Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Premeditação é agravante

DOSSIÊ PERFÍDIA

A.D.

A prova de que aquela manchete não foi casual, mas armada com todos os requintes de perversidade e cinismo, está no complemento – a tal "remissão histórica". Aqui houve pesquisa e adulteração – coisa dessa não se faz em cima da perna, na hora do fechamento. Montada nas coxas (ou vizinhanças) não em função do relógio, mas da "pauta" – avacalhar aquele que estava avacalhando a credibilidade de um dos carros-chefe do Cartel Brasileiro de Mídia.

A pequena matéria contém três imensos equívocos:

** O artigo assinado por este Observador em outubro de 1998 e censurado pela Folha não pedia votos para Mário Covas. Dizia que Maluf era nefasto, fascista e sem escrúpulos. Também não pedia votos para Cesar Maia, dizia apenas que o PT e as esquerdas do Rio iriam logo arrepender-se da opção Garotinho. As duas afirmações confirmaram-se logo em seguida. A idéia de apresentar um jornalista pedindo votos para um candidato – procedimento-padrão na máfia de ACM – aqui teve a clara intenção de comprometer o autor. Não foi leitura em diagonal, foi deliberada manipulação de um texto reflexivo com o intuito de produzir o retrato de um profissional fazendo o jogo de candidatos, incapaz de aceitar diretrizes (no caso rigorosamente secretas, pois foram distribuídas apenas ao seleto grupo de opinionistas do primeiro caderno).

** O Prêmio Mundial Cara de Pau ou Concurso ACM de Cinismo deve ser dedicado ao segundo equívoco, as três linhas quase finais da "pesquisa" onde, para demarcar-se da "censura" praticada por este Observador, O Globo veste-se de anjo e informa que tem dado toda cobertura ao livro de Joca [veja as matérias na retranca Aspas desta rubrica].

** O espírito da COISA é
denegrir, desqualificar quem denunciou as manobras do Cartel para, assim, desqualificar
suas denúncias. Mostrar um contumaz criador de casos ao qual não
se deve dar muita atenção. Enganaram-se todos – do redator da
nota ao editor da página até o responsável pela vergonhosa
edição. O autor destas linhas não se considera um criador
de casos. Mas garante que este será um caso de estudo sobre um portentoso
jornalão que sucumbe à tentação de experimentar
o estilo marrom.

 

A.D.

O Globo e Folha de S.Paulo, ex-desafetos, agora parceiros mimetizados por mútua adoração, pretenderam passar uma esponja na história recente e mudar o registro de seus desempenhos. Usualmente o jornal paulista dá o tom. Desta vez, quem soprou no diapasão da malandragem foi o carioca.

Com a tal manchete do dia 8, O Globo tentou apagar o embargo – ou censura? – ao livro sobre ACM colocando este Observador no papel de censor. Ferrou-se.

As três matérias citadas na tal "pesquisa" como prova de lisura e isenção comprovam que o jornal está fazendo o jogo de ACM. Veja os títulos:

** Sábado, 27/1/01, pág. 3 (uma das mais importantes do jornal), título: "ACM contra-ataca na guerra dos livros" (não houve notícia do ataque – o livro do Joca – que motivou o contra-ataque). Subtítulo: "Presidente do Senado distribuirá a todos os parlamentares obra com acusações a Jader" (a tal "guerra dos livros" é uma forma de colocar o livro do Joca no contexto da guerra suja pela presidência pelo Senado, retirando liminarmente o seu valor como investigação jornalística).

** Terça-feira, 30/1/01, pág. 5 (ímpar, igualmente muito visível), título: "ACM divulga livro que faz devassa sobre Jader". Subtítulo: "Parlamentares negam-se a comentar obra e dizem que ela não deve influir em decisão do PMDB" (mesma tônica da anterior).

* Quarta-feira, 31/1/01, pág. 3, título: "Sarney mandou bilhete a Jader" (ainda a briga no Senado tentando envolver FHC na "guerra dos livros").

Este é o balanço da olímpica isenção e objetividade do Globo.

Quando a horda da Folha viu o manchetão do jornal-irmão, entrou na história. Com um pouco mais de cuidado formal, porém com a mesma falta de escrúpulo, insistiu em acusar este Observador como "censor". Ficou mal: sua única matéria sobre o livro do Joca foi para desqualificá-lo – "Desafeto de ACM lança biografia" (20/1/01), uma lauda de texto assinada por um opinionista da página 2 com notórias ligações acemistas.

A desastrada suíte da Folha saiu exatamente no dia em que O Globo fazia sua matéria-errata (sexta, 9/1/01, pág. 5, reproduzida na retranca Aspas desta rubrica). Estava atrasada e desmoralizada.

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