MERCADO AFRO-AMERICANO
"Pinho-Sol continua a honrar afro-americanos na arte e na literatura ao celebrar o lançamento de três novos livros da Strivers Row." Assim começa a campanha publicitária da nova linha de livros para negros da editora Random House, que está criando conflito entre autores e agentes literários, revela David D. Kirkpatrick [The New York Times, 16/7/01].
Embora o setor esteja imprimindo mais livros escritos por negros do que nunca, a criação de linhas especiais para leitores negros gera polêmica. O fato de o anúncio ser pago por uma empresa de produtos de limpeza, algo inusitado na propaganda de livros, serviu para atiçar a discussão.
Para David Levering Lewis, ganhador do Pulitzer pela biografia de W. E. B. DuBois, trata-se de uma estratégia grosseira: "Se é verdade que pessoas de cor já estão comprando livros e em maior quantidade, esta nova estratégia é ofensiva e comercialmente estúpida." Lewis disse que a campanha reforçou sua convicção de que agrupar livros por raça limita seu potencial, pois muitos escritores desejam tratar de temas humanos, que interessam a todos, não importa a cor da pele.
Alguns autores são mais radicais: para Terry McMillan, os anúncios sugerem que os livros não recebem apoio financeiro suficiente de seus editores. Já a escritora Jill Nelson considera os anúncios ultrajantes, condescendentes e racistas. Melody Guy, editora da Strivers Row, acredita que a campanha serve para reforçar a imagem dos autores. "Há pouquíssimos livros que recebem este tipo de marketing", ressalta, "e estamos apresentando autores principiantes".
Não é a primeira vez que livros são lançados em promoções deste tipo. A Coca-Cola, por exemplo, distribuiu trechos do romance de Elmore Leonard, Be Cool, em pacotes de refrigerante. Victoria Sanders, agente de Solomon Jones, autor da Strivers Row, disse: "Não estaríamos tendo essa conversa se estes livros fossem de autores brancos. Há uma visão excessivamente crítica sobre os títulos afro-americanos publicados, e acho que isso é prejudicial."