Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Questão de ética e de qualidade

ENTREVISTA POR E-MAIL

Para economizar tempo e aumentar a produtividade, muitos jornalistas estão recorrendo à entrevista por e-mail. Mas esse "poupa-tempo" tecnológico pode ser perigoso, de acordo com reportagem de Michael Bugeja [Editor & Publisher, 29/8/03].

Há três pontos centrais que precisam ser avaliados jornalisticamente: a autenticidade das citações literais ? não há como saber se alguém respondeu às perguntas no lugar da fonte; o elemento de interesse humano das citações ? não se pode cifrar tom de voz, inflexão e coloquialismo, rotineiramente homogeneizados em e-mails; e trocas espontâneas com as fontes ? fica difícil construir uma relação com fontes através do e-mail ou extrair deles dados em off.

Dito isso, Bugeja afirma que repórteres devem fazer entrevistas por e-mail apenas em determinadas situações, e contanto que tenham conhecimento da ética e da etiqueta envolvidas. Algumas fontes são evasivas, principalmente quando sondadas por jornalistas atrás de informações específicas ou verificação de um fato ou transação. Os repórteres que tentarem repetidamente marcar uma entrevista ao vivo ou por telefone com uma fonte essencial, podem ter de recorrer à entrevista por e-mail, mesmo que não gostem desse meio.

Alguns repórteres também podem querer fazer entrevistas por e-mail para matérias de pesquisa e sondagem. "Geralmente, se o assunto em questão ou o documento abordado é mais importante que as fontes que fornecem informações, uma entrevista por e-mail é prudente", disse Bugaje.

Ed Williams, professor de jornalismo da Universidade de Auburn, no Alabama, EUA, proíbe entrevistas por e-mail em suas aulas. "Trocar e-mails não é fazer jornalismo", disse. Mas até Williams reconhece que a ferramenta pode ser útil quando os repórteres estão pesquisando atitudes, práticas ou outros tópicos ligados a sondagem.

O e-mail também pode ser fundamental para tentar marcar uma entrevista ao vivo ou por telefone. Mas deve ser proibido em trabalhos investigativos, mesmo quando se está apenas pesquisando, porque o repórter pode perder o faro para uma entrevista exclusiva importante.

Bugaje concluiu em seu artigo que, antes de aderir a entrevistas por e-mail, os jornalistas devem perguntar "por quê?". Se o e-mail está sendo usado apenas por conveniência, deve ser trocado pelo método tradicional.