Fernando Barbosa Lima, e que apenas um dos oito jornalistas convidados a debater o livro com Gomes aceitou o desafio. ‘Sem o debate, o programa ficaria parcial’, alegou. A justificativa dada a João Carlos Teixeira Gomes foi outra. Dines disse-lhe que a TVE Bahia ameaçava não retransmitir o programa para o Estado. ‘Fiquei surpreso porque tanto Alberto Dines como Barbosa Lima são jornalistas que lutaram pela liberdade de imprensa’, diz Gomes.
Alberto Dines nega ter incorrido em autocensura e suspendeu a exibição do Observatório até conseguir compor outra mesa para o debate. Se depender do presidente da TVE, terá de arrumar outra emissora. Barbosa Lima diz que não permitirá que o escritor seja entrevistado na TVE Brasil porque foi acusado de praticar censura."
"Fora de foco", copyright IstoÉ, edição 1637
"O fantasma do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, assusta. A sombra do poder político do cacique baiano tirou do ar o programa da TVE Observatório da Imprensa, apresentado pelo jornalista Alberto Dines. Na noite de terça-feira 6, Dines entrevistaria ao vivo o jornalista João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, autor do livro Memória das trevas, uma devassa na vida de Antônio Carlos Magalhães. Em vez da entrevista, a estatal reprisou um programa com o escritor João Ubaldo Ribeiro. As gravações do Observatório estão suspensas por tempo indeterminado.
O episódio não repete a censura ao líder sem-terra João Pedro Stédile, no ano passado, que teve sua entrevista tirada do ar por pressões do Planalto. Na versão de Dines e do novo presidente da TVE, Fernando Barbosa Lima, não houve determinação superior para cancelar a entrevista de Joca. Dines, um crítico da censura e da imprensa, teria concluído que o programa prejudicaria a gestão de Fernando Barbosa Lima. Ele tomou posse na presidência da TVE no mesmo dia 6. ‘Não quero prejudicá-lo. Ele é a salvação da emissora’, afirmou Dines."
‘Eu fiquei espantado quando o Dines me ligou na tarde de terça-feira para dizer que o programa tinha sido cancelado’, reagiu o autor do livro, que responsabilizou o apresentador pela suspensão. O novo presidente da TVE, Fernando Barbosa Lima, se exime de qualquer responsabilidade: ‘Eu não tenho nada a ver com isso. Disse para o Dines que o problema era dele e ele resolveria do jeito que achasse melhor. Eu adoraria que a entrevista fosse ao ar e com a participação do senador ACM, porque teria muita audiência.’ Um dos motivos do cancelamento, segundo Dines, foi a negativa de oito dos nove jornalistas convidados para entrevistar Joca. O único que aceitou foi o chefe da sucursal de Brasília da ISTOÉ, Tales Faria.
‘A recusa dos outros jornalistas reforça a tese que eu discutiria de que houve um boicote da imprensa ao livro. As pessoas têm medo de enfrentar ACM’, disse Dines. Ele afirmou que aproveitou o episódio para suspender o programa. ‘Espero que até lá a crise política no Congresso tenha acabado’, acrescentou o jornalista, argumentando que não quis pôr lenha na fogueira na briga entre ACM e o PMDB para não prejudicar Barbosa Lima. Segundo Dines, a decisão de suspender a entrevista também foi tomada porque a direção da TV Educadora da Bahia, do governo estadual, passou o dia telefonando para a TVE a fim de saber se o programa iria ao ar. ‘Eu entendi que a Bahia não retransmitiria. Isso tinha acontecido com uma entrevista do Joca à TV Cultura e que isso criaria um problema político.’ Dines não classifica sua atitude como autocensura. ‘Eu publiquei uma nota explicando tudo e já mostrei que não tenho nenhum problema em criticar o senador ACM’, afirmou."
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