THE BOOKSELLER OF KABUL
Quase um ano após Asne Seierstad, jornalista norueguesa, publicar The Bookseller of Kabul ("O Vendedor de Livros de Cabul", tradução livre), sobre a vida de uma família afegã, ela continua sendo destaque no mundo editorial escandinavo. Com 220 mil exemplares vendidos apenas na Noruega, seu livro é o maior sucesso de vendas entre obras de não-ficção de todos os tempos no país, com feito semelhante na Suécia e na Dinamarca.
É claro que ajudou bastante o fato de Asne, repórter de TV e jornal de 33 anos, que cobriu guerras em Kosovo, Afeganistão e Iraque, ser uma celebridade na Noruega. Mas seu depoimento da experiência vivendo com a família de um vendedor de livros, a quem considera um homem liberal para o mundo e tirano dentro de casa, chocou o público nórdico pela descrição íntima da condição das mulheres afegãs.
Em agosto, pouco depois que o livro foi publicado na Grã-Bretanha, alguns exemplares em inglês chegaram ao vendedor, chamado Shah Mohammed Rais. De acordo com Alan Riding [The New York Times, 29/10/03], inconformado com o que disse ser mentira, distorção e indiscrições perigosas, viajou para Oslo em setembro para denunciar Asne e entrar com processo contra a jornalista e sua editora, Cappelen. Desde então, esse tem sido o principal assunto público na Noruega, debatido em programas de TV e artigos de jornal das mais diversas estirpes.
Rais, de sua parte, listou uma série de imprecisões do livro, inclusive a alegação de que seus pais venderam sua irmã por 300 libras a fim de pagar sua educação. Ele também se sentiu ofendido com a descrição de sua mãe nua no hammam (banheiro público), entre outras coisas. Asne reconhece que esta descrição em especial foi desnecessariamente íntima e retirou o trecho da edição que está chegando agora aos EUA. Mesmo com algumas mudanças que poderiam aquietar Rais, o afegão não arredou o pé: contratou Brynjar Meling, renomado advogado, para representá-lo na Noruega e prometeu processar a autora e as editoras onde quer que o livro seja publicado.
Asne, por sua vez, disse estar confiante de sua vitória no tribunal. "Ainda acho que é um livro muito honesto", afirmou.