Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Regina Ribeiro

O POVO

"Nossos erros de cada dia", copyright O Povo, 14/7/02

"Ninguém pode imaginar um jornal sem erros, porque isso não existe. Aliás, nem jornal, nem qualquer outra atividade empresarial. O que existem são estratégias de qualidade para minimizar as possibilidades de erro e quando errar, ter meios de reparar os danos causados. No jornalismo é difícil mensurar como a correção de uma informação errônea ? seja em seções do tipo ?Erramos? ou por meio da legislação ? é recebida por um leitor que se sente prejudicado com tal informação. Também não se tem idéia de como o leitor interpreta a ausência da correção dos erros produzidos pelo jornal. O Povo tem um seção ?Erramos? para corrigir erros de informações, mas mesmo essa seção, às vezes, na visão de alguns leitores, parece ser ineficiente para garantir que equívocos sejam reparados. Por outro lado, a seção não é garantia de que os erros serão corrigidos. A seguir três exemplos.

Paris e Madrid na Itália

Um dos leitores que acharam insuficientes o ?Erramos? dado pelo O Povo, reclamou de uma tabela publicada pelo jornal no dia 27 de junho com a relação de todas as finais de Copa do Mundo. No quadro, a Copa de 1938 havia sido realizada na cidade de Paris, no país da Itália. Em 1982, a cidade de Madri sediou a final do campeonato, no país da Itália também. O leitor observou o erro, propôs que a tabela fosse republicada argumentando: ?eu acho esse erro grave porque mexe com a história do futebol, além disso essa informação vai para os arquivos e o jornal deveria republicar uma tabela correta?. A sugestão foi passada para Redação que corrigiu a informação no ?Erramos? na edição do dia seguinte, 28: Paris, na França; Madrid, na Espanha. O leitor, no entanto, voltou a ligar. ?Por que O Povo não fez a correção??, perguntou. Não adiantou explicar que o erro foi corrigido na seção específica. O leitor considerou um descaso do jornal, que erra e ainda guarda o erro para as gerações futuras.

Destruiu ou danificou?

No dia 3 de julho último O Povo deu a seguinte manchete: ?Avião cai e destrói casas?. A chamada da primeira página informou que um ?bimotor Aerocomander AC-50, prefixo KZD, da TAF caiu por volta das 16h30min na Aerolândia?. O texto afirma também que ?a aeronave chegou a arrastar o teto de seis casas na rua Joaquim Barroso…?. Internamente, na página 3, o abre da matéria disse que a queda da aeronave deixou ?seis casas destruídas?. No texto o leitor verifica que ?com a colisão, o teto de uma das seis casas desabou e o muro da outra caiu?. Continua o relato: ?a casa de número 258 foi atingida e o muro cedeu. A aeronave continuou arrastando os tetos e danificou o telhado da casa de Wilton Menescau, comerciário onde o bimotor parou para depois rodopiar. A casa vizinha sofreu pequenas avarias?. Um leitor chamou a atenção para o relato e a informação da ?destruição? de seis casas. ?Como é que houve destruição se a própria casa em que o avião parou está de pé, mesmo com a aeronave em cima? Não houve destruição alguma nesse caso. Os imóveis foram danificados, mas não destruídos?, afirmou o leitor. De acordo com o Novo Aurélio, destruir significa aniquilar, demolir, fazer desaparecer. Trocando em miúdos O Povo deu uma informação errada na manchete e no texto-abre introdutório da matéria. No dia seguinte, 4, não houve erramos. No entanto, na na repercussão do caso, a matéria deu tratamento correto ao acidente afirmando que a queda o bimotor ?avariou seis casas?.

CD com respostas comentadas

Uma leitora fez o seguinte relato: ?sou assinante do O Povo e comprei o CD do jornal com as 6.700 questões da UFC e Uece com respostas comentadas. Na hora da instalação do CD, o computador emperrou, acusava erros sucessivos, tentei várias vezes e achei que o problema era o computador. Depois fui comparar as informações do CD com um outro CD que eu recebi no curso Vestibular, também do O Povo e descobri que era o mesmo produto. E nesse CD não tem respostas comentadas, só tem o gabarito com as respostas. Eu lamento por isso porque me senti enganada pela propaganda que anunciava as respostas comentadas. Tentei me informar sobre isso nos telefones indicados, não consegui, por isso estou ligando para você?.

Só para esclarecer melhor, o CD que leva a marca O Povo foi várias vezes para a capa do jornal como anúncio publicitário. O CD leva também a marca da Fundação Demócrito Rocha, responsável pelo produto. Liguei para a Fundação e falei com três pessoas. Havia entre essas três pessoas uma certeza de que o CD era o mesmo que foi distribuído durante o curso de preparação para o Vestibular, sob a coordenação da Fundação e veiculado no ano passado. O erro teria sido engendrado na hora de passar as informações para a criação do anúncio. Não importa para o leitor quem criou o anúncio. O certo é que ele foi veiculado no O Povo várias vezes e induziu a muitos leitores à compra do CD. Quantas pessoas compraram esse CD achando que tinha as informações do anúncio e descobriram que as respostas não estavam comentadas? Liguei de volta para a leitora. De fato, ela tinha razão. O CD era o mesmo. O Povo e a Fundação Demócrito Rocha corrigiram o anúncio.

Ponto de debate

Tenho observado com muita atenção a leitura que os leitores do O Povo fazem dos erros do jornal. O discurso alterna entre a certeza de que o veículo tem interesse em corrigir os seus erros (a maioria), passando pela dúvida de alguns que consideram inútil o ?Erramos? depois do erro cometido (uma pequena parte), até outros que abusam da ironia e do descrédito para fazer a reclamação de um erro, mas esses representam um público mínimo.

O que dá para perceber sem nenhuma sombra de dúvida é que os erros constantes e sucessivos têm um impacto negativo na imagem de qualquer produto cultural, ou não, ainda mais se esses erros, algumas vezes, não são corrigidos a tempo e a contento passando, em alguns momentos, a idéia errada de que há uma banalização do erro. Isso é algo que deve ser encarado como ponto de reflexão.

Outro aspecto importante para o debate sobre o erro é verificar o seguinte: se houvesse, por parte do jornal, uma noção exata do que esses erros representam na vida das pessoas ? de forma real, incluindo o tempo gasto tentando solucionar problemas causados por informações erradas ? e valorizassem essa informação, é certeza de que a Empresa Jornalística O Povo concentraria todos os seus esforços em minimizar o máximo possível a incidência desses erros."