ALEMANHA
A imprensa alemã está proibida de fazer qualquer insinuação de que o chanceler Gerhard Schroeder tinja o cabelo. Um tribunal de Hamburgo expediu a proibição a pedido dos advogados do político social-democrata, que em setembro disputará eleições com o democrata-cristão Edmund Stoiber. Diversas revistas e jornais têm publicado artigos perguntando se a cor das madeixas de Schroeder é natural, desde que ele entrou com ação contra a agência DDP, em fevereiro, por nota em que um consultor de imagem comenta que o chanceler melhoraria sua credibilidade "se não pintasse sempre seu cabelo grisalho".
"Tenho absoluta certeza de que ele não tinge o cabelo", garante seu estilista, Udo Walz. O advogado responsável pela ação, Michael Nesselhauf, também é enfático: "Queremos nos certificar de que esta história, que é claramente falsa, não seja reproduzida." No entanto, na intenção de evitar que o boato se alastrasse, a polêmica de restringir o direito da imprensa acabou por aumentar seu alcance. "Não entendo esta briga", comenta o editor-gerente da revista sensacionalista Bunte. "Ele não quer que a imprensa fale sobre seu cabelo, mas agora as pessoas estão falando mais do que se deixasse a questão morrer sozinha. E ainda está saindo como vaidoso."
A polêmica ajuda a oposição conservadora, que sempre baseou suas críticas ao atual primeiro-ministro na idéia de que ele tem só imagem, e não conteúdo. Como conta Edmund Andrews [The New York Times, 17/5/02], a chance de fazer piada não é desperdiçada. "Um chanceler que pinta o cabelo também deve cortar qualquer estatística", ironiza o parlamentar democrata-cristão Karl-Josef Laumann, referindo-se à estagnação econômica e ao índice crescente de desemprego.
Schroeder desnudo
Como se não bastasse, Schroeder ainda amargou ver-se representado nu em capa da revista Stern, sob o título "A verdade nua e crua: Schroeder ainda pode ganhar?" A questão se refere ao insucesso do social-democrata em cumprir suas promessas de reduzir o desemprego e reformar a economia, o que dificultaria seu desempenho nas eleições.
Segundo Thomas Osterkorn, editor da revista, a capa foi inspirada no conto A roupa nova do imperador, do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. Naquela história infantil, um monarca convence seu povo de que veste a mais maravilhosa das roupas até que um garoto se atreve a apontar que, na verdade, o rei está nu. Segundo a Reuters [16/5/02], o parlamentar governista Dieter Wiefelspütz disse que se trata de um ataque de mau gosto aos direitos individuais de Schroeder.
CHANDRA LEVY
O caso Chandra Levy foi uma das obsessões da TV americana pré-11 de setembro. A tragédia voltou ao noticiário recentemente graças à descoberta, num parque de Washington, do corpo da estagiária da Casa Branca desaparecida há um ano. Antes mesmo da confirmação, as redes inundaram a programação com imagens de Chandra em cartazes e vídeos familiares, e do ex-deputado democrata Gary Condit, com quem tivera um caso, perseguido por repórteres. Detetives, advogados e amigos da família Levy eram entrevistados em seguidas inserções ao vivo.
A notícia da condenação de Bobby Frank Cherry, ex-integrante da Klu Klux Klan, pela explosão de uma igreja em 1963 que matou quatro garotas, foi reduzida a uma manchete no canto da tela. Howard Kurtz [Washington Post, 23/5/02] relata que poucos se lembram que a mídia inicialmente tratou a história de Chandra como um caso de pessoa desaparecida, nas páginas internas, em maio de 2001. Quando o relacionamento com Condit foi revelado, a história varreu a imprensa como um furacão. O programa CBS News foi criticado por se recusar a fazer cobertura semelhante. No dia da identificação do corpo, a CBS deu como matéria principal a condenação de Cherry, relegando o caso ao meio do noticiário.
Na opinião de Robert Lichter, do Center for Media and Public Affairs, "o 11 de setembro mostrou que os noticiários de TV têm capacidade para encarar desafios, mas também para afundar em qualquer ocasião. Não há nível de monstruosidade embaraçoso demais para os instintos de tablóide destes programas".