Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Preguiça e oficialismo nas redações

COBERTURA POLÍTICA

Chico Bruno (*)

A mídia brasileira, ao que parece, está contaminada pela preguiça e pela falta de criatividade. A cobertura dada ao dia-a-dia do país é muito ruim. Os poucos lampejos de competência são exceção. A cobertura do factual é a mais previsível possível. Todos os que por dever de ofício são obrigados a ouvir o noticiário diariamente expressam os mesmos sentimentos. A maioria se sente torturada pela pobreza de informação e de criatividade.

O que mais irrita é ver um monte de assuntos importantes, que poderiam ser aproveitados com competência, descartado pela imprensa. Nas últimas semanas foram muitos, como a rejeição pelo Senado de um indicado do presidente Lula a uma diretoria da Agência Nacional de Petróleo, a pressão de senadores e deputados do Piauí para que o Ministério da Saúde libere R$ 60 mil mensais para o custeio do Hospital Universitário do estado, a iminente paralisação da obra do Metrô de Salvador ? a verba do Banco Mundial, depositada no Banco do Brasil, aguarda a contrapartida do governo brasileiro ? e a não-liberação da verba de custeio para o pleno funcionamento da Embrapa.

Com exceção do nome rejeitado pelo Senado, os exemplos citados demonstram que, por preguiça ou falta de visão jornalística, a imprensa ainda não percebeu que o grande problema do atual governo é o imobilismo. A imprensa diariamente aborda o contigenciamento do orçamento da União, mas não se move para desvendar ao público o que essa palavra complicada produz no dia-a-dia da população. Imaginam, quem sabe, os responsáveis pela informação que a população saiba, como o sabem os jornalistas econômicos, o significado dessa palavra e suas conseqüências.

Sem paixão

Quais seriam as razões para a preguiça, a falta de visão e de criatividade dos meios de comunicação? Há muitas respostas, entre elas a grave crise financeira, a péssima qualidade da maioria dos cursos superiores de Jornalismo, o fato de os grupos de comunicação serem propriedade de políticos ? enfim, as respostas são muitas. Mas nada é empecilho para um jornalismo mais competente. O passado recente da imprensa brasileira demonstra isso com muita clareza, basta lembrar os tempos da resistência à ditadura militar. Naquela época, a imprensa independente conseguiu cobrir os acontecimentos diários com criatividade e levar a informação correta ao público, burlando o oficialismo das assessorias de divulgação dos generais-presidentes.

Hoje, infelizmente as redações são assépticas e silenciosas. Diferem em muito das de antigamente, barulhentas, mal cheirosas pela fumaça dos cigarros e cheias de focas que vibravam quando elogiados pelos editores, pois em cada elogio viam a perspectiva de receber novas missões mais trabalhosas, e a certeza de que um dia seriam promovidos.

O que responde verdadeiramente à questão é que hoje poucos nas redações têm paixão pelo jornalismo. Para a maioria é apenas um meio de sobrevivência como outro qualquer, daí a preguiça e a falta de criatividade reinarem absolutas. Infelizmente não se forjam mais jornalistas como antigamente.

(*) Jornalista