Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Precipitação e cautela

SEDE DE VINGANÇA

Alguns colunistas dos EUA, já no dia seguinte aos ataques, estavam prontos para ir para o front. Da tranqüilidade de seus editores de texto, estimulavam o governo a bombardear alguém ? qualquer um ? que pudesse estar ligado aos ataques, contou Howard Kurtz [The Washington Post, 13/9/01]. "A imprensa sempre foi um refúgio para instigadores de guerra", afirma David Corn, editor em Washington do Nation. "É uma reação espasmódica: temos que bombardear alguém. Temos que nos sentir bem. Temos que lhes mostrar que não podemos ser vítimas."

Steve Dunleavy, do New York Post, foi um dos que abriram fogo retórico. "A reação a esse inimaginável Pearl Harbor do século 21 deveria ser simples ? matem os bastardos", escreveu. "Um tiro entre os olhos, explodam-nos em pedacinhos, envenenem-nos se preciso. Quanto às cidades e países que abrigam esses vermes, bombardeiem-nos."

David Kopel, do National Review, disse: "Para evitarmos futuros ataques, os executores das infâmias de terça-feira devem ser totalmente destruídos, mesmo que tal ato infrinja a soberania territorial de nações que abriguem esses criminosos de guerra."

O colunista do Washington Post Charles Krauthammer afirmou que a guerra foi há muito declarada contra os EUA. "Até declararmos guerra em troca, teremos mais milhares de vítimas inocentes." Robert Kagan, do Carnegie Endowment for International Peace, foi categórico: "A única coisa que podemos fazer agora: ir à guerra contra aqueles que lançaram essa horrível batalha contra nós."

Declarações similares foram transmitidas pela TV. Lawrence Eagleburger, ex-secretário de Estado, disse à CNN: "Só há uma forma de começar a negociar com esse tipo de pessoa: matando alguns deles mesmo que não estejam diretamente envolvidos no caso." Na opinião de Rich Lowry, editor do National Review, os comentaristas não estão exagerando. "Não é necessário ter calma para dizer que vamos à guerra", disse.

O jornalismo tem feito o papel de provocador desde os dias em que William Randolph Hearst cutucou o país para a Guerra Hispano-Americana. Mas essa tendência foi ampliada por comentaristas de TV, afirma Ken Auletta, colunista de mídia da New Yorker. "Suas opiniões não estão ligadas a fatos, e essa se tornou a cultura de vozes que lideram na TV", disse. "Fazem pronunciamentos ? ?Temos que fazer alguma coisa!? ? e tal opinião obviamente reflete uma população que está frustrada e quer fazer algo."

O choque causado pelos ataques acabou por mudar a terminologia rígida que utilizavam. Se todas as organizações noticiosas descrevem os executores como "terroristas", antes evitavam o termo ao reportar ataques a civis israelenses, preferindo palavras como "homem-bomba", "organizações militantes palestinas" e "grupo palestino Hamas".

Em contrapartida, informa David Bauder [The Associated Press, 13/9/01], executivos de TV dizem que estão conscientes do papel da televisão como meio nacional para se obter e reunir informações e que estão sendo cuidadosos para não causar exaltação nos telespectadores. "Temos primado pela seriedade do tom e pela absoluta ausência de sensacionalismo", disse Andrew Heyward, presidente da CBS News.

    
    
                     
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