CONCURSO
Fácil adivinhar: Gisele Bündchen.
Com este nome, este trema e o perturbador rosto de heroína
viking, a supermodelo está na capa de Elle (Editora
Abril), vestida com uma bandeira brasileira e o surpreendente título
? "A cara do Brasil".
Que Gisele é a mulher mais desejada do país e uma das mais desejadas do mundo não se discute. Merece. Mas representar a mulher tipicamente brasileira é uma licença poética levemente exagerada.
Essa coisa de "fulano é a cara disso ou daquilo" lembra sempre o presente de aniversário fuleiro que lhe enfiam na mão com a desculpa "achei que é a tua cara…". Não dá nem para abrir o embrulho…
A mídia brasileira é uma colossal maquina de triturar palavras, frases, idéias, pessoas, instituições e até sonhos. Tudo fica oco, esvaziado, marquetizado e monetizado com incrível velocidade. Achados são abusados, invenções hoje são fósseis amanhã, as poucas tiradas viram bordão, não dá nem para reciclar ? lixo precoce.
Todos se lêem, todos se imitam, todos se citam, todos se copiam, se aplaudem e, naturalmente, se acham formidáveis. O curto circuito regenerador foi interditado pela preguiça e a mídia, teoricamente a fonte de criatividade e engenho, tornou-se uma grande estação repetidora, armazém de lugares-comuns, depósito de frases de efeito sem efeito.
Recuperada nossa auto-estima, a divina Gisele tem todos os atributos para ser escolhida como a cara do Brasil. Em compensação, a deslumbrante Camila Pitanga será a cara da Suécia e Nicole Kidman a cara do Iraque.