Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Referencial do jornalismo humanista

MARISA RAJA GABAGLIA (1942-2003)

Silas Corrêa Leite (*)

Durante muitos anos, a estupenda jornalista e escritora Marisa Raja Gabaglia, do então Diário Popular, deu-nos o mimo de seu talento, de sua coragem, de seu dinamismo e vivacidade fora de série, quando podíamos, honrados, ler suas belas crônicas nesse jornal.

Toda altaneira, de primeira grandeza pela própria natureza, Marisa Raja Gabaglia nos passava enfoque novos, virtudes próprias, enfeitando as páginas do jornal com sua valentia de eterno amor à verdade, de querer ser feliz a qualquer preço, de querer uma nação convivendo em harmonia, buscando por um humanismo de resultados e um sentido coletivo de virtudes e honras.

Corajosa e limpa, verdadeira e transparente, às vezes enfrentou problemas nesse mundo cheio de interesseiros e de antros de escorpiões atarefados com a vaidade e o consumo sendo a tônica dos menos avisados, os chamados incautos das bandas dos contentes, como muito bem cantou o mestre Erasmo Carlos.

Mas, sendo ela mesma, a jornalista Marisa Raja Gabaglia enfrentou a tudo e a todos, tomou partido e posições, venceu medos e leviandades, e nos encorajou na luta por dias melhores, por um mundo melhor, por uma ética plural comunitária também de todos por todos.

Ausência sentida

Escritora de primeiro quilate, deixou nove livros, e agora esperamos que a sua editora relance todos, ou que corram atrás de seus apanhados gerais, seus diários, seus despojos, sempre dando um testemunho iluminado de vivências e pertencimentos femininos de qualidade acima da média.

A mãe, a amante, a profissional, em todas as situações, sempre era a mesma Marisa que fazia do jornalismo o seu palco iluminado, e assim foi estrela solitária de semear canteiros em nós, seus leitores-aprendizes, colhedores de seus campos de lavanda íntimos. Nunca haverá outra jornalista igual a Marisa Raja Gabaglia…

Agora que, nos seus bem vividos 61 anos, uma leucemia fatal a tirou do meio de nós, compreendemos essa magnífica coragem limpa dela, crendo que foi um farol novo, uma estrada de tijolos amarelos entre tantas semeaduras de angústias e destemperos.

Ela foi ela mesma. E quanto isso é difícil nesses tempos tenebrosos de muito ouro e pouco pão, em que uma neoliberal globalização amoral na verdade só globaliza a miséria por atacado. Repórter da TV Globo, atriz da novela Pigmaleão 70, colunista de jornal, escritora e amante da vida acima de tudo, Marisa Raja Gabaglia vai deixar saudade. O jornalismo que enfoca o humanismo vai perder um referencial.

Nós, os frilas, focas, repórteres e jornalistas com ou sem diploma, com ou sem registro no MTb, sentimos sua ausência e nos rendemos num pleito de reconhecimento e orgulho pela vida dela e pelo trabalho profissional de jornalista no sentido mais magnífico da palavra que enreda comunicação em todos as visões.

(*) Poeta, professor e jornalista, autor do e-book O rinoceronte de Clarice, no sítio <www.hotbook.com.br/int01scl.htm>