NEM TUDO SÃO FLORES
Sabiás emplumados e afinados, o jasmim exala sua doçura, a buganvília (ou bouganvíllea) cobre-se de flores, por isso no Brasil também é conhecida como primavera. O longo inverno acabou na hora certa ? um par de dias antes do início formal da estação primeira (neste ano, 23 de setembro).
No entanto, as lojas de roupas e as confecções estão indignadas com a meteorologia: torraram ainda em julho todo o estoque de roupa de inverno, colocaram nas vitrines as novas coleções de primavera-verão e o frio no centro-sul continuou até meados de setembro.
O faturamento despencou mas a culpa não é dos juros nem do FMI. A culpa também não é dos jornais que para comemorar a mudança da estação mudaram o visual das seções de previsão do tempo. Culpadas são as rotinas das redações: a meteorologia é pessimamente acompanhada.
Na Rede Globo, a temperatura mínima de amanhã acontecerá invariavelmente no sul do país e a máxima será registrada no norte-nordeste. Como se o brasileiro médio tivesse o dom da ubiqüidade morando simultaneamente em Porto Alegre e Teresina.
Nos recém-paginados mapas do tempo da grande imprensa não se menciona o nível de umidade, velocidade e temperatura do vento nem qualquer "fator de desconforto" às vezes tão importante quanto as máximas e mínimas. Para os pauteiros, meteorologia só é assunto quando há secas, inundações e o nevoeiro interrompe a ponte aérea Rio-SãoPaulo (porque o chefão ficou preso no aeroporto algumas horas).
Rádios concorrentes têm a previsão do tempo fornecida pela mesma prestadora de serviços e não é raro ouvir, em São Paulo, a mesma meteorologista fazendo a previsão na CBN e na Eldorado. A praga da terceirização tornou-se insignificante diante da praga do "pool".
Bons tempos aqueles em que jornalismo significava competição, diversidade e a previsão do tempo servia tanto aos hipocondríacos que queriam saber se deviam levar o guarda-chuva quanto aos lojistas e modistas preocupados com seus estoques.