Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Renata Lo Prete

GUERRA & TERRORISMO

"Terror muda a pauta do telejornalismo americano", copyright Folha de S. Paulo, 2/12/01

"Menos dietas e famosos. Mais geopolítica e bioterrorismo. De acordo com estudo recém-divulgado nos EUA, os atentados de 11 de setembro e seus desdobramentos provocaram mudança radical no cardápio de notícias oferecido ao telespectador.
Ainda que a inversão de prioridades fosse esperada, impressionam os números apurados pelo PEJ (Projeto de Excel&ecirecirc;ncia em Jornalismo), centro ligado à Universidade Columbia que já analisou coberturas como as do caso Monica Lewinsky e das eleições norte-americanas de 2000.
A pesquisa comparou duas semanas de junho e duas de outubro de programas jornalísticos das redes ABC, CBS e NBC.
Antes dos ataques, temas de comportamento, celebridades e crimes somavam mais de um terço do tempo dos telejornais nacionais noturnos. A participação do último item vinha aumentando, em contraste com o recuo nas taxas de violência do país.
As três rubricas despencaram na pauta de outubro. Reportagens sobre ginástica, emagrecimento, estilo de vida e assuntos afins caíram de 19,7% para 1%. Os 4,7% antes devotados às celebridades viraram quase nada. Crimes recuaram de 11,7% para 3,5%.
Em compensação, o tempo dedicado ao que se chama de ?hard news? cresceu 67%. Em junho, matérias sobre governo, militares, questões nacionais e política internacional não chegavam a ocupar metade dos telejornais noturnos. No segundo período analisado, saltaram para 80,2%.
Em seu relatório, os responsáveis pelo estudo observam que a nova composição ?lembra muito mais o jornalismo dos anos 70 do que o modelo consolidado ao longo da década passada?.
A mudança foi ainda mais gritante nos programas matutinos, em que os assuntos ditos sérios estavam perto de desaparecer.
?Good Morning America? (ABC), ?Early Show? (CBS) e ?Today? (NBC) são, em boa medida, veículos para promover a venda de utilidades domésticas, remédios, livros e vídeos.
A pesquisa mostra clara preferência de cada uma das redes por produtos de sua proprietária (como a ABC com os filmes da Disney). Apenas em 11% dos casos o telespectador é informado sobre a ?relação de parentesco?.
Em junho, descontados os intervalos comerciais, 33% do tempo desses programas foi utilizado para vender produtos. Quanto à divisão do bolo noticioso, três quartos ficaram com comportamento e celebridades.
Sob o impacto dos atentados, as manhãs televisivas iniciaram uma dieta de ?menos açúcar e mais cafeína?, na definição de Howard Kurtz, repórter e crítico de mídia do ?The Washington Post?.
Os 46,9% de reportagens sobre o que vestir, para onde viajar, como entrar em forma e fazer sobremesas minguaram para 12%. Histórias de famosos caíram pela metade. A participação de ?hard news? pulou de 6,9% para 58,1%. O efeito antraz quase triplicou as matérias de ciência.
Os autores rejeitam a idéia de que os números de junho estejam contaminados pelo fator verão, época em que o noticiário institucional costuma refluir. Com base em pesquisa anterior do PEJ, sustentam que o material exibido é típico de anos recentes.
Ao longo de duas décadas, o ?hard news? só fez perder espaço nos telejornais. Sua fatia encolheu 26 pontos percentuais entre 1977 e 1997. No mesmo período, a dos assuntos de comportamento cresceu 11,3 pontos, e a das celebridades, mais do que triplicou."

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"Audiência sobe, mas é cedo para cravar tendência", copyright Folha de S. Paulo, 2/12/01

Os responsáveis pelo estudo do PEJ (Projeto de Excelência em Jornalismo) ainda não se atrevem a prever longa vida para as modificações detectadas no noticiário das redes de televisão dos Estados Unidos em consequência dos atentados de 11 de setembro.
É cedo para tanto, afirmam. O avanço das reportagens de comportamento e celebridades, em detrimento do ?hard news?, é uma tendência em consolidação há pelo menos duas décadas.
Nada impede que, passada a atual fase da guerra contra o terrorismo, o cardápio dos telejornais retome composição semelhante à detectada nos programas de junho passado.
Os pesquisadores do centro arriscam, no máximo, duas especulações.
A primeira se baseia na comparação com o passado. Citam outros momentos da história, como o início dos anos 30, em que o jornalismo ficou mais ?sério? ao se deparar com um cenário econômica e politicamente adverso.
Conclusão um tanto óbvia do relatório: a permanência das mudanças ?vai depender menos dos jornalistas e mais da evolução dos acontecimentos?.
A segunda especulação diz respeito aos índices de audiência. O novo perfil dos programas tem chance de emplacar se for aprovado pelo público.
Este, pelo menos até o momento, reagiu de forma positiva. Em contraste com anos de declínio, os telejornais do início da noite registraram aumento de audiência no período entre 24 de setembro e 11 de novembro, de acordo com medição da Nielsen (15% na ABC, 9% na CBS e 7% na NBC).
Embora com números mais modestos, o desempenho dos programas matutinos também experimentou melhora. O estudo do PEJ observa que, coincidência ou não, a maior alta (8%) se deu no mais ?noticioso? dos três, o ?Good Morning America? (ABC).
Ressalva: já começam a aparecer sinais de desaquecimento dos ganhos de audiência.
Na dúvida, adverte o estudo, não se deve descartar a hipótese de que os telejornais ?tenham apenas mudado temporariamente de assunto, não modificado sua definição de notícia?."

"Merci aux journalistes", par Ismail Karimpour, copyright Le Monde, 23/11/01

"Et si on parlait d?un avenir souverain et prospère de l?Afghanistan, même si ce n?est pas encore dans l?air du temps ? Il y a près de vingt ans, à peine arrivé en France, j?ai participé à une émission de télévision de Bernard Langlois intitulée ?Résistances?. Avec mon groupe musical composé de jeunes Afghans amateurs de musique, nous avions chanté une chanson dont le titre était Tant qu?il y aura un Afghan vivra l?Afghanistan.

Alors que les Soviétiques étaient déjà entrés en Afghanistan, que l?opinion internationale avait parié sur la fin de la souveraineté de notre pays et de son existence, chanter, lire ou encore croire à un Afghanistan en l?an 2000 était une provocation. Cela ressemblait beaucoup plus à un v?u pieux teinté de mélancolie et de nostalgie qu?à une quelconque probabilité.

Aujourd?hui, nous sommes témoins de la libération de Kaboul, comme nous l?étions en 1992. A la différence près qu?aujourd?hui les médias sont là, et nous pensons que seule leur présence en Afghanistan empêche les ennemis de la liberté d?agir. Nous adressons à la presse, à l?ensemble des médias un grand merci : leur présence sur le terrain a joué et joue un rôle très important dans la compréhension des événements. Ce rôle a autant d?importance que le courage des Afghans eux-mêmes pour se débarrasser des talibans venus d?ailleurs.

La meilleure manière de servir l?intérêt des Afghans, de la coalition anti-talibans et des pays limitrophes était que Kaboul soit libérée par les Afghans eux-mêmes sans que ces derniers soient accompagnés médiatiquement par les Américains. Peu importe le jugement et les interprétations des experts en tout genre sur le pourquoi et le comment de la libération de Kaboul ; ce qui importe aujourd?hui ce sont les événements qui ont eu lieu et les images de Kaboul ô combien symboliques. Certes, ce sont les compagnons fidèles du défunt commandant Massoud qui ont libéré Kaboul, mais avant tout, ce sont tous les Afghans.

On entend ici et là qu?il fallait attendre pour entrer dans Kaboul, mais aujourd?hui personne ne discute et ne remet en cause la libération de la capitale par les Afghans.

Juste avant sa mort, le défunt commandant disait à ses compagnons : ?Sachez qu?il arrivera un jour où nous allons libérer notre pays. Lorsque vous atteindrez les portes de Kaboul, ville symbole, je vous ordonne de réfléchir aux souffrances de nos compatriotes, à nos erreurs du passé, et de vous consacrer autant à la libération de cette ville qu?au respect strict de la vie de la population, d?éviter que le sang ne coule et que les droits les plus élémentaires ne soient bafoués.?

Que l?histoire est cruelle ! Le jour de la libération de Kaboul, le commandant Massoud était déjà mort. Remercions un instant ses compagnons, qui semblent respecter son souhait.

A présent, ne cherchons pas à tout prix le sensationnel néfaste en nous étonnant de ne pas voir le désordre et en nous demandant sans cesse pourquoi il n?y a pas eu de pillages ou de règlements de comptes. J?ai bien peur qu?à force de les chercher, nous ne participions inconsciemment à les faire revivre. Cette fois-ci, la présence des médias vaut à elle seule autant, si ce n?est plus, que celle des forces internationales de la paix.

Avec leurs stylos, leurs caméras, leurs téléphones, les journalistes sont les vrais soldats de la paix. Qu?ils nous aident ! Qu?ils fassent en sorte que leur présence sur le terrain soit la plus longue possible ! N?oublions pas que le terrain fertile et idéal à toute sorte d?exactions, de pillages, en un mot à la barbarie, c?est l?isolement, la certitude de l?absence des journalistes. Peu importent la philosophie, les raisons et les nationalités de ceux qui empêchent ces derniers de faire leur travail, ce sont eux les vrais ennemis de la liberté.

A présent, osons regarder l?avenir sereinement et méditons un instant sur cette phrase de Zoroastre qui disait à ses disciples : ?Regardez la graine tombée par terre si bas ; observez comment, dans sa solitude absolue, elle devient capable de déchirer l?obscurité de la terre pour donner une vie nouvelle et atteindre la lumière éternelle.?

Bien malin celui qui saurait dire ce qui va se passer demain aux Etats-Unis, en Afghanistan ou ailleurs, mais réjouissons-nous un instant du retour de la musique après cinq ans d?absence dans un pays riche de plus de cinq mille ans d?histoire. Patience ! Un autre vent de liberté viendra certainement faire danser la burqa pour l?enlever du visage de nos femmes et l?emporter aux terres lointaines de l?oubli.

Peu importe qui est à l?origine des débâcles des talibans. Réjouissons-nous de leur déroute, si improbable il y a peu de temps encore. Réjouissons-nous que l?aide humanitaire puisse enfin arriver dans ce pays où le peuple commençait à oublier la notion de solidarité internationale.

Peu importe si certains ont refusé d?admettre que c?est en Afghanistan que le totalitarisme avait été ébranlé pour la première fois dans son histoire, ce qui l?amena à sa chute. Peu importe si, demain, on refuse d?accepter que les premières victimes du terrorisme international étaient les Afghans avant les autres. Oublions que le monde a observé une minute de silence à la mémoire des 5 000 victimes des attentats du 11 septembre et non à la mémoire des 5 001 victimes des attentats du 11 et du 9 septembre : le commandant Massoud a lui aussi été victime de ces attentats.

Nous, les Afghans, nous allons garder en mémoire que, dans notre pays, des journalistes ont donné leur vie. Car les Afghans savent ce qu?est donner la vie pour sa propre liberté et encore plus pour celle des autres."