Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quase uma URSS

RÚSSIA

Enquanto bombas explodem na Chechênia e surgem suspeitas de que a Rússia pode ter ajudado os iranianos a construir sua bomba atômica, as três maiores redes de TV do país mostram um presidente Vladimir Putin sorridente e simpático. A imagem que a mídia russa tem feito do líder, um sisudo ex-agente da KGB, indica que seu domínio sobre a imprensa pode estar ultrapassando os limites.

Nick Paton Walsh, correspondente do Guardian [6/10/03] explica que a pressão sobre os veículos de comunicação deve aumentar de agora até março, período em que a Rússia realizará eleições parlamentares e presidenciais.

Está claro que a aprovação popular de mais de 80% de Putin se deve a um controle "quase soviético" sobre a mídia. As publicações e emissoras que ousaram criticar autoridades, num breve período pós-comunista de florescimento da liberdade de imprensa, estão quase todos fechados ou nas mãos do governo. O canal NTV, um dos mais críticos, foi comprado pela companhia estatal de gás Gazprom, em 2001. Em junho, a última estação independente de TV, a TVS, foi fechada com a desculpa de que ia mal financeiramente ? e ela nem era muito contrária a Putin. A simples possibilidade de vir a criar dificuldades foi suficiente para a intervenção do Ministério da Informação.

Fim do jornalismo político

Uma lei eleitoral limitou sobremaneira a atuação da imprensa. Ela proíbe, sob pena de fechamento do veículo, publicar qualquer opinião sobre os candidatos, suas campanhas ou suas personalidades. Na prática, isso acaba com o jornalismo político.

Alexei Pankin, editor da revista Sreda, acredita que o governo tem mesmo que intervir, pois "99,9% do que é dito é pago por dinheiro sujo". "A lei não é suficientemente estrita. Putin sabe o suficiente sobre a mídia russa para perceber que tratá-la como uma imprensa livre seria risível", completa.

A internet atualmente se tornou reduto dos dissidentes. Sítios como newsru.com e gazeta.ru não têm medo de falar mal da violenta repressão russa aos separatistas chechenos, por exemplo. O problema é que apenas 12% da população têm acesso à rede.