Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Redação em zona de risco

WALL STREET JOURNAL

Enquanto a mídia em geral lutava para cobrir o atentado ao World Trade Center, mantida pela polícia a grande distância, The Wall Street Journal viu-se praticamente no epicentro da tragédia. Como o jornal fica a quatro quarteirões do WTC, na Liberty Street 200, primeiro os funcionários tiveram que correr para salvar suas vidas. Depois, trataram de cobrir o impacto humano do desastre, deixando de lado as notícias financeiras.

Foi preciso coordenar repórteres trabalhando em casa por email, editores-executivos num prédio residencial em Manhattan e a produção improvisada em South Brunswick, Nova Jersey, onde a edição de Nova York é impressa ? local que também passou a abrigar a empresa-proprietária, Dow Jones Co. "Mal temos gente para fazer o jornal", disse Jim Pensiero, editor administrativo. A equipe deve ficar algumas semanas em Nova Jersey, só retornando à Liberty Street quando os engenheiros declararem o prédio seguro. "Há uma enorme quantidade de destroços lá, especialmente na redação", disse Goldstein.

Pela terceira vez na história do jornal, a capa ganhou manchete vazada de seis colunas. Antes, só o ataque a Pearl Harbor e o primeiro dia da Guerra do Golfo receberam tal tratamento. A primeira página incluía um relato pessoal do editor de Internacional John Bussey, que testemunhou o desmoronamento e contou o que viu à TV CNBC antes de se proteger dos destroços sob uma mesa na redação. Ele comparou a cena a Pompéia após a erupção do Vesúvio. A página do editorial incluiu vários outros informes pessoais. "Essa catástrofe ocorre uma vez na vida", disse Pensiero Seth Sutel, repórter de finanças da AP. "Como seres humanos ficamos abalados. Como seres humanos tivemos que cobrir."

Na noite de terça-feira, os editores conseguiram fechar o jornal com apenas uma hora de atraso. E apenas 150 mil exemplares não chegaram aos assinantes, dos 2 milhões impressos.

Felicity Barringer, do New York Times, foi a South Brunswick e apurou números um pouco diferentes: de 1,8 milhão de assinantes, o jornal alcançou 1,6 milhão na quarta-feira e 1,7 milhão na quinta. Para ela, uma façanha, já que os funcionários do WSJ foram retirados do prédio antes das 9h15, todo o sistema de computadores teve que ser recriado a quilômetros de distância e os editores escaparam de Manhattan por ruas cheias de destroços e pedaços de corpos, antes de poderem voltar ao trabalho.

Funcionários contaram à repórter que na barca rumo a Nova Jersey viram as torres desabarem enquanto pensavam nos colegas deixados para trás. James Pensiero, diz Felicity, foi um dos últimos a deixar a redação, expulso por um segurança quando enviava email à produção avisando que a equipe se reagruparia em South Brunswick, onde normalmente trabalham 1.500 pessoas ? a maioria das áreas de tecnologia e finanças, quase todos não-jornalistas. Improvisadas no porão, na própria terça-feira pequenas redações ganharam 100 computadores.

A material de Felicity termina em lágrimas e emoção. O chefe de redação, Paul Steiger, dado como desaparecido, estava bem e conseguiu se reunir aos quatro editores-executivos no apartamento de um deles no Upper East Side. Lá foi decidida a manchete em seis colunas: "Terroristas destroem World Trade Center, atingem o Pentágono e atacam em jatos seqüestrados" ? a versão de Steiger.

 

CIRCULAÇÃO

Para alguns leitores de Manhattan, foi difícil receber o jornal nos dias seguintes aos ataques. Para a empresa distribuidora Mitchell?s Newspaper Delivery foi, da mesma forma, difícil entregar jornais ? informa Paul D. Colford no New York Daily News (13/9/01). Aproximadamente 300 dos 400 entregadores da companhia, que atende a 45 mil clientes residenciais e comerciais, não conseguiram chegar ao trabalho, e a maioria dos que apareceram não pôde levar seus veículos ao local de distribuição, já que a polícia restringiu a circulação de carros.

A entrega também foi comprometida devido à falta de alguns jornais e aos atrasos causados pela inspeção policial dos caminhões que trazem os exemplares para Manhattan ? em alguns casos, a polícia não liberou a passagem. O Daily News, que geralmente é entregue à Mitchell?s às 3 da manhã, só chegou às 5h30. Seus caminhões atravessaram a ponte de Manhattan sob escolta policial. O Newsday não teve a mesma sorte: seus veículos foram barrados e 15 mil exemplares deixaram de chegar ao destino.

Segundo moradores, poucas bancas tinham os jornais entre 7h30 e 8h30. Mas a demanda era alta. Na Penn Station, um funcionário que voltou a encher as prateleiras vazias de jornais às 8h45, viu clientes se amontoarem para pegar exemplaress. O New York Times, cuja circulação diária supera 1 milhão de exemplares, dobrou a edição.

    
    
                     
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