MÍDIA & NOVO GOVERNO
Chico Bruno (*)
Os primeiros 15 dias do novo governo foram cobertos pela mídia de forma burocrática. Pautada pela comunicação social do poder central, a mídia se limitou a ouvir apenas as fontes governamentais. Uma prova disso é que demorou mais de 72 horas para cair a ficha da imprensa no caso dos aviões, cuja licitação foi adiada para que o dinheiro fosse investido no programa Fome Zero, só que o dinheiro inexiste. Outro fato que reforça a tese foi a cobertura da Caravana da Fome, na qual a mídia demonstrou preguiça e desinteresse em aprofundar as matérias. Durante todo o evento a imprensa apenas ajudou a reforçar o discurso governamental.
Nenhum jornal, rádio, revista ou televisão se deu ao trabalho de pesquisar a história das localidades que a caravana percorreu. A mídia se ateve a divulgar apenas o momento da visita. A Globonews, inclusive, transmitiu ao vivo toda a peregrinação da comitiva. Quem conhece as localidades visitadas pelo presidente e seus ministros tem certeza da cobertura sofrível.
Brasília Teimosa, por exemplo, é uma invasão consolidada, com a mesma idade da capital federal. Hoje a localidade é um bairro do Recife, e não uma favela, como foi divulgado insistentemente. Neste bairro, que não foi mostrado pela imprensa, está uma favela de palafitas prestes de ser desativada, pois já estão prontas as casas para onde os moradores serão transferidos em maio.
Em Brasília Teimosa existe um comércio muito grande que em momento nenhum foi destacado. Outro fato marcante é que o lugar é um dos maiores redutos políticos do governador pernambucano Jarbas Vasconcelos, que vem recebendo atenção especial do prefeito do Recife, o petista João Paulo, candidato à reeleição em 2004.
Fato incomum
Ao escolher Teresina para a visita da Caravana da Fome, a Presidência da República escolheu um estado e uma capital governados por petistas. Este fato chamou a atenção de muita gente, mas foi desprezado pela imprensa, que tem conhecimento de que é Alagoas quem detém o pior Índice de Desenvolvimento Humano do país, portanto seria mais conveniente uma visita a este estado.
Havia muita coisa a ser abordada pela mídia, que infelizmente se limitou a uma cobertura pífia. Apenas registrou o fato. Em momento algum deu tratamento mais complexo aos objetivos reais da Caravana da Fome.
Ou a mídia brasileira desaprende a cada dia que passa o real sentido da imprensa ou os proprietários dos meios de comunicação estão se precavendo ante a abertura do cofre da comunicação social do governo, e não querem causar maiores problemas neste momento de expectativa, principalmente porque a chave do cofre está nas mãos de um ex-dirigente do Sindicato dos Bancários [Luiz Gushiken], o que é um fato incomum.
(*) Jornalista