CÁSPER LÍBERO,
2013
Paulo Nassar
(*)
Tive um pesadelo.
É madrugada, chego para as aulas da Divisão Cásper
AM/PM, que oferece aos alunos, ininterruptamente e de forma conveniente,
cursos velozes de Jornalismo em Pílulas, Relações
Públicas em Lata, Publicidade e Propaganda a qualquer custo,
Turismo, Administração, Matemática, Medicina,
Engenharia, Relações Internacionais, Secretariado
e Comunicação Empresarial rapidinha. Antes de chegar
à sala de aula, passo por corredores estreitos onde, no chão,
estão impressas marcas iluminadas de empresas que patrocinam
cursos e professores ou têm produtos no negócio da
educação. Como sou um dos professores patrocinados,
dentro das dependências da escola uso um uniforme e um boné
com as marcas e as cores dos meus apoiadores.
Nessa questão dos patrocínios, nós, professores,
com mestrado e doutorado, somos muito disputados por fabricantes
de computadores, veículos de comunicação e
provedores de internet. Na Cásper, sou um dos últimos
professores de carne e osso à disposição daqueles
alunos que ainda vêm à escola ouvir a minha voz.
Uma pesquisa de marketing educacional mostrou que a maioria do
corpo discente prefere os professores-delivery. Suspeito que os
alunos que me procuram são atraídos por alguns objetos
que eu guardo em uma pequena caixa prateada: um punhado de gizes
brancos, folhas de prova, o último exemplar, em papel jornal,
da Gazeta Esportiva, um sapo de verdade do Rio Nilo e fotos
de alunos e de professores do ano de 2003.
Vocês não os esqueceram, não é?
(*) Jornalista, professor de Comunicação Organizacional
da Cásper Líbero; texto publicado originalmente em
A Imprensa, revista interna da Fundação Cásper
Líbero