QUALIDADE NA TV
ASPAS
JOÃO GORDO
"Aqui no site ninguém acredita no que circula pela internet, mas se é verdade, como denuncia, veemente, um e-mail da leitora Mirian Macedo intitulado ‘podridão’; se é verdade que o último programa Gordo a Go-Go fez um especial sobre sado-masoquismo, com gente lambendo solado de bota, outro sendo chicoteado e um homem atado a um coleira comendo num prato de cachorro; se é verdade que o João Gordo mostrou toda essa nojeira e ria muito, dizendo ‘satânico’ e ‘maior podreira’ quando os caras partiam para um sexo oral hard-core; se é verdade toda essa decadência lamentável que rola na boate A Loca e no grupo Textículos de Mary, prejudicando, à meia-noite, a formação dos filhos adolescentes de Mirian ; se é verdade tudo isso, infelizmente não há como negar: perdemos todos um grande programa.
Há uma enorme atração pelo que se supõe lixo televisivo, e agora quem está escrevendo é o leitor Edmilson Silva. Ele diz que não vê novela, mas que estava passando pela sala quando viu ?uma cena de fazer Pluft, o fantasminha camarada rir de gargalhar?. Em Um anjo caiu do céu, Susana Werner recebe um tiro à queima roupa e a técnica e propulsão do sangue, cada vez mais afiada na Globo, faz jorrar o líquido na loura. No meio da barriga. Jorrou muito sangue, diz Edmilson que, como não vê novela, já dava a moça como morta. Ledo engano. No capítulo seguinte, ela estava em pé e curtindo com a cara alheia: tsk, tsk, pegou só de raspão.
Os leitores só escrevem sobre o lixo, os críticos de televisão só falam do programa do João Kleber todos os dias, e é isso também que está escrito na pesquisa encomendada pelo pessoal das televisões fechadas: 74% dos assinantes vêem preferencialmente a tevê aberta. Os shows populares exigem menos? Rendem mais história no dia seguinte no escritório? Dão a sensação de que você é superior? Zeram o QI depois de um dia massacrante? Talvez fosse o caso de pedir ajuda aos universitários para tirar essas dúvidas, mas é bem possível que nesse momento eles estejam vendo o programa do Datena, na Record, aquele que bota um helicóptero sobrevoando qualquer acidente na Marginal e dá ao acontecimento, pelo ao vivo, pela dramaticidade de sua locução, ares de épico. A falsa manchete. Lixo jornalístico também, como cutucou em e-mail o leitor Moacir Ramalho. Mas por que ninguém escreve ao coronel para falar do especial sobre jazz que a GNT vai mostrar em dez capítulos? E a cobertura da CNN nos conflitos na Palestina?
A televisão a cabo custa R$ 70 por mês e tem dado sono. A leitora Cecília Rosas nesse momento deve estar dizendo: ?E depois dos Beatles não surgiu nada igual?. É como ela e sua irmã costumam brincar diante de alguma constatação óbvia, que consideram clicherosa, como a que foi feita aqui, semana passada, sobre a falta de rebeldia no videoclipe em branco dos ídolos teens. Mas não seria o caso. O fracasso da tevê fechada na missão de segurar quem lhe sustenta é tão esquisito como (quem passa a notícia é o leitor Luiz Pryzant, também de olho no lixo televisivo) aquele ator manjado de comerciais que anda se dizendo médico e sugerindo uma visita ao urologista, pois ele também já teve problemas de impotência e deu a volta pra cima. A televisão fechada, que viria para espantar o sono de ver de novo a Feiticeira espanando o vídeo com os dois glúteos, é tímida. Nova rica, tem medo de incorrer em mau gosto. A pesquisa de audiência mostrou que o da poltrona paga o cabo de 70 paus para ver desenho animado e jogo de futebol. O resto é traço. Muito enlatado, jornalismo frio, um falso bom gosto de gente que acabou de reconhecer o talher do peixe, mas corta o robalo com o mesmo movimento que destrincha a picanha. Tudo muito aborrecido. A não ser quando o João Gordo, que não tem nada a ver com a hipocrisia moralista dos ratinhos, faz sua podreira satânica e sacrifica o bode com chicote sadô."
TV PÚBLICA
"As emissoras públicas brasileiras são tão ou mais atraentes para os assinantes de TV paga do que várias emissoras comerciais, voltadas à informação e mesmo ao entretenimento, e ligadas a grandes grupos de mídia, nacionais ou internacionais. Para quem se acostumou a imaginá-las no fim da fila da audiência, eternamente ?coitadinhas? entre resplandescentes e pujantes estações privadas, esse é mais um resultado surpreendente do primeiro relatório do Ibope sobre o consumo de TV paga em São Paulo e no Rio, divulgado há pouco e já comentado, em parte, nesta coluna.
A televisão pública já dava sinais de prestígio na boa receptividade da programação da TV Cultura de São Paulo e da TVE do Rio de Janeiro, assim como no crescente sucesso da TV Senado, que desde a CPI dos Precatórios, em 1997, transmite ao vivo os inquéritos, os discursos, as lágrimas de crocodilo e demais elementos das crises parlamentares. Mas, agora, há números para comprovar que o prestígio não vem de uma admiração distante, mas de efetiva audiência. Os assinantes de televisão, ao menos os paulistas e os cariocas, assistem, sim, aos canais públicos e dedicam mais atenção a eles do que a outros canais, privados.
Em volume de audiência, entre todos os lares dotados de televisor, e em participação na audiência, entre os televisores ligados, os números são bastante modestos. Ficam sempre abaixo de 1%. Mas, ainda assim, a Cultura, a TVE-Rio, os canais universitários e comunitários têm mais público na TV paga do que a CNN, a CNN em Espanhol, a BBC e a Bloomberg. Superam ou empatam com Futura, Band News e E! Entertainment. E perdem por pouco para Globonews, Discovery, GNT e People & Arts .
Mas há um indicador novo na aferição de audiência da TV paga, que ilustra melhor o poder da TV pública. É o ?alcance? do canal, ou a média de telespectadores que passaram pelo menos um minuto por ele, ao longo de um período. Nesse índice, a Rede Pública (Cultura e TVE) obteve ao longo de abril 14% ante 12% do Discovery, 11% da Globonews, e 9% de GNT e People & Arts. Os canais universitários e comunitários do Rio e São Paulo, somados, obtiveram 4% de alcance, índice igual ao da CNN e superior aos 3% da Band News, do E! e da CNN em Espanhol, aos 2% da BBC e da Bloomberg, e ao 1% da STV (ex-TV Senac).
A amostra do Ibope cobre um universo de 3.555.117 telespectadores de TV paga, nas duas maiores cidades brasileiras. Trocando em números as percentagens, observa-se que passam mensalmente pela Cultura-TVE 497.716 pessoas, nos sistemas de cabo e miniparabólica; pelo Canal Universitário de São Paulo (CNU) e TV Universidade do Rio de Janeiro (UTV), outras 142.204 pessoas; e o mesmo volume passa pelos canais comunitários. É pouco, perto do que atinge uma Globo, mas é muito mais gente do que se supunha.
Os dados sobre as emissoras legislativas (TV Senado, TV Câmara e canais estaduais/municipais) não foram especificados pelo Ibope, nessa primeira pesquisa da TV paga. Mas os resultados dos demais canais públicos deixam claro: é bom o mercado não desprezá-los como ?mídia menor?, torcendo o nariz quando ouve falar deles e deixando-os à míngua do investimento publicitário, que pode ajudá-los a crescer e melhorar. Porque o telespectador, seguramente, tem interesse neles."
DIGITAL
"Digitalizar para não morrer. Essa é a solução encontrada pelas emissoras para não deixar que seus acervos de imagens sumam com o tempo.
Silvio Santos deu início neste mês ao processo de digitalização do acervo do SBT. São cerca de 50 mil horas de gravações que, atualmente, ocupam uma área de 1.500 metros quadrados na sede da emissora na Anhanguera, na capital.
Com um investimento de US$ 10 milhões, o novo arquivo digitalizado do SBT deve ficar pronto em cinco anos, preservando, entre outras coisas, perólas como as primeiras edições do Boa Noite Cinderela e os primeiros programas apresentados por Silvio Santos na extinta Tupi (1950/ 80).
Segundo o gerente do projeto, Mário Sérgio Mattos, o software utilizado é o Media 360, que chega a armazenar o conteúdo de 15 fitas de 1 hora numa única fita do sistema robotizado.
?Além de facilitar a utilização de nosso acervo na chegada da TV digital, o arquivo digitalizado preserva melhor o histórico da emissora?, explica Mattos. ?Nem tudo será digitalizado, daremos prioridade para o conteúdo que marcou esses 20 anos de SBT, como alguns clássicos do programa Silvio Santos e jornalismo?, continua. ?Em alguns anos, quando o sistema estiver todo consolidado, as produções dos programas poderão acessar as imagens do acervo de seus próprios computadores.Um programa de retrospectiva será montado mais rápido que nunca.?
Segundo Mattos, a partir de julho alguns conteúdos do acervo já estarão digitalizados, à disposição da equipe do SBT. ?Isso também irá facilitar a venda de programas da emissora no exterior?, diz.
Projetos- Outras emissoras também estão preocupadas com a era digital. A MTV já digitalizou metade dos 10 mil clipes que possui em seu acervo.
A Record já está em processo de recuperação de seu histórico de imagens para um projeto futuro de arquivo digital. A Band também anuncia que tem planos nessa área para o próximo ano.
A Globo, por sua vez, reforça que já está investindo em digitalização há sete anos. A emissora informa, por meio de sua assessoria, que cerca de 70% de toda a programação que é produzida hoje já está em formato digital e prevê que em dois anos terá atingido a marca dos 100%.
Como parte do plano de digitalização, a rede dos Marinhos pretende implantar até o final de 2001 toda a infra-estrutura de seu acervo digital.
Para a emissora, as vantagens da reutilização do material do arquivo digital não se limitam à agilidade no processo de produção. A Globo vê na digitalização um modo de comercializar melhor seus produtos (para agências de notícias, outras emissoras) e de preparar-se para a chegada da TV digital."
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