Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Priscila Néri

EXCLUSÃO DIGITAL

"Tarifa cara impede maior inclusão digital", copyright O Estado de S. Paulo, 3/08/03

"Que a privatização da telefonia no Brasil, que acaba de completar cinco anos, popularizou o acesso ao telefone, ninguém questiona. Em 1998, o País tinha 22,13 milhões de linhas fixas instaladas e 589 telefones públicos em serviço. Este ano, até o mês passado, a Anatel já contava 49,43 milhões de linhas fixas instaladas e 1,35 milhão de telefones públicos em serviço.

Quando se fala da relação da privatização com a inclusão digital no País, entusiastas argumentam que a privatização representou um salto democrático, dando acesso fácil ao telefone a populações pobres. Os críticos, porém, afirmam que a mesma privatização permitiu o aumento das tarifas, um dos grandes empecilhos para avançar em termos de inclusão digital.

Segundo o Comitê para a Democratização da Informática (CDI), entende-se por inclusão digital políticas que permitem à população ter acesso a novas tecnologias e utilizá-las para melhorar sua condição social e/ou profissional. Um estudo do Ibope eRatings mostra que, apesar das crises dos últimos dois anos, o número de brasileiros com acesso à internet (seja de casa, do trabalho ou da escola) cresceu de 16,9 milhões no início de 2001 para 18,5 milhões no início de 2003. Ainda assim, este total engloba apenas cerca de 10% da população brasileira, e grande parte está concentrado nas classes A e B.

Para Marcelo Coutinho, diretor de serviços analíticos do Ibope eRatings, não basta dar acesso à internet para garantir um pleno aproveitamento da rede por parte das populações excluídas. Segundo ele, é preciso ampliar o acesso a ?crédito para pequenas empresas, cooperativas de exportação para pequenos produtores? e outros instrumentos que possibilitem que o ?excluído? utilize a tecnologia para melhorar sua vida.

De acordo com o Mapa da Exclusão Digital, pesquisa realizada em abril pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o CDI, 97,24% dos brasileiros que têm acesso à internet estão em áreas urbanas do País. As regiões com maior taxas de inclusão do País são Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. Os Estados mais excluídos são Maranhão, Piauí, Tocantins, Acre e Alagoas.

Para Sérgio Amadeu da Silveira, presidente do Instituto Nacional da Tecnologia da Informação (ITI) e autor de Exclusão Digital: A miséria na era da Informação, ?a privatização resolveu o problema da competitividade mas não ajudou a baratear a conexão?, o que é um dos maiores obstáculos para a ampliação do acesso à internet no Brasil.

Rodrigo Baggio, presidente do CDI, lembra que o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que tinha o potencial de ser o ?grande fundo de inclusão digital no Brasil?, virou uma ?frustração?. Criado em 2000, o Fust recebe 1% das receitas das empresas de telefonia. Já acumula cerca de R$ 3 bilhões que deveriam ter sido usados para informatizar escolas, bibliotecas e postos de saúde, mas que, por de divergências políticas, nunca saíram do papel."

 

CIBER-VANDALISMO

"Ofensa não é crítica, ou: A arte de lidar com o ciber-vandalismo ", copyright O Globo, 4/08/03

"Na semana passada enfrentei, pela enésima vez, os transtornos da ?liberdade de expressão? online. Uma ameba sociopata desandou a escrever bobagens ofensivas na área de comentários do meu fotolog, literalmente bloqueando o acesso às fotos.

Resultado: além de perder tempo apagando aquelas porcarias, tive que restringir a área de comentários a pessoas autorizadas, ou seja, as que já estavam na lista de favoritos. Novos visitantes precisam, agora, me enviar um email para que eu os inclua.

Uma pena, porque, diante dessa barreira, muita gente desiste. Digo por experiência própria, porque eu mesma já deixei de comentar várias fotos de que gostei em fotologs de colegas por causa disso.

Por outro lado, sob esse aspecto, o Fotolog funciona bem melhor do que os sistemas de comentários dos blogs, que ainda não criaram sistemas eficientes para deter ciber-vândalos, e precisam ser vigiados e ?capinados? constantemente.

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À medida em que mais e mais pessoas começam a ter blogs e fotologs, o problema passa a ser cada vez mais comum. Há alguns anos, decidir quais opiniões de leitores iriam ou não ao ar era atribuição dos editores das seções de cartas dos jornais, que se baseiam em normas claramente identificadas e em anos de traquejo e bom-senso.

Com a internet, e suas múltiplas opções de palpite, essa difícil atividade passou à esfera da decisão individual e, freqüentemente, solitária: ao contrário dos editores, que sempre têm com quem discutir casos complicados, blogueiros e fotologueiros trabalham em geral sozinhos – e muita gente ainda está meio perdida em relação ao assunto. Afinal, a liberdade de expressão é cara a todos nós (ou, pelo menos, à maioria) e apagar uma mensagem pode, efetivamente, representar um gesto de censura.

Ao mesmo tempo, críticas às vezes são difíceis de aceitar. Se mesmo o couro de rinoceronte que adquiri em tanto tempo de jornalismo não me torna imune a palavras duras, que defesa imunológica terá o blogueiro ou fotologueiro que se depara, pela primeira vez, com opiniões pouco favoráveis? Como agir diante da pluralidade de opiniões com que nos confrontamos no cotidiano da rede?

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Nos primeiros tempos do blog, eu ficava muito perturbada quando tirava algo do ar. Aos poucos – mas realmente aos poucos, e depois de muito bater cabeça com outros autores de blogs – fui me convencendo de que há uma linha entre crítica e ofensa. Nem sempre ela é clara, mas existe, e deve ser ela o parâmetro para o que fica ou o que não fica na área de comentários.

Opiniões dissonantes não são necessariamente ofensivas; já xingamentos, agressões gratuitas, provocações e palavrões não são, definitivamente, críticas que se devam ser respeitadas. As primeiras conduzem ao diálogo; as segundas, à destruição do meio-ambiente, já que blogs e fotologs são ecossistemas delicados.

Suas áreas de comentários são botequins virtuais onde, frequentemente, as mesmas pessoas se reúnem, todos os dias, para trocar dois dedos de prosa. Às vezes sai uma briga. É normal. Mas às vezes entra um pitboy pela porta adentro, quebra móveis e garrafas, agride os habitués. Aí já não há nada de normal. A freguesia estranha, fica infeliz, vai embora – e o point vai pro brejo.

Já vi bons e valiosos blogs morrerem por causa disso, e gente de bem sofrer, sinceramente, por causa de pedradas virtuais de vagabundos – quase sempre anônimos. É impressionante, aliás, constatar como as pessoas mais agressivas são, invariavelmente, as mais covardes. É tão fácil manifestar opiniões radicais no anonimato! Tão fácil investir contra o mundo por trás da proteção de uma tela! Não por acaso, o Slashdot, respeitado blog de nerds, atribui a alcunha de ?Covarde anônimo? a quem entra sem se registrar.

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Hoje já há certo consenso entre as várias comunidades online que freqüento: democracia é bom, desde que mantidas as regras básicas da boa convivência. Demarcar a linha entre crítica e ofensa é difícil, mas não impossível; é este equilíbrio que quem mantém um blog ou um fotolog deve procurar.

Comentários idiotas, mas não ofensivos, devem, de preferência, ser ignorados. Apagar um comentário não deixa de ser uma forma de resposta, e a regra de ouro para a grande mesa de botequim da comunicação, virtual ou não, já foi estabelecida há tempos pelo Millôr: ?Não se amplia a voz dos idiotas?.

Importante também é não se deixar pressionar pela gritaria das antas que, deletadas, gritam em nome da ?democracia? ou da ?liberdade de expressão?. Balela. A maravilha da rede é que, se eu não estou contente com o que você está diz aqui, posso muito bem abrir um blog ali adiante para contestar as suas palavras. Isso é democracia e liberdade de expressão; entrar num blog ou num flog para xingar e fazer pipi no tapete é falta de educação, grosseria, vandalismo."

 

RÁDIO

"Rádios iniciam ?maratona? pelos 450 anos de SP", copyright Folha de S. Paulo, 30/07/03

"Além de um bom motivo para a produção de eventos de lazer e cultura em São Paulo, a comemoração dos 450 anos da cidade já se transformou numa verdadeira corrida por anunciantes.

Em tempos de crise, os veículos de comunicação enxergam na efeméride uma oportunidade para ganhar fôlego. As TVs, como de costume, saíram na frente e começam a vender pacotes e mais pacotes ao mercado publicitário. Na Globo, até minissérie será produzida em homenagem à capital.

O rádio -um setor menos articulado do que o da televisão- acorda aos poucos para a possibilidade de transformar o 25 de janeiro de 2004 em chamariz para ouvintes e propaganda.

AMs, que sofrem com a queda progressiva de audiência e anúncios, vêem no aniversário de São Paulo uma chance de resgate de sua importância para a cidade – e para o mercado publicitário.

As principais emissoras estão em fase de definição dos projetos. Nesta semana, a direção da Jovem Pan (620 kHz) bate o martelo sobre a produção de especiais.

A programação de aniversário está prevista para estrear em dezembro e permanecer no ar até o final de 2004. Ou seja, a Pan ficará por um ano reforçando a marca de ?emissora com a cara de São Paulo?. Planeja explorar história, economia, curiosidade e comportamento do paulistano. O ?São Paulo Agora? já está recebendo no estúdio, uma vez por mês, personalidades ligadas ao município.

Os programas da Eldorado (700 kHz) também entraram na ?maratona?. Até janeiro, o ?Eldorado à Tarde? reservará o dia 25 de cada mês para uma homenagem a São Paulo. A série teve início no último 25 e falou sobre o parque Ibirapuera. Na próxima segunda-feira, os noticiários da estação colocarão na pauta curiosidades sobre a metrópole.

A Bandeirantes (840 kHz) ainda não fechou projetos concretos, mas elabora uma campanha sobre cidadania para ficar no ar de setembro deste ano a janeiro e articula parcerias com a prefeitura.

Fora isso, há iniciativas isoladas nas AMs para capitalizar o momento. É o caso, por exemplo, do ?Programa Gente que Fala?, da Trianon (740 kHz), que, a partir de setembro, realizará um debate semanal sobre São Paulo com políticos e acadêmicos.

A publicidade ainda não parece pronta a absorver essa ?onda?. Para Antonio Rosa Neto, presidente do Grupo dos Profissionais do Rádio, o freio no mercado fará com que a efeméride só seja levada em consideração, no mínimo, a partir de outubro. Mas, quando isso acontecer, quem já deu largada, obviamente, sairá na frente."