ESCÂNDALOS NA IGREJA
Há décadas a imprensa americana sabe que há casos de abuso sexual de crianças por padres da Igreja Católica. Todavia, somente a partir de janeiro um assunto tão importante tomou grandes proporções com as reportagens do Boston Globe sobre o eventos ocorridos no arcebispado do cardeal Bernard Law, que foi conivente com os crimes. Em extenso artigo no mesmo Globe [28/7/02], Mark Jukowitz tenta analisar por que algo que já vinha ocorrendo há tanto tempo virou escândalo neste ano e se a mídia dá destaque ao assunto de forma injusta.
Ele cita Tom Roberts do National Catholic Reporter, que atribui o crescimento da importância da pauta ? que, para a sociedade americana, já é semelhante à da guerra ao terrorismo ? "aos holofotes da imprensa da Costa Leste", ao envolvimento de Law, que é figura importantíssima , e à obtenção pelo Globe de documentos restritos da Igreja, que levou ao leitor a fala da instituição, sem edição.
Para o monsenhor Francis Maniscalco, diretor de comunicações da Conferência Americana de Bispos Católicos, o estopim para o escândalo de grandes proporções foi a reunião de cardeais convocada pelo Vaticano. O fato de a questão ter chegado à mais alta esfera teria estimulado a imprensa. Jornalistas que normalmente não tratam de religião favoreceram um clima de especulação de que haverá mudança nos dogmas religiosos ou destituições dos cargos.
Markovitz, contudo, traz dados de pesquisas de opinião que mostram que, em geral, o público considera a cobertura da imprensa digna de credibilidade. Enquete de fevereiro na Arquidiocese de Boston, por exemplo, indica que 64% dos católicos da região rejeitam a idéia de que a mídia seja tendenciosa contra a Igreja.
Pesquisa do Center for Media and Public Affairs sobre o tratamento de temas católicos pelos grandes veículos de imprensa americanos nas décadas de 60, 70 e 80 concluiu que a Igreja era muitas vezes retratada de forma desfavorável porque os jornalistas tinham ponto de vista secular. No entanto, estudo de 1993 do Freedom Forum First Amendment Center não dá força à idéia de tendenciosidade. Mídia e religião seriam "duas culturas alienígenas" que não se entendem e não confiam uma nas outra.
PBS
Graças à descentralização da PBS, a TV pública americana, um apresentador que acaba de ser demitido por ela comanda programa exibido por 158 de suas 349 retransmissoras. Recentemente, a produção da TV pública de Maryland quis diminuir a importância de Louis Rukeyser no boletim sobre Wall Street que ele apresenta há 32 anos todas as sextas-feiras. Quando reclamou por se sentir injustiçado, acabou demitido e foi trabalhar na CNBC. No entanto, conseguiu negociar que seu programa na rede privada fosse exibido nos fins de semana em diversas estações que compõem a rede PBS, cujo regulamento delega poder de decisão aos diretores locais para que cada comunidade seja bem-atendida.
Pat Mitchell, presidente nacional da PBS, apoiou a decisão de Maryland de demitir Rukeyser, mas não pode evitar que ele tenha espaço nas 158 estações. Ela admite que a descentralização dificulta sua atuação. "A maior parte da televisão funciona como ditadura. Aqui é uma democracia."
David Bauder, da AP [29/7/02], comenta que, em termos de audiência, quase todos saíram perdendo. Desde que estreou, em abril, o programa de Rukeyser na CNBC tem média de 410 mil telespectadores ? o dobro do que o canal tinha antes, no mesmo horário. O programa que ocupou a brecha deixada na PBS é visto por 1 milhão de pessoas. Assim, as duas atrações juntas não conseguem somar o 1,7 milhão de telespectadores que Rukeyser tinha antes de ser demitido.