AVALIAÇÃO DOS CURSOS
Cauê Llop (*)
Por muitos motivos. Mas, para entendê-los, é necessário compreender o que é o Provão e como ele é feito. O Exame de Avaliação Institucional, ou Provão, é uma prova que o aluno no último ano de seu curso é obrigado a fazer, para que obtenha seu diploma. O objetivo é, supostamente, avaliar as faculdades. Mas será que o Provão consegue realmente avaliar uma faculdade?
Primeiro problema: como avaliar 4 ou 5 anos de faculdade em 4 horas, numa única prova? Outra coisa: o Brasil é um país muito grande e possui realidades diferentes. Mas a prova é única em todo o país. Será que não há diferenças entre as regiões? O jornalismo em São Paulo é o mesmo que em Tocantins ou Curitiba? Difícil…
Supondo esses não fossem problemas: como saber numa prova o que o aluno realmente aprendeu na faculdade e o que ele aprendeu sozinho? Será que o aluno só responde o que aprendeu em sala de aula? E se ele fez outros cursos? Como separar o que ele aprendeu na faculdade e o que ele aprendeu no estágio? Por que não é aplicada uma prova ano a ano, para medir a evolução do aluno na faculdade?
Sem birra
São poucos os que afirmam que em 4 horas é possível fazer a prova de modo competente. E isso quem diz não são alunos, mas professores e profissionais do mercado de trabalho. A correção é tão bem-feita que mesmo que você conte como foi seu dia anterior na questão, você vai tirar alguma nota. O parâmetro é o seguinte: escreveu alguma coisa? Não importa o que seja, alguma nota vai ganhar…
Então, tá. Afora esses problemas, o Provão serve para melhorar o ensino nas escolas? Vejamos: uma vez feita a prova, haverá sempre escolas com conceito A, B, C, D e E. Não importa que nota tiraram, sempre haverá escolas com esses conceitos. O absurdo chega a ser tão grande que até 2000 era possível saber, antes da prova, quantas escolas iriam tirar A, quantas iriam tirar B, C e assim em diante. Era a famosa Curva de Gauss.
Mais tarde, a pressão de alunos com o boicote e com de manifestações de diversos profissionais, o ministro Paulo Renato anunciou a mudança desse método para o"desvio padrão". A única coisa prática que mudou efetivamente foi que agora não dá para saber em princípio quantas escolas vão tirar esses conceitos. Mas isso nem interessa. O fato é que se a nota média de um curso no Provão foi 4, e a maior nota foi 6, não tenha dúvida que as escolas que tirarem 6 vão receber o conceito A. Ou seja, mesmo a escola tirando A no Provão, não vamos saber se ela é realmente boa ou não, pois não sabemos se esse A é um 10, um 7 ou um 5. E nada impede que esse A seja um 4, um 3, um 2…
Muito contraditório, esse MEC. O ministério resolve liberar a criação de qualquer curso e nem verifica sua qualidade. Para quê? Depois que o aluno pagou quatro anos de faculdade, o MEC "avalia" o curso e verifica que a qualidade não é aceitável. É como se o MEC dissesse ao estudante "olha, a gente deixou abrir esse curso, mas agora que você está se formando, a gente viu que ele não é bom e, então, o seu diploma não vale nada".
Também não parece razoável que as escolas que mais precisam de ajuda (as que não foram bem avaliadas) acabam sendo punidas com cortes de verbas e de crédito. Desse modo as instituições que estão bem continuam recebendo apoio e as deficientes, em vez de receber ajuda, recebem punições. Por que o MEC não tenta melhorar essas escolas ruins em lugar de ficar lavando suas mãos?
Para terminar, é bom dizer dizer que o boicote não e feito por birra de estudante revolucionário. A Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), entidade que organiza o boicote ao Provão nos cursos de Jornalismo, durante mais de um ano de discussão e estudos criou um documento com as diretrizes que uma avaliação institucional deve ter. Ou seja, a enteridade não boicota por boicotar, mas tem proposta de uma avaliação decente para colocar no lugar.
(*) Estudante do Curso de Jornalismo da PUC-SP