Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Reação politizada e corporativa

JORNALISTAS MORTOS

Alberto Dines

Ao caracterizar a morte dos três jornalistas em Bagdá no dia 8/4 como “assassinato deliberado”, as entidades jornalísticas ? uma delas brasileira ? a pretexto da dor, comoção e solidariedade, esqueceram que esta é uma profissão full-time e os deveres profissionais devem ter vigência total, sem lapsos, quaisquer que sejam os traumas.

Foram cometidas pelo menos duas infrações nos protestos em seguida às mortes que prejudicam a credibilidade daqueles que sob pretexto algum podem ceder às emoções e/ou engajamentos.

** Jornalista não acusa sem provas: assassinato (ou assassínio) é, antes de tudo, um grau de qualificação criminal. Matar é uma violência em qualquer circunstância, assassinar é mal maior com implicações morais e penais mais graves. Assassinato deliberado ou premeditado é denúncia capital, irrespondível, inafiançável. Acusação deste porte exige investigação e comprovação. Ainda mais quando vocalizada por jornalistas numa situação-limite em que são vítimas e testemunhas.

** As mortes de civis (homens, mulheres e crianças) nos mercados e casas de Bagdá por efeito de armas ditas inteligentes, embora em maior número não mereceram das entidades de jornalistas a mesma veemência. Nem aquelas famílias iraquianas metralhadas nos check points. Muito menos o comboio de milicianos curdos bombardeado por engano, o que resultou na morte de 18 deles. Muito menos a morte por “fogo amigo” dos soldados britânicos (mais de 20). Imperícia ou assassinato, estas sangueiras passaram em brancas nuvens ? não foram sentidas por aqueles que, supostamente, devem sentir tudo.

Elitismo, corporativismo ou algum outro “ismo” provocou esta manifestação sofrida e distorcida numa hora em que os jornalistas ? mais do que qualquer outro grupo ? devem mostrar seu distanciamento ideológico e seu compromisso com as causas da não-beligerância e da não-violência.