TEXTO JORNALÍSTICO
Cláudio Weber Abramo
Como todo jornalista de hoje é informado na primeira vez que entra numa sala de aula ou numa redação, o texto jornalístico deve ser curto, ir direto ao ponto (daí o "lead"; para registro, informo que jamais escrevi um "lead", uma vez que para ir ao ponto geralmente se demanda mais do que a simples exposição daqueles quatro ou cinco "quem", "quando", "onde" etc.), evitar desvios, centrar-se na informação "dura". O repórter deve eliminar expressões de sua própria opinião etc. Interrompo a lista por aqui, para não chover excessivamente no molhado.
Tal normatização traz problemas não irrelevantes. Para começo de conversa, o que é informação "dura"? Um ônibus que demole uma casa é informação dura? Parece ser, em especial se acompanhada do estado técnico da rua e do ônibus, da carga horária imposta ao motorista e assim por diante – algo que, quanto mais se afasta do evento originador da notícia, menos é noticiado.
Um xingamento do ACM contra o Jader Barbalho é informação "dura"? Os jornais tratam como se fosse, mas ali, na batatolina, está longe de ser. Para ser informação "dura", o repórter precisaria interpelar o acusador, exigir dele evidências da veracidade do que afirma, ir ao acusado, expor o que ouviu, ouvir a resposta, verificar os fatos ou não-fatos alegados etc. – coisas que, até onde chego, ninguém nunca faz.
As regras da "boa redação jornalística" não são, em princípio, erradas (fora o "lead", que é uma bobagem). É possível segui-las sem trivializar o texto. Contudo, são raros os repórteres (e os editores) que conseguem ao mesmo tempo obedecer às regras e escrever (editar) textos não burocráticos.
Afirma-se que são os jornais que impõem essas regras e, assim, afogam o repórter. Em minha experiência, nunca vi um sujeito escrever bem e ter seu texto criticado por não obedecer à receita. A receita precisa ser imposta nas redações porque as pessoas escrevem mal.
Como o resultado da aplicação das regras é ruim, isso nos leva de volta a elas. Como modificá-las para, a um tempo, fazer frente à necessidade de informar o máximo num espaço finito e evitar o texto idiota?
Submeto que isso só se consegue por meio de sistemas de gerenciamento de redação que incluam a formação e acompanhamento do repórter por parte de editores dotados da apropriada consciência profissional. Há carência de tais editores, é verdade, mas nada impediria as empresas (e as escolas) de buscá-los e formá-los.
Disse que nada impediria. Não é estritamente verdadeiro. Há razões econômicas. Idealmente, essas razões precisariam ser revisitadas em nome de uma melhor prestação do serviço.