Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Pyr Marcondes

E-NOTÍCIAS

MERCADO

"Micropagamentos são a saída da web?", copyright Valor Econômico, 21/02/01

"A conta não fecha. Não há em todo o mundo um único executivo, empresário ou investidor da internet voltada ao consumidor, que não esteja hoje com essa frase martelando-lhe a cabeça: a conta não fecha!

O negócio digital tem sido pouco pródigo na criação de modelos comerciais tão inovadores e eficazes quanto a tecnologia revolucionária que lhe deu origem. A Internet B2C continua obtendo suas receitas a partir de poucas formas básicas de remuneração, a maioria delas conhecida do mundo físico desde os primórdios do comércio e da mídia: assinatura, publicidade, comissionamento pela venda (sites de leilão e de e-commerce em portais com shoppings), comissionamento pelo tráfego gerado (sites que faturam pelos acessos que produzem para as companhias telefônicas) e venda direta de produtos e serviços ao consumidor.

Todas e cada uma delas deveriam não só cobrir os custos da operação, como também garantir retorno ao empresário e ao investidor. Afinal, no mundo dos átomos foi e é assim. Mas o mundo dos bits desafia as leis mais naturais da economia e, nesse mundo, a conta não fecha.

A gratuidade de acesso não era algo propriamente novo quando surgiu como alternativa ao já usual acesso pago. Mas era ousado. Tinha o jeitão da internet: democratização do conteúdo ao preço da liberdade digital da informação. Ou seja, de graça. O retorno, rezava o modelo de negócios, viria da propaganda e do comércio eletrônico que, por sua vez, sobreviveriam no esteio das altas audiências que o grátis geraria.

Mas nem mesmo as altas audiências (quando aconteceram) bancaram o jogo e o modelo ruiu.

O drama é que nem mesmo o modelo pago se paga. Ao menos é o que mostram os balanços, de ‘start ups’ a poderosos e visitadíssimos ‘players’ do mercado, todos aguardando que seus números conheçam as, até hoje distantes, maravilhas do azul.

A internet não nasceu associada à idéia de lucro

A Internet que dá certo é a dos negócios. Negócio de um lado, negócio de outro. O B2B é já, dezenas de vezes, superior ao seu similar popular. E ainda nem começou a crescer.

Há, no entanto, uma curiosa tese que circulou na mídia norte-americana há algumas semanas e que, apesar de até agora não ter sido debatida por aqui, nem ter gerado grandes debates por lá, pode conter um pequeno segredo de pote mágico. E dentro dele, uma conta azul.

Ela defende os micropagamentos como a saída para a Internet voltada ao consumo. A tese pressupõe que propaganda e/ou comissões, sozinhas, não sustentam o modelo. E que, ao invés de se cobrar mensalidades fixas pelo acesso e pelo conteúdo, melhor seria instituir microvalores por páginas vistas. Assim, quem usa mais, paga mais. Quem pega leve, paga menos.

Áreas de entrada, como as home pages, seriam gratuitas. O resto – serviços, games, busca, notícias, chat, o que for – pago pelo uso. Há, de fato, pesquisas indicando que pequenos pagamentos não assustariam os internautas e, em sendo assim, a fonte da nova receita poderia garantir o resultado positivo que todos desejam.

Na teoria, faz sentido. Muitos dos pioneiros da www (world wide web), mesmo os que abominavam a presença da publicidade em seus domínios, imaginaram que um modelo comercial justo para o que acabavam de inventar poderia muito bem ser pequenas contribuições por conteúdo visitado.

Afinal, mesmo finos intelectuais de nobres causas ganham seu pão cobrando pelo acesso público a sua produção privada. Por que não na Internet?

Talvez esteja aí o problema original: a internet não nasceu associada à idéia de lucro. Ele é fruto de uma invasão comercial que chegou afobada e chegou depois.

Mas nem tudo são espinhos, no tênue horizonte dos donos da internet. Em meu próximo artigo, no mês que vem, nesta mesma coluna, espero poder contar ao caro leitor como é que andam as estatísticas que dão conta de um princípio de retomada dos investimentos publicitários na Web. Isso mesmo. Aquilo que, para quem é do ramo, era página virada, começa a renascer das cinzas, pós-queda da Nasdaq (aliás, a própria Nasdaq, há semanas, não cai mais à velocidade que caia antes).

Vou explicar tudo melhor e mais detalhadamente então, mas alguns dos fatores responsáveis pelo fenômeno seriam a entrada mais pesada das grandes empresas da velha Economia no mundo digital B2C e o início do uso de novos recursos tecnológicos, como o flash, na publicidade on-line. Entre outros.

O flash, para quem não sabe, é um programa de animação de imagens para a web, que permite aos criativos da propaganda produzirem suas idéias com muito movimento e muita cor, mas em arquivos não muito pesados, que rodam até mesmo em computadores sem grande estrutura de memória ou velocidade.

Mais para frente, com a banda larga que chega aos poucos, a publicidade online vai sofrer uma revolução, como de resto, toda a rede. Vou falar sobre isso também.

Por hora, talvez fosse o caso de investigar a tese dos micropagamentos. Quem tem estrutura e já tentou de tudo, sem bons resultados, talvez possa fazer microexperiências práticas, para ver se funciona. Ninguém vai quebrar tentando. Mas, se der certo, quem sair na frente chegará primeiro ao ‘break even’ . Que seja. (Pyr Marcondes é diretor de conteúdo e marketing da tv1.com e ex-diretor geral da StarMedia)"

"Sob profunda observação", copyright no. (www.no.com.br), 21/02/01

"A Nortel é de longe a maior empresa do setor de tecnologia no Canadá. O anúncio de que os resultados trimestrais decepcionariam gerou uma espécie de crise nacional, e o CEO da empresa, John Roth, foi vilipendiado pela imprensa (Globe & Mail). Se não serviu para mais nada, o episódio deixou claro que a imprensa de hoje acompanha eventos econômicos e financeiros com a mesma sofreguidão que antes era reservada para celebridades dos mundos do esporte e do entretenimento. Segundo David Crane, colunista do Toronto Star, isso acontece por causa da competição entre meios de comunicação, que gera uma demanda cada vez maior por notícias.

A fixação por resultados trimestrais não é novidade. Relativamente recente é o foco na capacidade da empresa atingir o ‘consenso do mercado’ para seus lucros. A colunista Louise Kehoe explica no Financial Times de onde saem esses números, e argumenta que um centavo de diferença não diz nada sobre as perspectivas da empresa.

A imprensa às vezes parece ter uma atitude um pouco esquizofrênica com relação a novas tecnologias. O Wall Street Journal de hoje, por exemplo, traz na sua seção de tecnologia dois artigos no mínimo contrastantes: um deles questiona (pela enésima vez) as perspectivas para a telefonia móvel de terceira geração (3G). Aparentemente ninguém descobriu ainda uma aplicação dessa tecnologia sedutora o bastante para justificar seus custos. Por outro lado, um segundo artigo promove as maravilhas da quarta geração (4G), que não estará no mercado antes de 2010, na melhor das hipóteses.

Mas nada se compara com a fixação da imprensa especializada nas palavras dos ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais no que diz respeito a taxas de câmbio, como vem aprendendo o secretário do Tesouro americano, Paul O’Neill. Apesar de não ter dito nada de extraordinário (editorial, Financial Times, International Herald Tribune), O’Neill descobriu que qualquer comentário além da fórmula usada hipnoticamente por seus predecessores (‘Um dólar forte é do interesse dos Estados Unidos’) será interpretado como uma mudança de política e terá impacto nos mercados (Wall Street Journal).

Jornalismo econômico nunca foi fácil, e fica a cada dia mais complicado. Se isso não bastasse, os profissionais dos principais jornais americanos sabem que há um economista qualificado checando tudo o que eles escrevem.

Comércio, livre

O New York Times nota hoje, com um certo atraso, que o embargo do boi causou uma crise diplomática séria entre Brasil e Canadá. Essa crise parece dificultar a negociação de um Acordo de Livre Comércio das Américas – negociação essa que não seria jamais simples. Um editorial do Financial Times de hoje sugere que a ênfase na Alca é um erro do governo Bush; segundo o FT, uma nova rodada multilateral na OMC (Organização Mundial do Comércio) tem um potencial muito maior de benefícios para os participantes, e não seria tão mais difícil de negociar.

Uma nova rodada multilateral seria para o Brasil uma alternativa superior à Alca, onde o país parece estar mais ou menos isolado nas suas posições de negociação. No âmbito global, é mais fácil encontrar países com interesses semelhantes aos nossos. Um exemplo: segundo o New York Times, as empresas da Austrália são muito pequenas para competir globalmente, mas muito grandes para o seu mercado interno, onde a Australian Competition and Consumer Commission, o Cade de lá, costuma adotar posições relativamente inflexíveis. A fusão com empresas estrangeiras não é politicamente aceitável, criando um dilema para os executivos daquele país. Esse pode parecer um tema doméstico, mas políticas de competição têm grande chance de fazer parte da pauta de uma nova rodada na OMC.

Enquanto uma nova rodada não acontece, é preciso trabalhar dentro das regras atuais. Um possível exemplo vem (surpresa!) do Canadá. Nos últimos 36 anos vigorou um acordo automotivo entre aquele país e os Estados Unidos, segundo o qual as empresas americanas produziam um número de veículos pelo menos igual ao que vendiam no país. O acordo foi considerado ilegal por um painel da OMC, e o governo canadense estuda que tipos de incentivos oferecerá para manter a competitividade da indústria. A solução defendida pelos sindicatos seria um fundo para financiar pesquisa e desenvolvimento (Toronto Star).

Fim da dívida

O governo americano vive uma situação incomum: os superávits fiscais permitem que ele resgate sua dívida. No cômputo geral, isso é uma boa coisa, pois permite que as taxas de juros de longo prazo caiam. Mas a redução da dívida cria problemas para o Fed (Federal Reserve), que executa sua política monetária através da compra e venda de títulos públicos. Segundo o Washington Post, o Fed já estaria trabalhando no tema, e uma das alternativas em consideração seria o uso de uma carteira de títulos dos estados e municípios. Por outro lado, se depender dos empreendedores filipinos, esse problema nunca se tornará crítico (AP/New York Times)"

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