AFEGANISTÃO
Memórias do cárcere
O jornalista francês Michel Peyrard, recém-liberado pelo Talibã, relata em matéria para a Paris Match os 25 dias que passou preso por ter entrado ilegalmente no Afeganistão, usando uma burca (véu que cobre a mulher dos pés à cabeça).
Peyrard observa que entre os presos, muitos eram líderes de outras tribos e religiões que se aliaram à milícia somente no final da guerra civil. O Talibã, temendo que os últimos a se alistar fossem os primeiros a se rebelar, começou a lotar seus centros de detenção. A suspeita paranóica de deslealdade de seus aliados e o ódio dos cidadãos afegãos poderiam representar uma grande ameaça de dissolução interna do regime, acredita o repórter.
Suzanne Daley [The New York Times, 9/11/01] conta que os próprios guardas da prisão revelavam a Peyrard sentimentos ambíguos em relação ao governo. Um jovem reclamava que os mulás "só pensam em si mesmos". "Quando os americanos começaram o bombardeio, eles deixaram suas famílias a salvo no Paquistão. Mas eu não vejo minha própria esposa há dois meses", desabafou. Diretor do centro de detenção, Qari Zever também expressou suas dúvidas a respeito do regime, mas acredita que deixar seu posto é impossível. "Não tenho escolha. Ninguém deixa o serviço de inteligência do Talibã."
Mas mesmo um guarda que se queixava da vontade de ouvir música novamente ficou indignado ao ver os folhetos de propaganda americana, que mostravam foto da polícia talibã espancando uma mulher, ao lado da frase: "Este é realmente o futuro que vocês querem para suas mulheres e crianças?". "Quem são estes americanos para interferir em nossos costumes?", retrucou.
EMBOSCADA AFEGÃ
Renato Ruggiero, ministro do Exterior italiano, disse que quatro jornalistas foram atacados de emboscada e em seguida mortos. Ruggiero, em comunicado oficial aos repórteres presentes no encontro de ministros do Exterior da União Européia, realizado em Bruxelas, afirmou que "por meio de contatos com a unidade responsável pela crise no Afeganistão, há evidências de que os quatro corpos encontrados correspondem aos dos quatro jornalistas."
Harry Burton, câmera australiano da Reuters, Azizullah Haidari, fotógrafo da Reuters natural do Afeganistão, Julio Fuentes, jornalista do diário espanhol El Mundo e Maria Grazia Cutuli, correspondente do italiano Corriere della Sera, viajavam do Paquistão a Cabul, capital afegã.
Os corpos estariam embarcando para o país de origem por meio da Red Cross em Cabul. As informações são da Reuters (19/11/01).