Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Quanto vale um diploma de jornalista?

DIPLOMA EM XEQUE

Ruben Dargã Holdorf (*)

A inepta exigência do diploma para o exercício legal da profissão de jornalista torna-se ilegítima quando a faculdade que confere ao estudante tal documento não disponibiliza o instrumental para o exercício competente, esse sim importante. A obrigatoriedade de se passar pela faculdade, nesse caso, parece mera proteção ao mercado de trabalho para aqueles que nele já se encontram. Isso fica evidente quando se nega ao estudante até mesmo o direito ao estágio. É absurdo pensar que a simples passagem pelos bancos da "Escola de Jornalismo" capacite o estudante a atuar em um veículo de informação, principalmente quando a faculdade não está adequada ao mercado.

Admite-se um relativo atraso nesse caso, já que são as necessidades de mercado que ditam as mudanças que devem ocorrer no ensino, e muitos dos professores não podem prevê-las. Por isso, é justo que os alunos produzam seus veículos de informação, no caso específico do jornalismo, em uma velocidade menor do que a real, pois se trata não apenas de um meio de avaliação como também de experimentação, autocrítica e aperfeiçoamento de textos, da qualidade gráfica, política editorial, ética e respeito aos princípios de livre expressão e outros fatores que determinam uma boa formação acadêmica.

Porém, se os dois primeiros anos são alijados da prática, protelando para o terceiro ano uma tentativa de produção, enquanto a notícia do "mundo real" é divulgada praticamente ao mesmo tempo em que o fato noticioso acontece, então algo está errado. Não é preciso argumentar muito nesse caso.

Logo, o que se percebe não é uma defasagem do conteúdo jornalístico em relação ao que acontece na imprensa, e sim a sua deficiência, principalmente a de ordem e estrutura curricular. O atraso da prática é apenas um dos fatores que fazem com que o valor moral do diploma de jornalista caia. Na verdade, é a prova mais palpável dessa queda.

Aqueles que realmente desejam trabalhar como jornalistas, nesse contexto, ficam perdidos entre duas situações. De um lado a "Escola de Jornalismo" nega um ensino baseado na realidade ? muitas vezes, nega o ensino ? e, de outro lado, a lei nega a realidade, impedindo até mesmo um período de estágio. Por isso, algumas faculdades apresentam experimentalismos, questionados por arrogados entendidos. E até há erros. Não havendo prática de qualidade desde o início, o curso perde o sentido de ser. Os experimentos e os erros têm a ver com o fato de ser apenas um "laboratório" e, em meio a tantas contradições e negações, ninguém pode modificá-los, a não ser o estudante, pois é o pouco que resta para sua formação.

(*) Jornalista e professor em São Paulo, mestrando em Educação

    
    
                     

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